ETC.
LIVRO
Provas de Contacto
João Lisboa
· 14 Nov 2003 · 08:00 ·
Provas de Contacto
João Lisboa
1998
AssÃrio & Alvim
João Lisboa
1998
AssÃrio & Alvim
Provas de Contacto
João Lisboa
1998
AssÃrio & Alvim
João Lisboa
1998
AssÃrio & Alvim
Sobre o fundo castanho da capa de Provas de Contacto é-nos facilmente possÃvel descortinar, em manchas cor-de-laranja, nomes como os de Leonard Cohen, Tom Waits, Lou Reed, John Cale, Caetano Veloso, Marianne Faithfull, David Byrne, Laurie Anderson, David Bowie, REM, Suzanne Vega, Divine Comedy, Björk, Nick Cave, PJ Harvey, Tricky, Portishead, entre outros. Nem por acaso, nomes de artistas que contribuÃram relevantemente, na maioria dos casos, para a elucidação de um conceito muitas vezes caÃdo em embaraço explicativo: o de cultura pop. Dos anos 60 aos 90, cada um à sua maneira e no seu tempo, construiu carreiras marcadas pela diferença criativa e pelo poder de influência, dentro ou fora da pop, mas sempre com algo a dizer sobre ela. Esta será porventura a primeira constatação a reter da leitura deste livro.
Provas de Contacto é - para quem ainda não o sabe - uma compilação de entrevistas e textos da autoria de João Lisboa - jornalista do Expresso – que nos oferece a bela oportunidade de desfrutar de surpreendentes e estimulantes contactos – estabelecidos entre 1988 e 1998 - com os artistas mencionados acima e com outros mais. A propósito destas conexões, Lisboa conta na introdução ao seu livro que «apavorava-me a ideia de, ao simples contacto com aquelas figuras que eu venerava, elas se transformarem em meros seres vulgares, irremediavelmente despidos das qualidades por que eu as admirava». Mais à frente refere que este seu receio era descabido e que não trocaria por nada algumas das conversas que teve com Leonard Cohen e Laurie Anderson, a tÃtulo de exemplo.
Palavras do compilador à parte, o que faz de Provas de Contacto um livro realmente relevante e merecedor de uma ou de mais leituras? Tirando um caso ou outro, poder-se-ão desvendar, neste monumento quase singular em Portugal, interessantÃssimas conversas que tem de tudo menos de formalidade ou banalidade no contacto. Existe substância que impulsiona o leitor para a reflexão, porque o que existe, de facto, para discorrer sobre música e sobre as suas entrelinhas não é assim tão redutor como se possa pensar. Pelo menos, entrevistados e entrevistador fazem-no crer. Os textos, esses, vão muito além do mero discurso que descreve determinada actuação de determinado artista de forma simplista. Representam, antes, obras de uma criatividade atroz, que vem refutar toda e qualquer hipótese de negação do exercÃcio da criatividade e da originalidade enquanto condição necessária ao reconhecimento do jornalismo musical como expressão artÃstica. Pode-se criar arte sobre a arte e, de um certo modo, João Lisboa consegue-o distintivamente.
Do sumo de ideias em resposta, o que de mais estimulante se poderá encontrar em Provas de Contacto? Entre muitas outras, as considerações de Tom Waits sobre a sua participação no filme Na Pele do Urso, de Eduardo Guedes, através das quais ficamos a saber que «sempre que faz falta alguém para o papel de bêbado ou vagabundo, vêm-me bater à porta»; os motivos que ligam, tão fortemente, Caetano Veloso a Agostinho da Silva; a declaração de Marianne Faithfull que põe em causa a possibilidade de ter uma só voz e de ser de boas famÃlias, quando o seu tio-bisavô é, de facto, Leopold Sacher-Masoch; a confissão surpreendente (ou talvez não) de David Bowie sobre a sua colaboração em Fire Walk With Me de David Lynch ou a sua previsão do futuro dos Suede; a definição de pop segundo Björk e o seu assumido desprezo por Beethoven, Bach e Mozart; a conversa com Geoff Barrow em torno do último e longÃnquo álbum dos Portishead; Kim Gordon a mostrar o seu mau génio; o olhar atento de Suzanne Vega sobre a música contemporânea; ou, por exemplo, as ligações de Laurie Anderson ao budismo. Dos textos corridos, destaquem-se os textos sobre os Pulp («Pulp Fiction»), Patti Smith («Celebrar a Palavra»), PJ Harvey («Cantos do Corpo Eléctrico») ou Divine Comedy («Imaculada Conceição»).
Na sua essência, «Provas de Contacto» é um sábio e estimulante manancial de referências da e à cultura pop das últimas décadas do século XX e que, pela singularidade que emana, jamais merece cair no esquecimento ou no desprezo de quem se interessa por música. Fica levantado o véu...
Tiago CarvalhoProvas de Contacto é - para quem ainda não o sabe - uma compilação de entrevistas e textos da autoria de João Lisboa - jornalista do Expresso – que nos oferece a bela oportunidade de desfrutar de surpreendentes e estimulantes contactos – estabelecidos entre 1988 e 1998 - com os artistas mencionados acima e com outros mais. A propósito destas conexões, Lisboa conta na introdução ao seu livro que «apavorava-me a ideia de, ao simples contacto com aquelas figuras que eu venerava, elas se transformarem em meros seres vulgares, irremediavelmente despidos das qualidades por que eu as admirava». Mais à frente refere que este seu receio era descabido e que não trocaria por nada algumas das conversas que teve com Leonard Cohen e Laurie Anderson, a tÃtulo de exemplo.
Palavras do compilador à parte, o que faz de Provas de Contacto um livro realmente relevante e merecedor de uma ou de mais leituras? Tirando um caso ou outro, poder-se-ão desvendar, neste monumento quase singular em Portugal, interessantÃssimas conversas que tem de tudo menos de formalidade ou banalidade no contacto. Existe substância que impulsiona o leitor para a reflexão, porque o que existe, de facto, para discorrer sobre música e sobre as suas entrelinhas não é assim tão redutor como se possa pensar. Pelo menos, entrevistados e entrevistador fazem-no crer. Os textos, esses, vão muito além do mero discurso que descreve determinada actuação de determinado artista de forma simplista. Representam, antes, obras de uma criatividade atroz, que vem refutar toda e qualquer hipótese de negação do exercÃcio da criatividade e da originalidade enquanto condição necessária ao reconhecimento do jornalismo musical como expressão artÃstica. Pode-se criar arte sobre a arte e, de um certo modo, João Lisboa consegue-o distintivamente.
Do sumo de ideias em resposta, o que de mais estimulante se poderá encontrar em Provas de Contacto? Entre muitas outras, as considerações de Tom Waits sobre a sua participação no filme Na Pele do Urso, de Eduardo Guedes, através das quais ficamos a saber que «sempre que faz falta alguém para o papel de bêbado ou vagabundo, vêm-me bater à porta»; os motivos que ligam, tão fortemente, Caetano Veloso a Agostinho da Silva; a declaração de Marianne Faithfull que põe em causa a possibilidade de ter uma só voz e de ser de boas famÃlias, quando o seu tio-bisavô é, de facto, Leopold Sacher-Masoch; a confissão surpreendente (ou talvez não) de David Bowie sobre a sua colaboração em Fire Walk With Me de David Lynch ou a sua previsão do futuro dos Suede; a definição de pop segundo Björk e o seu assumido desprezo por Beethoven, Bach e Mozart; a conversa com Geoff Barrow em torno do último e longÃnquo álbum dos Portishead; Kim Gordon a mostrar o seu mau génio; o olhar atento de Suzanne Vega sobre a música contemporânea; ou, por exemplo, as ligações de Laurie Anderson ao budismo. Dos textos corridos, destaquem-se os textos sobre os Pulp («Pulp Fiction»), Patti Smith («Celebrar a Palavra»), PJ Harvey («Cantos do Corpo Eléctrico») ou Divine Comedy («Imaculada Conceição»).
Na sua essência, «Provas de Contacto» é um sábio e estimulante manancial de referências da e à cultura pop das últimas décadas do século XX e que, pela singularidade que emana, jamais merece cair no esquecimento ou no desprezo de quem se interessa por música. Fica levantado o véu...
tcarvalho@esec.pt
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