DISCOS
Monosov Swirnoff
Seven Recorded Works (Volume 1)
· 23 Ago 2005 · 08:00 ·
Monosov Swirnoff
Seven Recorded Works (Volume 1)
2005
Eclipse


Sítios oficiais:
- Eclipse
Monosov Swirnoff
Seven Recorded Works (Volume 1)
2005
Eclipse


Sítios oficiais:
- Eclipse
Seven Recorded Works é o primeiro de dois volumes que resultaram da reunião de Ilya Monosov e Preston Swirnoff, os californianos que são ao mesmo tempo compositores, improvisadores e artistas do som. Editado na Eclipse Records em formato vinil, e limitado a apenas 500 cópias, Seven Recorded Works é de uma beleza quase catastrófica, tamanha é a escuridão que em si concentra, tamanha é a noção de um espaço negro e quase indefinível onde os dois músicos se orientam para criar estas sete peças. Se por um lado Preston Swirnoff toma conta das operações no que diz respeito ao piano (instrumento que guia a maior parte das composições deste disco) e ao órgão, Ilya Monosov, por sua vez, oferece precioso contributo no hurdy gurdy e na harmónica, mas é na soma de todas as partes que está o ganho. As partes que estabelecem, por via da improvisação, uma espécie de sensação de infinito, de perturbação do silêncio e de desafio do estado normal das coisas num qualquer dia de temporal ameaçador.

Seven Recorded Works é essencialmente um exercício cerebral, uma viagem radiográfica pelas regiões mais obscuras das mentes dos dois criadores - um cenário que vai em tudo contra aquilo que costumamos associar a um local como Califórnia. Parece até que ambos se digladiam por vezes, como que puxando para si papel fulcral na condução da alienação. O piano de Preston Swirnoff é um daqueles das casas abandonadas e assombradas, criador de cenários de quase terror, de suspense, de demência. Parece quase tocar-se por si mesmo, ora mais áspero, ora mais tranquilo. Parece ser o primeiro elemento a assombrar a tal casa, e o último a pôr fim ao desassossego. Há criaturas que se passeiam por essa casa, sem rumo, dedicando meticulosamente o tempo à loucura. É por isso perfeitamente normal que as composições que aqui se erigem sejam de fio da navalha, de incomensurável seriedade e do lado A para o lado B tudo de torna ainda mais arriscado, mais tenebroso e misterioso. Como eles próprios dizem (mais concretamente Ilya Monosov), aqui procuram-se novos modelos para aquilo que as pessoas chamam de canção.

Por vezes parece que Preston Swirnoff se dedica e se assemelha ao excêntrico Eric Satie (que exerceu enorme influência sobre os seus contemporâneos e continua a exercer nos dias de hoje), outras vezes parece que este Seven Recorded Works é uma banda sonora para um filme de terror para o qual se planeia desde já sequela. E de facto existe mesmo. E comparativamente com o segundo volume (igualmente editado na Eclipse Records), este trabalho é muito mais o resultado de improvisação, resposta a estímulos e a instintos provenientes do subconsciente. Por isso não admira que o resultado seja tão fascinante quanto assustador. E talvez esse segundo volume (intitulado Two Recorded Works - igualmente limitado a 500 cópias - onde o segundo lado é creditado ao grupo de rock de Monosov e Swirnoff) seja a peça fundamental para que se compreenda o enigma que este Seven Recorded Works retira do baú dourado. Um baú de uma casa onde as criaturas se misturam com a música, e a música se confunde com os espaços vazios e com o medo na mais negra das noites do ano.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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