DISCOS
Avey Tare
Down There
· 05 Jan 2011 · 19:51 ·
Avey Tare
Down There
2010
Paw Tracks / Flur


Sítios oficiais:
- Avey Tare
- Paw Tracks
- Flur
Avey Tare
Down There
2010
Paw Tracks / Flur


Sítios oficiais:
- Avey Tare
- Paw Tracks
- Flur
Depois da festa vem a ressaca; primeiro tomo do mundo pós-Pavillion.
Avey Tare não é Panda Bear. Avey Tare nunca poderá ser Panda Bear. O castigo de Avey Tare por não ser Panda Bear será cruel e impiedoso. Nesta primeira incursão a solo, o génio principal por detrás dos Animal Collective (pois que é ele quem contribui com a maior parte das malhas nos discos que fazem as nossas delícias) tem a tarefa hercúlea, admitindo-se a inevitabilidade das comparações, de criar uma obra tão arrasadora quanto o foi Person Pitch - ou, se quisermos ir mais longe, fazer de uma palavra tão abjecta como o é "Benfica" uma canção belíssima. Falhará nesse prisma. Ainda assim, Down There não deverá ser descartado à partida, tal como Pullhair Rubeye não deveria ser descartado por ter tido a crítica que teve no site que teve - a colaboração com a ex-mulher (já lá vamos) não é assim de má, mas vivemos num mundo hipster, deal with it.

Surge então este disco no contexto da sua separação com Kría Brekkan e de outras más notícias familiares. O estado de espírito de Avey Tare escreve-se em simbologias várias - a do crocodilo e a da água surgindo na dianteira. Por aqui não existe a joie de vivre dos discos com o Colectivo, mas um homem apenas e o seu lamento (My heart is a nurse but my tongue´s in the blender / Now it´s become something creative, canta ele em "Laughing Hieroglyphic"); há toda uma aura negativa, de afogamento, na electrónica grave e psicadélica do mundo pós-Merriweather Post Pavillion que Avey Tare decidiu apropriar para expulsar os seus demónios, algo que nem a dançável "Oliver Twist" consegue alterar. De entre todos os momentos que compõem o disco da cabeça de Tare, nenhum é como o esbracejar de "Ghost Of Books", dubstep rafeiro e aflitivo em que o ouvimos cantar I'm so tired of disappearing. Este é um disco extremamente pessoal - o que explica a recusa em querer apresentá-lo ao vivo - e deve ser observado como tal por nós que estamos de fora.

O que nos levará então a concluir que Down There é fortemente desaconselhado a quem julga que o background de Avey Tare é necessariamente sinónimo de uma alegria imensa. Enquanto peça pop própria, as qualidades que apresenta nos Animal Collective não se dissipam, mas são também elas influenciadas pelo exorcismo que pretende fazer. Num mundo que ainda não se refez da orgia que foi o doce de 2009 é talvez o pior comprimido para as dores de cabeça depois da quantidade absurda de drogas que se tomou. Mas quando um homem chora o mundo deve calar-se.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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