DISCOS
Manu Chao
Clandestino
· 24 Jun 2002 · 08:00 ·
Manu Chao
Clandestino
1998
Virgin


Sítios oficiais:
- Manu Chao
- Virgin
Manu Chao
Clandestino
1998
Virgin


Sítios oficiais:
- Manu Chao
- Virgin
A música de Manu Chao tem, mesmo sem o parecer, uma herança indirecta do punk, isto porque as canções mostram uma preocupação política e intervenção de revolta com o estado das coisas. Uma intervenção que nos é dada através de uma música simples, "retirada" dos bairros mais pobres da América do Sul.

Manu Chao (Oscar Tramor de verdadeiro nome) sempre teve uma vida poli-cultural, nasceu em França, mas era filho de pais espanhóis, pelo que desde sempre dominou as duas línguas. Começou por tocar numa banda que até teve algum reconhecimento, os Les Hot Pants, mas não por muito tempo. Formou depois com o primo um dos colectivos da linha da frente de bandas latinas que ficaram marcadas pela atitude punk já acima referida, os Mano Negra (nome para uma organização anarquista que operava em Espanha). O sucesso que tiveram levou-os a assinar um contrato com a Virgin que possibilitou então a expansão de horizontes. Apesar do pouco sucesso alcançado nos Estados Unidos, a América Latina e a Europa renderam-se aos encantos dos Mano Negra. Em 1992 começaram uma tour na América Latina, viajando por barco e acompanhados por actores e um circo, actuando em cidades portuárias. Passados três anos, Manu Chao volta à América do Sul onde ia gravando coisas por onde passava. Grande parte desse material foi depois lançado em 1998 no seu álbum de estreia, "Clandestino".

De uma coisa não restam dúvidas, Manu Chao é um homem do mundo, e essa experiência de vida confere ao disco um toque muito especial. As canções têm teor político, preocupação ecológica, de luta, de fuga, de amor, sempre muito profundas e sentidas. Preocupações retiradas da experiência do passado, que passou em países pobres e em guerra, onde crianças andam pelas ruas e vivem em situações degradantes. E se é verdade que tudo isso está bem presente no disco, também é verdade que Manu Chao deu às musicas uma alegria contagiante e quase infantil onde se nota com um brilhozinho nos olhos que o futuro pode e tem de ser diferente.

Neste disco dominado por guitarras acústicas, ritmos muito substis, toques de reggae, música latina e salsa, dub, hip hop e rock experimental existem frequentemente samples de emissões de rádio registadas na América do Sul, que muito caracterizam a música de Manu Chao e lhe dão um ar caseiro. Para além disso, e ao contrário do que é habitual, o álbum é marcado por uma grande diversidade de línguas nas canções. Assim, a língua é utilizada ao serviço da canção e usada quando necessária e justificada, uma filosofia que deveria ser mais pensada e que em Portugal se nota quase unicamente nos Belle Chase Hotel. Só neste disco existe uma canção em inglês, uma em português, duas em francês e doze em espanhol.

Este disco foi um sucesso à escala mundial, e de facto tinha tudo para o ser. É um disco com causas e que luta por elas, dando depois um ar mais alegre que é bom para longas noites à volta da fogueira. É diferente, é giro, é contagiante, é Manu Chao.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net

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