DISCOS
Clã
Lustro
· 09 Nov 2002 · 08:00 ·
Clã
Lustro
2000
EMI-VC


Sítios oficiais:
- EMI-VC
Clã
Lustro
2000
EMI-VC


Sítios oficiais:
- EMI-VC
“É o caos, é o caos, é a mutação...” cantavam os Clã no álbum de estreia “LusoQualquerCoisa” em 1996. Os aplausos da crítica não se fizeram esperar mas as reacções ficaram por aí. Sem grandes entusiasmos por parte do público poderia ter acontecido, como em tantas outros casos, uma precipitação por parte da banda para fazer um som mais “popular”. Mas como quem sabe que o reconhecimento não está de portas abertas sem algum esforço, os Clã souberam sempre esperar e trabalhar por forma a atingir um objectivo. Firmes num caminho muito próprio, num país onde o português é pouco usado na música, conseguiram sempre contornar as dificuldades que lhes iam ao encontro até conquistarem em 2001 três merecidos prémios. De uma só assentada, o Blitz atribuiu, melhor Voz Feminina (Manuela Azevedo), melhor Álbum do Ano (“Lustro”, 2000) e melhor Grupo do Ano. Estes galardões projectavam finalmente e merecidamente os Clã no panorama musical português. Depois disto foram parte dos marcantes concertos com Sérgio Godinho, já passados a disco em “Afinidades” (2001). Essa colaboração viria a dar frutos em “Lustro”, disco que antecipa os Clã como uma banda fundamental no panorama pop/rock nacional.

Músicas de amor e de bem vs mal, de sorrisos e danças na corda bamba, de sopros no coração e sangue frio, este disco apresenta um punhado das mais refinadas canções produzidas no Portugal de fim de década (e século!). Com os arranjos a ficaram mais uma vez a cargo de Hélder Gonçalves, as músicas apresentam-se maioritariamente segundo a linha dos instrumentos-base do rock. Com uma linha de continuidade de qualidade assegurada ao longo de todo o disco, as canções apresentam-se como a mais fina pérola sonora. A voz de Manuela Azevedo é uma delícia para os ouvidos, com a sua expressividade e ternura a fazerem-nos fazer repeat e repeat em diversas músicas. As letras, componente importantíssima dos Clã, ficaram a cargo de Carlos Tê, que volta mais uma vez a fazer um trabalho exímio. Como já dito aqui no Bodyspace.net, o facto de se usar a língua portuguesa permite que as canções ganhem um estatuto diferente, passando não só a ter uma componente lúdica, mas também a fazer sentido. Esse é um dos trunfos de todos quanto cantem em português, talvez o maior. Presença igualmente marcante nessa área é a de Sérgio Godinho, que assina a letra de um dos mais belos momentos do disco: “Sopro do Coração”.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
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