DISCOS
The Birthday Party
Prayers on Fire
· 27 Set 2003 · 08:00 ·
The Birthday Party
Prayers on Fire
1981
4AD


Sítios oficiais:
- 4AD
The Birthday Party
Prayers on Fire
1981
4AD


Sítios oficiais:
- 4AD
Os concertos eram verdadeiros acontecimentos. Momentos maiores, onde Nick Cave e a sua banda extravasavam uma energia genuína que acabou por marcar grande parte dos adeptos do post-punk que os viram actuar ao vivo na época [“Pleasure Heads Must Burn” é um DVD que recolhe esses momentos]. As letras e músicas abordavam temas tabus, mas nem por isso – ou por isso mesmo – eram motivo de afastamento dos fãs. Apenas separavam aqueles que realmente interessavam. A ressaca do punk estava no auge. Foi apenas um espaço de dois anos, no mesmo período em que a banda de Nick Cave se lançou nos discos, que Cure, Magazine, Psychedelic Furs, Echo & the Bunnymen, Joy Division, Cabaret Voltaire, Pop Group, e Bauhaus, se estrearam no formato álbum. E os Birthday Party também se tinham mudado para o sitio certo: foi ali que, à época, quase tudo aconteceu. O nome da banda foi encontrado em Londres, depois de o grupo se ter transferido de Melbourne, na Austrália, onde gravaram um álbum e um EP enquanto Boys Next Door. O registo homónimo de estreia “The Birthday Party” (1980) havia até sido gravado com a denominação anterior, mas foi já com a designação que perduraria até 1983 que acabou por ser lançado, mesmo que em pequena escala. “Prayers On Fire” (1981) é, por isso, o primeiro registo “ofical” com direito a lançamento internacional, mas estávamos, porém, longe do reconhecimento que os trabalhos de Nick Cave (com os Bad Seeds) haveriam de revelar mais tarde.

“Prayers On Fire” fica para a posteridade como o álbum que encetou o momento de maior unanimidade em torno dos Birthday Party. É como que um exorcismo onde Nick Cave, apoiado por uma imagem tenebrosa, exterioriza todos os demónios que existem em torno do seu ser. As músicas propagam ondas de escuridão em que guitarras desenham, a negro, composições simples, acompanhadas por feedbacks, distorções e ambientes relacionados com a morte, a mudança de sexo e a religião. A voz era poderosa e acentuava a demência de quem por trás dela se mostrava. É um disco que de certa forma nos prepara para o que se haveria de seguir na carreira a solo. Não vai direito ao coração, antes mostra que a música não tem de ser toda pincelada a cores claras. As posições antagónicas são mais que muitas e, por isso, também não nos traz esclarecimentos existenciais nem respostas extranaturais. Mas coabita no espaço da nossa mente onde sabemos estarem aqueles que lutaram um dia para fazer algo diferente. E se foi aqui que tudo se fermentou, quase todos sabem o que o futuro viria a revelar.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net

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