DISCOS
First Breath After Coma
Drifter
· 11 Mai 2016 · 22:47 ·
First Breath After Coma
Drifter
2016
Omnichord


Sítios oficiais:
- First Breath After Coma
- Omnichord
First Breath After Coma
Drifter
2016
Omnichord


Sítios oficiais:
- First Breath After Coma
- Omnichord
When the first beat skips, the second come stronger.
Após despertarem de um comatoso estado de criatividade com The Misadventures Of Anthony Knivet, os First Breath After Coma agarraram-se à vida e de que maneira…

2016 chegou e um grito pungente vindo das entranhas do ser ecoou. Foi Drifer que se ouviu. 12 músicas (uma bónus-track) cinemáticas, doze trechos de um argumento milimetricamente preparado e arranjado, doze poemas à procura de histórias que concluam a sua, a de Drifter dizemos, história e que história.

Situemo-nos no território de Hayo Myazaki. Príncipe do cinema de animação japonês e guardião do insofismavelmente magnificente “Princesa Mononoke”, Hayo criou, no filme referido, paisagens a que só sonho tem acesso. Magistrais, imperiais, profundas e épicas, tão épicas como uma Odisseia de Ulisses ou Drifter, “O Álbum”.

Se, na primeira audição, nos arrebataram da sonolência de uma Primavera pintada a cinzento chuva com uma “Salty Eyes” embrulhada numa voz que cavalga o silêncio montada numa folha de papel retirada de um livro de guitarras a atirar para o infinito. Há tragédia, há beleza, há música em plenitude…”Salty eyes, cry no longer. Listen to your mother. When the first beat skips, second becomes stronger”…

Muda-se a agulha em direcção ao segundo single, de seu nome “Umbrae”, aqui o épico da loucura atinge proporções bíblicas com um Noiserv de “fazer chorar as pedras da calçada” acompanhado pelo piano dos suspiros e um “coro grego” colossal no trabalho de atirar com a música para a eteriedade. E isto é bom, isto é muito bom e seria, já de si, o que de melhor Portugal ouviu este ano, caso não existisse a sétima música.

Abrimos um parêntesis para falarmos da electrónica utilizada ao longo de todo este Drifter, uma deriva como os próprios explicam, mas uma deriva com leme, sabendo o que se quer. Aqui, as potencialidades dos programas são tratadas com mãos de ourives, numa lapidação que nos dão chuva, espanta-espíritos, caixinhas de música e sonho, isso mesmo, sonho.

Voltemos às músicas. Passamos pela “Aurora Bureal” chamada “Dandelions” (dentes-de-leão), um missal nórdico em formato música que ao soprarmos nos deixa com um sorriso no rosto e um aperto no coração, tal a delicadeza com que se atira para os nosso braços. Antes, já “Blup”, num estilo mais próximo do pós-rock a que nos habituaram no álbum anterior nos lançar para um “cerrar de dentes” com o seu final regado a guitarras de “guerra”. Saltamos novamente, desta feita, para a frente, para a décima, para “Tierra del Fuego: Nisshin Maru” e as usa “trombetas” cinematográficas que coreografam o que nos esperará mais adiante. Segue segura, cheia de si e parte, num dedilhado ternurento de cordas a pintar caminho que se adivinha atribulado pela bateria que nos atira para um vórtex de pujança, de vontade, grita-se surdamente “estamos vivos e viemos para partir tudo, literalmente tudo”, e partiram.

E chegamos ao momento da perfeição. Da Vinci, se músico fosse, não faria melhor. “Nagmani” acompanhada pelo piano de André Barros é a personificação do mito, são os doze trabalhos de Hércules musicados, uma epopeia heróica percorrida em quatro minutos e cinquenta e cinco segundos de exaltação que nos atravessam e nos ficam a martelar na parte mais profunda do ser. Piano, metais, bateria sobre um tempero generoso de electrónica e guitarras apontam o caminho do topo da montanha, uma montanha onde podemos chorar, rir, odiar ou simplesmente amar, porque esta “Nagmani” é absoluta, absolutamente vida.
Fernando Gonçalves
f.guimaraesgoncalves@gmail.com

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