DISCOS
Reagenz
Playtime
· 06 Jan 2010 · 15:16 ·
Reagenz
Playtime
2009
Workshop


Sítios oficiais:
- Reagenz
Reagenz
Playtime
2009
Workshop


Sítios oficiais:
- Reagenz
Eis o disco que testemunha a união de facto em estúdio de David Moufang e Jonah Sharp, 15 anos depois do último encontro.
Por mais imprevisível que fosse a reunião dos Reagenz, ela aí esta. Quinze anos volvidos sobre a edição original do disco homónimo, David Moufang e Jonah Sharp (ideólogo do saudoso Spacetime Continuum) encontram-se novamente sobre a batuta da especulação para mais um punhado de eloquentes experiências em informais tubos de ensaio. Sem uma única vez rebaterem as velhas retóricas da música electrónica que caracterizou boa parte da primeira metade da década de 1990, a dupla recupera algum do velho espírito experimentalista erguendo um conjunto de pertinentes exercícios que tem na ambient alguns dos seus melhores minutos.

Como o extenso currículo faz questão de relembrar, tanto Move D como (o há muito desaparecido) Jonah Sharp percebem do ofício. E isso é evidente na forma como são criadas diversas dinâmicas em torno do techno e da house em constante contacto com a música ambiental, na envolvência criada por melodias eterias e nos pormenores jazzisticos injectados numa matriz base que acolhe com naturalidade as substâncias intrincadas de um dub unificador (e os mais perspicazes ideários da ambient) enquanto abraça os elementos actuais do melhor IDM.

A manipulação dos elementos é uma constante sem que sejam necessários grandes artifícios. No entanto em Playtime raramente nos deixamos levar pela simplicidade aparente. O encanto surge com naturalidade quando combustão sonora é feita por subtis alterações na dinâmica do tempo que tanto podem induzir o corpo em movimentos libertinos e espontâneos ou induzir o espírito num sonambulismo que dispersa a atenção na infinidade do espaço. É um jogo inteligente de equilibrada dissertação musical que premeia o ouvinte disposto a fazer uma viagem virtual pelos meandros de um cosmos raramente fantasiado. E talvez seja nos instantes mais contemplativos e de introspecção que sejamos confrontados em definitivo com esse universo idealizado por estes dois experientes académicos.

Não que temas mais dançaveis como «Dinner with Q» ou «DJ Friendly» sejam inócuos, ou exercícios hipnóticos como «Keep Building» ou «Confidence» sejam ineficazes no papel que desempenham na narrativa sonora, mas é com o paisagismo de «Shibuya Day», «Freerotation» e «Du Bist Hier!» que a excelência é atingida e a aventura tornada memorável. São nesses momentos, em que somos envolvidos no espaço por um espesso nevoeiro sonoro que entorpece a massa muscular, que se descobrem os desígnios que potenciam o prazer na levitação imaginaria. Que não haja dúvidas sobre as idiossincrasias que caracterizam cada um indivíduos envolvidos nesta operação, ou interrogações impertinentes sobre a integridade de uma música arquitectada com o objectivo de ser um escape da realidade, mas mesmo num bom disco há lances mais certeiros que devem ser apontados como exemplos superiores de inventividade.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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