Não é a primeira vez que Raoul Van Der Weide, holandês nascido em 1949 e com um currículo impressionante no campo do jazz e da improvisação (já tocou com nomes como Han Bennink, Lol Coxhill, Steve Lacy e Derek Bailey) e Gonçalo Almeida, português radicado em Roterdão (e que para além de ter tocado com Balázs Pándi, Carlos Zíngaro ou Rodrigo Amado é uma das peças dos Albatre), colaboram juntos. Depois de Earcinema, álbum editado em 2015, os dois contrabaixistas voltam a juntar-se em 8 Pictures, que como o título indica é um conjunto de oito peças no qual os seus instrumentos têm evidente proeminência.

Choque: é o que se sente logo ao primeiro tema, que começa sem medos e sem avisos. Porque 8 Pictures pode ser apresentado como uma colecção de imagens, mas estas, descritas pelo som, sentem-se e vibram. Mesmo que o álbum se divida em oito fatias, a soma de todas as partes resulta num filme vivaço e complexo, cujo ponto de partida pode ser escolhido aleatoriamente pelo espectador, e onde a narrativa é uma de duelo mas também de conluio.

Culpa de ambos os músicos, cuja técnica despoleta esse paradoxo ao longo de todo o álbum. O som grave das cordas, os dedos a bater-lhes, o ranger do arco usado, transmitem ao mesmo tempo uma sensação de comunhão e de rivalidade - como se um não quisesse entregar o palco a outro. O resultado é um disco - e uma exposição de arte - idiossincráticos q.b. para espicaçar a curiosidade de todos os interessados em improvisação e música livre.