Festival Sumol Summer Fest
Ericeira
24-25 Jun 2011
Às sete da tarde, com o calor que fazia, as praias em redor ainda deviam estar à pinha. Assim, foi possível curtir bem de perto um dos melhores concertos do Summer Fest. Cacique´97 marcou a diferença: afrobeat com um pé em Lisboa e outro em África. A banda de João Gomes e Francisco Rebelo (seguramente, um dos melhores baixistas nacionais) põe o ainda escasso público a dançar com o corpo todo em “Come From Nigeria”, “American Cop” ou “Chapa 97”, temas com sopros e balanço em chamas do início ao fim. A Richie Campbell não se poderão apontar grandes falhas técnicas, mas falta-lhe verdade para convencer os fãs de reggae autêntico. A plateia não parece concordar – ou importar-se – com isso: Richie começa por perguntar quem veio para ver as outras bandas do dia, uma por uma; deixa o seu nome para o fim e vêem-se muitos braços no ar. Entre os seus temas, como “911” ou “Blame It On Me”, o rapaz que de seguida iria acompanhar Anthony B pela Europa ainda trocou piropos com o “rapper mais rápido de Portugal” (não percebi o nome dele nem as palavras que disparou como se não houvesse amanhã), que retribuiu afirmando que Richie é o melhor vocalista de reggae português… e que vai ser um dos maiores da Europa.

Cacique´97 © Mauro Mota


Donavon Frankenreiter © Mauro Mota

A seguir, Natiruts e Donavon Frankenreiter deram concertos mais indicados para fim de dia do que para início de noite. Os brasileiros trouxeram um reggae delicodoce, bom para os casais trocarem beijos apaixonados ao som de temas como “Quero Ser Feliz Também”, “Beija Flor” ou “Liberdade Pra Dentro da Cabeça”, que fechou o set. Já o surfista de bigode farfalhudo condimentou a sua surf music com pouco sal, apenas quebrando o ramerrão em temas como “Move By Yourself” ou “It Don´t Matter”, borrifados por harmónica, cadências blues e riffs que se espraiaram como vagas à beira-mar.

Natiruts © Mauro Mota

As últimas gotas do Sumol repuseram as energias dos presentes. Logo em “Good Cop Bad Cop”, Anthony B percorre o palco em saltos de gafanhoto. Está de fato-de-treino escuro, gorro e bengala; podia ser um artista hip hop, mas o sangue jamaicano não engana. A tradição do reggae corre-lhe nas veias, e as artérias bombeiam sangue novo para todas as partes dos corpos que dançam ao sabor de dancehall ou ragga. Dirige a orquestra com gestos de maestro-profeta, em momentos de higher meditation. Apenas ”Living My Life” destoa, sendo candidata putativa a hino de campeonato mundial de futebol. De resto, terá sido um dos melhores concertos que já passaram pelo Summer Fest. O festival terminou com DJ Ride – muito bem acompanhado por Stereossauro e Sagas – na tenda electrónica. Drum n´ bass (“I Need a Dollar” ou “Hit the Road Jack”, em versões remisturadas), medley de hip hop e muito dubstep a fazer os corpos transpirados tremer com sucessivas ondas sonoras. O público estava ao rubro quando Ride, após escolha democrática, terminou a sessão com “Killing in the Name”, de Rage Against the Machine. No fim, ninguém tinha vontade de ir para casa, o que é bom sinal.

Richie Campbell © Mauro Mota


Anthony B © Mauro Mota
· 28 Jun 2011 · 01:58 ·
Hugo Rocha Pereira
hrochapereira@bodyspace.net

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