DISCOS
Beatriz Nunes
Canto Primeiro
· 20 Jun 2018 · 21:41 ·
Beatriz Nunes
Canto Primeiro
Sintoma


Sítios oficiais:
- Beatriz Nunes
Beatriz Nunes
Canto Primeiro
Sintoma


Sítios oficiais:
- Beatriz Nunes
Essa voz.
A cantora Beatriz Nunes acaba de editar o seu primeiro disco e já conseguiu conquistar o seu espaço. É verdade que não é propriamente uma novata, deu a voz aos Madredeus desde 2011 (com a difícil tarefa de substituir a icónica Teresa Salgueiro), colaborou em projetos de Afonso Pais (“Terra Concreta”, 2013) e Tiago Sousa (“Coro das Vontades”, 2014) e participou no disco de estreia dos The Rite of Trio, entre outros.

Neste seu disco de estreia, apropriadamente intitulado “Canto Primeiro”, a cantora apresenta uma música de raiz assumidamente portuguesa, assente sobre uma configuração jazz. Assumindo essa veia portuguesa, além de muita música original, há a revisitação de um tema de José Afonso (“Canção da Paciência”) e um arranjo para um tema tradicional alentejano (“Aurora tem um menino”).

A voz de Beatriz combina doçura e segurança e, sem espalhafato, desenvolve uma música elegante. Além da qualidade técnica vocal evidente, a também compositora apresenta um conjunto de temas originais muito interessantes, que globalmente partilham uma certa ideia - também harmónica - de portugalidade.

Instrumentalmente, a cantora está apoiada por uma equipa sólida: Luís Barrigas (piano), Mário Franco (contrabaixo) e Jorge Moniz (bateria), como base fixa. Todos músicos de nome consolidado na cena jazz nacional, são todos músicos com discos editados em nome próprio, e aqui fornecem uma base musical segura. Juntam-se pontualmente outros músicos: a guitarra de Afonso Pais num tema, a flauta de Tiago Canto em dois temas e um quarteto de cordas em mais três canções.

Depois de abrir o disco com as palavras de “Andorinhas”, segue-se um tema cantado sem palavras ("Ouroboros"), que revela a versatilidade da cantora, aqui a explorar mais claramente a sua faceta jazzística. Ao terceiro tema começamos por ouvir uma introdução de cordas, abrindo espaço para a interpretação de um tema tradicional (o já referido “Aurora...”), aqui abrilhantado pelo acrescento das cordas. E um dos momentos mais especiais do disco é o quase-duo da voz de Beatriz com a guitarra de Afonso Pais, numa interpretação delicada de uma canção onde a música original de Afonso se cola ao poema de Ângelo de Lima (“Para-me de repente o pensamento”).

Neste álbum de estreia muito sólido, Beatriz Nunes não exibe apenas a qualidade vocal, mas afirma-se também como compositora, num original mundo sonoro que abraça o jazz, a herança portuguesa e o classicismo das cordas.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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