Precisamos urgentemente de respirar. O ar está poluído com camadas e camadas de petróleo, o gelo no Árctico e na Antárctida derrete-se e evapora em tons de plástico, as cidades desabam sobre o seu próprio betão. A informação corre desgraçada pelas tecnologias mais recentes e a guerra parece estar sempre a um milímetro de distância, bastando que alguém acorde mal um dia. Fala-se de muita coisa supérflua, discute-se o que o é ainda mais. Os pulmões desistem e retraem-se.

O que os Gray Acres, dupla formada pelos irmãos gémeos Andrew e Michael Tasselmyer, nos oferecem é uma hora de oxigénio, um balão em formato ambient para que nos possamos agarrar à vida sem receios. Uma pausa da vida moderna, do grande capital: apenas o bucolismo dos campos e do sonho, uma lareira acesa numa noite de inverno, todas essas imagens que cobiçamos como pão para a boca. Um balão puro que não pretende aterrar nunca; apenas vaguear sem sentido, porque por vezes só a falta de sentido faz sentido.

Saímos de Gray Acres mais refrescados, mesmo que tristes porque depois disto voltará a azáfama do dia-a-dia. Uma tristeza assumida, mas fugaz, porque também sabemos que teremos sempre este álbum - uma hora de tons delicados, drones suaves e melodias a verter memória por cada canto. Temos "Return To Self" e "The Maps They Held" a ajudar-nos a adormecer. Temos um paraíso, seja ele uma cidade abandonada, uma ilha deserta ou uma planície isolada à distância de uma escuta. Temo-nos a nós próprios, submergidos apenas na música e no silêncio. Bem haja.