Quando pensamos em discos de noise, imaginamos desde logo um frenesi de som que parece rebentar em direcção ao nosso cérebro, arruinando toda e qualquer capacidade auditiva pelo caminho - culpe-se os japoneses, cuja lembrança sonora de Hiroshima e Nagasaki está ainda presente na sua memória colectiva, a única explicação possível para tantos e tão variados projectos nascidos no país do sol nascente nos anos oitenta e noventa, dos Incapacitants a Merzbow, dos Gerogerigegege aos Boredoms a Masonna, passando até pelos Rallizes Dénudés.

De facto, mais que um género musical de pleno direito, o noise caracteriza aquilo que se deve esperar de uma determinada peça musical à qual é colada tal rótulo. Entram em cena os Mesa Ritual, duo composto por William Fowler Collins e Raven Chacon, que aposta na exploração do ruído reduzindo-o à essência mínima: feedback suave que vai desenrolando o arame farpado da tensão ao invés de nos atingir com o rolo na cara. Nove temas apenas em que o propósito não é provocar a surdez, mas o medo, seja do desconhecido, seja do que pode vir a aparecer; como num ritual, pois claro.

Mesa Ritual é uma procissão que vive esperando que o santo de porcelana comece a jorrar lágrimas de sangue, que em vez de oferecer abertamente o êxtase do som mostra o caminho a quem quiser estudar o livro, através de uma electrónica prenhe de pequenos detritos e gravações de campo que, mais que apresentar um pouco de realidade no meio do caos, a distorcem e abatem sob o peso da estática. Não é um disco fácil exactamente por não sabermos o que esperar; mas essa ânsia de procurar uma resposta à pergunta o que é isto? traduz-se num óptimo registo. A violência, ou o noise, não é a única chave.