DISCOS
Pale Young Gentlemen / Parenthetical Girls
Black Forest (Tra La La) / Entanglements
· 11 Dez 2008 · 17:20 ·
Pale Young Gentlemen / Parenthetical Girls
Black Forest (Tra La La) / Entanglements
2008
Science of Sound / Tomlab / Flur


Sítios oficiais:
- Science of Sound
- Tomlab
- Flur
Pale Young Gentlemen / Parenthetical Girls
Black Forest (Tra La La) / Entanglements
2008
Science of Sound / Tomlab / Flur


Sítios oficiais:
- Science of Sound
- Tomlab
- Flur
Melodia e sinfonia: a actualidade da pop pom-pom-pomposa em dois discos.
É triste quando a descrição de uma banda forma um retrato-robot quase exacto dos Arcade Fire, mesmo quando um ou outro traço é a variante acrescentada para enganar quem desenha. Nos anos que sucederam a Funeral, disco destinado a ditar alguma tendência, tornou-se comum encontrar grosseiras dedadas de intrusos no local do crime primeiramente desferido pela banda de Montreal. Desde que “Wake Up” uniu os putos em coro de tragédia suburbana, que todas as orquestrações e barroquismos passaram a ser manobras de engrandecimento muito mais previsíveis. Pior que isso só mesmo tentar fundir descabidamente as identidades dos Cure e dos Arcade Fire, e poder registar isso como material original, como aconteceu com as mascotes publicitárias Shout Out Louds. Circulando numa via periférica em relação a essa pop pomposa que estalou em 2003, os Pale Young Gentlemen e os Parenthetical Girls cheiram o queijo na ratoeira, sem nunca o trincarem assumidamente. Não acrescentam nada de extraordinário ao pós-Arcade Fire, mas também não são apenas réplicas desse bicho maior.

Atrás da primeira cortina, os Pale Young Gentlemen são, ao contrário do que o nome indica, um colectivo heterogéneo formado por quatro senhores (dois deles irmãos) e três senhoras. À semelhança do que acontecia no primeiro homónimo lançado em regime de autor, Black Forest (Tra La La) parte essencialmente do engenho e arte de Michael Reisenauer, que, convenientemente, é a voz, guitarra e piano da banda de Madison (Wisconsin). A curto prazo, percebe-se que Black Forest (Tra La La) apela a uma escuta contínua e não fragmentada (isto quando os seus temas aproveitam o balanço dos anteriores). A médio prazo, denota-se uma imperturbável persistência na exaltação da canção, através de violinos e de vendavais oriundos dos Balcãs, como ângulo para formar peças de um reportório pertencente a uma filarmónica de bosque encantado preparada para tocar em velórios, baptizados e arraiais (“Coal / Ivory”). Estranhamente, são frequentes as comparações entre a voz de Michael Reisenauer e a de Chris Martin dos Coldplay (Co£dp£ay para Joe Satriani). Tanto mais estranho quando a ritmada “The Crook of My Good Arm” revela um refrão que poderia pertencer a um Frank Black disposto a criar música para açoitar cavalos (ou unicórnios, no universo de fantasia dos PYG). Faltou-lhe um bocadinho “assim” para ascender à série-A do género.

Muito mais perto desse escalão andarão os Parenthetical Girls, que, no terceiro Entanglements, cedem uma face efusiva e extrovertida que supostamente estaria soterrada no mais neurótico e críptico Safe As Houses. Talvez só agora fosse a hora certa para trazer para a rua a roupa encardida, que sobrara no cesto durante a ópera caseira Safe as Houses, que, sobre um conceito-tonelada, suportava confissões e alegorias referentes à puberdade e menstruação feminina, hostilidade familiar e a tudo o resto que se pudesse ler nos diários das Virgens Suicidas. O vocalista e principal compositor Zac Pennington não é assim tão parecido com Kirsten Dunst, mas vale-se de uma capacidade hermafrodita que, com intensidade equivalente, permite que encarne o eloquente poeta veneziano (na fanfarra “A Song For Ellie Greenwich”) e a frágil jovem desonrada (principalmente quando mergulha em fossos de adereços esparsos tão habituais na música dos padrinhos Xiu Xiu).

Entanglements é tão aventureiro e desmedido nas suas proporções sinfónicas (envolveu dezenas de músicos) que acaba por soar a obra de um Danny Elfman excepcionalmente entregue a um gigantesco coreto de desgraça. Quando, na altura de deixar cair as cortinas, transforma “This Regrettable End” numa apoteose encantada por toda a herança musical dos estúdios Walt Disney, fica a ideia de que afinal esta era a história do Pinóquio. O conto de alguém que mente, sofrendo os reveses de um feitiço que aumenta a dimensão da canção em conformidade com o tamanho da mentira. Felizmente, o exagero deixa de ser um defeito e passa a ser um aliado crucial no caso cada vez mais peculiar de Zac Pennington.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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