DISCOS
Nat Baldwin
Lights Out
· 01 Fev 2006 · 08:00 ·
Nat Baldwin
Lights Out
2005
Broken Sparrow


Sítios oficiais:
- Broken Sparrow
Nat Baldwin
Lights Out
2005
Broken Sparrow


Sítios oficiais:
- Broken Sparrow
Ao início pensamos estar perante Andrew Bird e as suas canções misteriosas de embalar, mas não. Nada disso. São ambos americanos, ambos fazem canções e ambos utilizam instrumentos de cordas. Mas se o autor de The Mysterious Production of Eggs encaixa a sua voz nas maravilhas do violino, Nat Baldwin confia no contrabaixo (com alguns overdubs claro está) para passar a sua mensagem. Nat Baldwin é um senhor que deixou a escola para tocar com improvisadores que estudavam com Anthony Braxton. Desde então trabalhou com nomes como Lavender, Jessica Pavone, Matthew Welch, Jeremy Starpoli e Ben Karetnick e o pianista Dan St. Clair. Em 2002 lançou – pela Peacock Recordings – Solo Contrabass mas começou a escrever canções e a cantar no Verão de 2004. E Lights Out é o resultado dessa mudança de direcção; uma mudança de um homem só.

Aqui não estará inteiramente sozinho pois conta com a participação de Sam Rosen (o produtor do disco) e Juliet Nelson nas vozes num par de temas, mas quase nem damos por isso. Lights Out, gravado em Janeiro de 2005 (e primeiramente editado em CD-R), é, acima de tudo, um disco a solo, o esforço de um só homem, de um homem só. Um esforço que nas melhores alturas impressiona; especialmente por não ser muito comum a união entre a voz e o contrabaixo, ainda por cima na criação de canções. Ao que parece, há um par de anos atrás, Nat Baldwin parou de tocar música e sentiu-se confuso em relação à direcção que deveria tomar. E foi aí que se virou para as canções. Os momentos de dúvida não terão sido em vão com certeza, pois a inspiração não o atraiçoou totalmente. “Wake up It’s time to rise” funciona como uma espécie de introdução do tema a tratar mas é mesmo com o par “Control” e “Alone” que Nat Baldwin atinge níveis de intensidade admiráveis. Apesar de expelirem um pouco mais de agitação que as outras, ambos os temas respeitam o silêncio inicial de onde partiram. E isso é um dos trunfos mais fortes de Nat Baldwin – em todo o disco.

São poucas canções (oito temas que perfazem menos de 25 minutos no total), mas as que se aqui perfilam em Lights Out são emotivas, de prego a fundo no intimismo e na crueza. Emotividade essa expressa tanto na forma como maneja o contrabaixo mas também na forma a sua voz surge em disco, limpa e aparentemente sem quaisquer efeitos – pode-se mesmo sentir o respirar de Nat Baldwin, o recuperar do fôlego para a próxima investida. No entanto, os dois últimos temas de Lights Out acabam por parecer a mais. Não pela repetição, entenda-se. Na verdade, e parece algo estranho dizê-lo, a repetição da fórmula sugerida por Nat Baldwin resulta especialmente bem. É mais pela desinspiração de “These days are best” e “Only in my dreams”, temas bem abaixo dos restantes. Mas apesar dessa parte menos excitante, Lights Out merece uma audição atenta. De preferência num local onde o silêncio marque imperativa presença.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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