DISCOS
DJ / Rupture & Matt Shadetek
Solar Life Raft
· 24 Nov 2009 · 19:24 ·
DJ / Rupture & Matt Shadetek
Solar Life Raft
2009
The Agriculture


Sítios oficiais:
- The Agriculture
DJ / Rupture & Matt Shadetek
Solar Life Raft
2009
The Agriculture


Sítios oficiais:
- The Agriculture
O som de Brooklyn conhece testamento à altura pelas mãos de um DJ militante acompanhado por um amigo de armas.
DJ / Rupture já esteve mais longe de ter o seu rosto num stencil semelhante ao que coloca Che Guevara ou Maradona nas t-shirts e paredes de todo o mundo. A rua deve apresentar espaço para DJ / Rupture, porque a sua música também reserva espaço para a rua. Essa abertura é, aliás, transversal nas últimas demonstrações de Rupture: na recta final de 2008, Uproot era um impressionante inventário de música urbana incidente em novos ritmos e sub-graves; um ano depois, o subestimadíssimo Patches provava que era possível haver música vanguardista de guerrilha e intervenção, quando um DJ ousado e um guitarrista pronto para tudo (Andy Moor, dos The Ex) cruzavam armas no mesmo lado da barricada.

Alheadas de restrições de género, as selecções de DJ / Rupture ultrapassam geralmente o documento de época (como é Run the Road para o grime). Em vez disso, adoptam um tema aberto que, no caso de Solar Life Raft, é mesmo a configuração de uma hipótese para o som que se sente e escuta em Brooklyn, Nova Iorque. Depois de ver alguns dos seus temas nos pratos de Rupture, Matt Shadetek oferece os seus préstimos como DJ e colaborador em algumas das remisturas (“Bebey”, dos Gang Gang Dance, por exemplo) que transformam Solar Life Raft num objecto mais personalizado.

Solar Life Raft é, de resto, um mix-CD de autor, a partir do momento em que cola espiritualidade reggae e música de câmara (o ruído de Luc Ferrari) sem que isso soe forçado ou pretensioso na fusão das sonoridades mais populares com as eruditas. Quantas vezes isso acontece? O glossário de DJ / Rupture e Matt Shadetek não está ordenado alfabeticamente. Vale tudo. Enquanto o metro passeia pelas estações do dub e dancehall, com a habitual moca de eco de Brooklyn, existem atalhos que levam a Sigur Rós para quem não gosta de Sigur Rós (“Mothertongue: pt.1”, do prodígio Nico Muhly) e a uma remistura que amolece e adoça “In Your Line”, da dupla feminina Telepathe.

Mas retomemos à ideia do stencil, porque DJ / Rupture é mesmo isso: o punho erguido, o herdeiro da militância do Poeta Gil Scott-Heron, Brooklyn a ferro e fogo num mix-CD em que nada acontece por acaso. Com um DJ assim a fazer dois discos por ano, já nem precisamos assim tanto dos Rage Against The Machine.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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