DISCOS
Lana Del Rey
Born to die
· 18 Fev 2012 · 20:10 ·
Lana Del Rey
Born to die
2012
Interscope / Universal


Sítios oficiais:
- Lana Del Rey
- Interscope
- Universal
Lana Del Rey
Born to die
2012
Interscope / Universal


Sítios oficiais:
- Lana Del Rey
- Interscope
- Universal
"Baby love me cause I´m playing on the radio"? Mas...é só por isso?
Era uma vez uma menina a quem os pais chamaram Elizabeth Grant. Um dia saiu de casa, gravou um disco, ninguém quis saber, e nunca mais ninguém a viu.

A parte da tragédia está despachada. Chegou a hora de fazer a pergunta que toda a gente quer fazer. Nomeadamente, quem és tu, Lana Del Rey? Como chegaste até nós com um nome e visual de estrela tão perfeitos? Algo que, por mais que respondas e tentes clarificar em entrevistas, nunca terá respostas à altura das perguntas que se formularam desde que “Video Games” desceu à Terra. E a seguir? És a Lady Gaga ou a Hope Sandoval? És personagem de filme de Sábado à noite na RTP2, ou Domingo à tarde na SIC? És o par romântico ou a femme fatale? São difíceis as respostas, mais uma vez. Talvez porque Lana Del Rey, no fundo, não esteja situada em nenhum destes parâmetros. Seria simples demais.

Não nos enganemos quanto à temática. Os quatro temas principais de Born To Die são três: amor e sexo. Nada de novo, pois. O que torna, ao contrário do que se possa pensar, aumenta o enigma de Lana. É a conquistada ou a conquistadora? É controlada pela sua relação, ou finge apenas deixar-se controlar? Pensámos que há tanto de imaterial, de inalcançável em si. Mas depois chama a alguém “Light of my life / Fire of my loins” (“Off To The Races”). A pop não teve sempre o direito de ser tão frontal. Mas quem sabe Lana seja mais ligada ao r&b, na época em que este cada vez mais conquista liricamente a pop. Ouça-se o seu fraseado, a forma como as palavras pingam umas nas outras, o acompanhamento musical que parece opulento, mas faz-se com tão pouco. Há pouco mais que cordas, piano e bateria em todas as músicas. Mas o beat não marca o tempo apenas. Tem algo de hip-hop, de new jack swing. Talvez se um produtor r&b moderno, ou mesmo um cantor como Drake, largasse os sintetizadores (nada contra estes, atenção) e contratasse uma orquestra, saísse algo assim.

Já que mencionei “Off To The Races”, falemos também de “Blue Jeans”, de “Carmen”, de “Born To Die”, de “Million Dollar Man”. Há nelas ecos dos anos 60 e 70. Há nelas ecos de uma certa diva, caso esta perdesse o trovão que tinha na voz, mas ganhasse uma sexualidade latente. É que são canções que facilmente poderíamos transportar para a voz de Shirley Bassey nos tempos em que era convocada para fazer músicas para Sean Connery interpretar James Bond. Já a canção que tudo (re)começou, “Video Games”, é obra-prima de languidez sonhadora e opulenta, e no entanto tão vívida. “This Is What Makes Us Girls” encerra Born To Die, falando do passado, do que Lana deixou para trás, da vida com as amigas que a fazia sentir como uma estrela. Chegou-lhe? Parece que não. A música como que anuncia o nascimento de uma diva. Algo que não sabemos ainda se decorrerá. Afinal, ainda é muito cedo, por mais bom que – e é muito – Born To Die seja.

Born To Die tem vendido como pãezinhos quentes. E embora também seja muito cedo para o aferir, talvez no presente e no futuro se venha a ouvir de várias e vivas vozes, algo que faria Roberto Carlos orgulhoso: “Não quero saber da sua vida, da sua história, ou do seu passado / Lana Del Rey eu só quero ser, seu fã dedicado”.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
RELACIONADO / Lana Del Rey