DISCOS
TG Mauss
Mechanical Eye
· 14 Jan 2006 · 08:00 ·
TG Mauss
Mechanical Eye
2005
Quatermass / Flur


Sítios oficiais:
- Quatermass
- Flur
TG Mauss
Mechanical Eye
2005
Quatermass / Flur


Sítios oficiais:
- Quatermass
- Flur
Aos poucos, inverte-se a marcha ao preço que um nostálgico paga para ter em casa uma consola de jogos vintage. A ninharia - que há dez anos se pagava por uma Atari 2600 ou pela lendária 8-bits da Nintendo – vai sendo insuflada conforme um maior número de consolas clássicas se tornam inutilizadas por excesso de uso ou falta dele. Numa era em que a nudez da Paris Hilton se encontra à distância de uma pesquisa no Google, há sempre quem opte por contrariar esse imediatismo e faça da branda ingenuidade um novo Graal. Além disso, 2005 foi um ano abundante em discos que incitam a que se revisite a puerilidade das papas Nestum e mergulhos reveladores. Mechanical Eye impele a usar uma parra de uva como cuecas e a uma rendição incondicional aos prazeres da comida macrobiótica.

A ingenuidade, aliás, era característica comum aos primeiros jogos concebidos para as consolas mencionadas. Numa altura em que era mais determinante a jogabilidade que o grafismo, ocupava-se a imaginação de atribuir um aspecto horrendo a um suposto dragão, que não era mais que um tosco amontoado de pixeis. Assim funciona Mechanical Eye: circunscreve-se aos recursos de que necessita para moldar uma reinventada Floresta Esmeralda, onde se sucede a improvável coexistência entre o minimalismo da Kompakt e a ludoterapia a pilhas que conhecemos aos últimos discos da Variz. Acabam os elementos mais orgânicos (guitarra, xilofone e outros mais) por mineralizar o habitat com lanosos acrescentos acústicos. Temos lounge naturista e espiritual, electrónica amazónica ideal para Bodyshops (a escuta caseira torna-se automaticamente escapista).

A recente ameaça de gripe das aves fez ponderar se “Pássaros do Sul”, o ultra-pachorrento sucesso de Mafalda Veiga, mereceria ou não ser abolido das ondas hertzianas geradas por emissoras portuguesas. Mechanical Eye serena a paranóia que a cantora lisboeta possa indirectamente ter semeado e devolve às pessoas o gosto pelo convívio com pardais e piriquitos. A máxima “Da Vinciana” ganha uma variante: “Quanto mais sei sobre as capacidades da electrónica de ponta, mais procuro a sua animalidade básica”. Não é de estranhar tal coisa de alguém que provém de Nova Iorque. A demanda que norteia TG Mauss – metade dos Tonetraeger – insere-o na tradição da última geração de músicos sedeados na Big Apple que procuram na música essa aproximação da natureza. Como se ensaiassem através disso uma simulação virtual que lhes permita encurtar a distância que os separa dos bichos realmente selvagens. TG Mauss renega a uma produção de calibre Dr. Dre e a toda a grandiosidade que pode proporcionar um laptop, limitando-se a que a electrónica sirva como protecção capilar para a guitarra e voz, que, na ausência dos elementos periféricos, surgiriam sobreexpostas ao habitat hóstil.

Mechanical Eye recua ao tempo dos jogos em que o protagonista não necessitava de uma arma para superar adversidades e escalar os níveis (caso de clássicos como Pitfall II ou Donkey Kong). Bastava um salto para evitar um escorpião letal, tal como basta a Mechanical Eye os meios minimalistas de que dispõe e que gere em contenção de recursos. Tornando-se assim um daqueles discos que triunfa para com o seu umbigo insular, mas que nem sempre resulta a céu aberto. O milagre do rejuvenescimento exige um pacto.

Notícia de última hora adiantada pela agência Reuters: as acções da Chicco e Jesmar acabaram de subir. Deve-se a inesperada subida a um relatório avançado por Torsten Mauss que devolve optimismo ao mercado da electrónica adaptável aos gostos de crianças para quem já nem tudo tanto lhes faz. Aconselha-se investimento adequado à disposição de cada um.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

Parceiros