DISCOS
Aesop Rock
None Shall Pass
· 12 Nov 2007 · 08:00 ·
Aesop Rock
None Shall Pass
2007
Definitive Jux


Sítios oficiais:
- Aesop Rock
- Definitive Jux
Aesop Rock
None Shall Pass
2007
Definitive Jux


Sítios oficiais:
- Aesop Rock
- Definitive Jux
Rapper nova iorquino transfere-se para São Francisco e abandona o excesso para abraçar o funcionalismo.
2007 parece vir apenas confirmar a decadência a que o hip-hop mais experimental se tem confinado nos últimos 3 anos. Com editoras como a Mush a editarem trabalhos que não passam da mediania e o colectivo Anticon refém da sua própria estética (confinados que estão ao seu prórpio onirismo e abstração habitualmente bacocos), bastou a El-P lançar um bom (mas não surpreendente) I'll Sleep When You`re Dead para ter o trono assegurado. O panorama soporífero onde se encontram as franjas mais experimentais do hip-hop esperava assim alguma concorrência, e não vindo de novos nomes, caberia então a Aesop Rock reclamar para si o trono a El Producto. Afinal de contas estamos a falar do homem que em 2001 editou pela Def Jux (propriedade de El-P) o absolutamente essencial Labor Days. Álbum que o confirmou como um dos mas inovadores e estimulantes mc's da actualidade, com a produção aprimorada e de recorte clássico de Blockhead a servir na perfeição o seu "flow" característicamente obtuso.

Dois anos depois o ambicioso e conceptual Bazooka Tooth, acabou por ser vitimizado pelos seus próprios excessos. De uma densidade impenetrável quase barroca, são cerca de 70 minutos onde o mc parece querer analisar a Nova York pós-11 de Setembro com um olhar tão clínico que acaba por ser impossível chegar ao final do álbum sem que o cansaço se instale perante tanta informação (letras, samples, batidas). Este álbum veio também marcar a sua estreia como produtor, que viria a ser reafirmada no luxuoso ep Fast Cars, Danger, Fire And Knives. Chegados a 2007 e depois de uma má experiência com a sua faixa de 45 minutos para série Nike Original Series (em que também participaram LCD Soundsystem) já no início deste ano, chega-nos este None Shall Pass numa altura em que todas as atenções estão já bem longe de Ian Bavitz (nome verdadeiro) e por conseguinte do hip-hop mais underground americano.

Depois de uma "Keep Them Off The Lawn" em modo tema-de-abertura-como-quem-regressa-dos-mortos, dá-se logo o espanto perante o single "None Shall Pass", tema maior do álbum. Refrão de vozes soul em hélio e batida funky sustentam a letra críptica de Aesop e com isto Blockhead volta a mostrar que é o parceiro ideal para o mc (e também produtor) originário de Nova York, e entretanto recolocado em São Francisco. Tangencialmente temos uma "Bring Back Pluto" que poderia fazer parte de Labor Days, algures entre a percussão de uma "Battery" (ponto alto do referido álbum) e a nostalgia de "Daylight". Táctica semelhante é usada em "Fumes" com resultados menos satisfatórios, mas suficientemente dignos. Para "Getaway Car" traz-nos Cage e Breezly Brewin' para deixarem algumas linhas, servidos por uma batida solta e swingante e sopros festivos (dentro da medida do possível). O funk transviado de "The Harbor is Yours" é outro dos pontos altos do álbum, com uma linha de baixo tão groovy que até George Clinton se mostraria invejoso, e onde Aesop volta a mostrar a sua imaginação como letrista e mc, em algo que aparenta ser uma história de piratas. O seu "patrão" El-P aparece em "Gun For The Whole Family", para nos dizer que "Money is cool, I'm only human/But they use it as a tool to make the workers feel excluded/Like the shinier the jewel the more exclusive the troop is/Bullets don't take bribes, stupid, they shoot shit", rodeado por sons industriais e apontamentos alienígenas, o que só poderia fazer sentido naquela que é a faixa mais densa e obscura do álbum.

Em "No City" Aesop parece falar sobre a sua mudança para S. Francisco e as memórias de Nova York, enquanto o instrumental se passeia por apontamentos de piano jazzísticos e violinos intrusivos (mas essenciais), tudo envolto num nevoeiro de final de noite. A tensão latente de "Dark Heart News" (que conta com a participação de Rob Sonic) arrasta-nos em convulsão implosiva até ao final com "Coffee", de bateria pesada e a atirar para o rock, e com um surpreendente cameo no final com a voz adocicada (paradoxalmente épica) de John Darnielle dos Mountain Goats. Ao final de uma hora, torna-se difícil ultrapassar o álbum sem que se instale algum torpor, no entanto, a densidade que sabotou em parte as ambições de Bazooka Tooth desvaneceu-se para dar lugar a um certo ambiente mais fácil de digerir. Apesar de estar longe de ser genial, None Shall Pass tem argumentos mais do que suficientes para manter o mc no topo do seu jogo, e consegue ainda arrancar pelo meio 5 ou 6 faixas do melhor que o artista já fez, o que para quem tem Labor Days no seu passado, é mesmo muito.
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com

Parceiros