DISCOS
A$AP Rocky
LiveLoveA$AP
· 02 Dez 2011 · 11:23 ·
A$AP Rocky
LiveLoveA$AP
2011
RCA Records


Sítios oficiais:
- A$AP Rocky
- RCA Records
A$AP Rocky
LiveLoveA$AP
2011
RCA Records


Sítios oficiais:
- A$AP Rocky
- RCA Records
Inebriante, hipnotizante, narcotizante. O jovem Rakim (sim, vem daí) Mayers chega e transforma o mundo num punhado de emanações que transportam para uma realidade tão alternativa como hiperreal.
Se o estimado colega Bruno Silva já fez o favor de realçar como as mixtapes são importantes no r&b actual, convirá não descurar a cada vez maior relevância que as mesmas têm no circuito hiphop dos nossos dias. Nomes como Death Grips, Yelawolf, Kendrick Lamar, Spaceghostpurrp, Mr. Muthafuckin´ Exquire, Nacho Picasso e mesmo a crew Odd Future têm-se feito ouvir graças às possibilidades oferecidas pela internet, tendo já alguns chegado à fase de lançar discos “a sério”. No caso de A$AP Rocky, o talento demonstrado em momentos como esta mixtape que agora examino, já lhe valeu um contrato de 3(!) milhões de Dólares com a Sony. Se valerá o investimento em termos estritamente monetários, o tempo o dirá. Que A$AP chega às grandes editoras com um trabalho de excelência debaixo do braço, poucas dúvidas restarão após a audição de LiveLoveA$AP.

A vida de A$AP respira hip-hop. Basta dizer que o seu nome verdadeiro foi-lhe atribuido em homenagem ao grande Rakim. Nada disto interessaria, claro, se não houvesse nada que o distinguisse de tantos outros MCs. Mas A$AP chega perante nós com um estilo que combina, de forma surpreendentemente destra, o laidback sulista com a urgência novaiorquina, fazendo com que ambos deixem de parecer o oposto um do outro. Atente-se na fantástica “Bass”, talvez o beat do ano obra de Clams Casino. Um ruído aspirado parece dar corda ao beat, que de súbito acorda, espancando os sub-woofers, e retirando A$AP de uma espécie de torpor benigno. Ou veja-se “Purple Swag”, com a participação de Spaceghostpurrp, homenagem clara ao estilo “Chopped & Screwed” de Houston, mas de cuja nebulosidade inebriante sobressaem as sílabas precisas e marteladas de A$AP, que o ligam à sua ascendência na linhagem de MCs da Big Apple. Igualmente importantes são os beats e ruídos criados por gente como o já referido Clams Casino, Soulfein3000, DJ Burn One ou A$AP Ty Beats,que criam uma atmosfera que absorve o ar à volta dos ditos, e pelos quais A$AP Rocky nada como se estivesse numa piscina que, de repente, lhe lança uma onda por baixo do corpo. Casos como “Palace”, “Acid Drip” ou o êxito viral “Peso” demonstram bem como o MC nunca perde o pé, sendo capaz, quer de acompanhar o ritmo dos beats, como de usar habilmente o espaço entre estes.

Podia nada disto ter importância, claro, se A$AP não fosse dotado de outra característica importantíssima: Carisma! Afinal, podia ser só outro MC a falar de quanta droga toma, quer fumada, quer ingerida (a famosa Purple Drank à base de xarope para a tosse tão famosa entre os rappers sulistas), ou de como é popular entre a população feminina do bairro. Mas surge-nos, ao invés, como um habilidoso contador de histórias e montador de cenários, que nos transporta para o seu ambiente de purple haze, e caminhar em transe pela rua afora, hipnotizados pelo seu flow narcótico e narcotizante. “Brand New Guy”, “Houston Old Head” ou “Roll One Up” são antidoto eficaz para o stress, e catalisadoras de uma ascensão a um hiperrealismo que amplifica movimentos, cores, instantes do quotidiano. Como outro grande MC dado aos fumos, Curren$y (muito gosta esta malta dos cifrões), o flow de A$AP não é hermético nem letárgico, apesar das temáticas.

Chegámos à era do hiphop psicadélico? Afinal, existindo esta mixtape, todas as que Curren$y tem lançado, ou os nomes de Wiz Khalifa e Spaceghostpurrp, o que mais podemos concluir? E para mais, numa altura em que outros parecem confundir psicadelismo pop com tentar cobrir a merda que se fazia nos 80s com gravações rudimentares de quarto, não estarão aqui os mais dignos representantes da linhagem que mandou abaixo umas certas portas? Isso será, talvez, tarefa para outros textos debaterem. Por agora, deleitemo-nos com um dos grandes discos do ano, sabendo dar-lhe a atenção e concentração que ele merece. A recompensa está à distância de um flash. Purple é claro!
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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