Top Discos 2012
· 20 Dez 2012 · 14:37 ·
© Sofia Miranda

Há 366 dias no calendário de 2012. Em cada dia há certamente uma lista interminável de discos editados pelo mundo todo. O que faz com que a tarefa de escolher os 30 melhores discos do ano pareça, anos após ano, uma missão dantesca e ingrata. Porque é realmente o que isso é. O que não quer dizer que seja impossível. Parece injusto resumir tamanha produção musical em 30 discos apenas, e é mesmo o que isso é: alguns discos que ficaram de fora eram suficientes para salvar um ano inteiro de más colheitas. Mas o mundo é feito de justiças e injustiças. Somados os votos (consultar topes individuais), feita a matemática necessária, estes são os 30 discos que esta equipa escolhe como os melhores de 2012. Apenas com uma certeza: não existem certezas. André Gomes

30
Sun Kil Moon
Among The Leaves
Caldo Verde
O génio de Mark Kozelek - ouça-se a solo, com Red House Painters ou com Sun Kil Moon - volta a revelar-se em Among the Leaves. O cantautor norte-americano é mestre na sensibilidade em fazer canções simples. De guitarra acústica em punho, Mark é a voz amiga, terna e aconchegante de quem o quiser ouvir. A singularidade do músico é característica assente, apesar de em quase nada se desviar dos trabalhos anteriores. Para além do óbvio, acresce-lhe o dom de contar estórias, de cantar paixões e de criar nostalgia. Canções que nos imaginam em longas viagens por estradas desertas com o pôr-de-sol como pano de fundo. Admiráveis são ainda os expressivos títulos das faixas: “The Moderately Talented Yet Attractive Young Woman vs. The Exceptionally Talented Yet Not So Attractive Middle Aged Man” ou "I Know It's Pathetic But That Was the Greatest Night of My Life". Lugar de destaque merecem também o romântico dedilhado em “Young Love” e as passagens sublimes de “Elaine”. Alexandra João Martins
29
Josephine Foster
Blood Rushing
Fire Records
Oh pá, era uma vez a editora dos Pulp quando eram desconhecidos e bons, a obscura Fire e uma mulher que em 2009 por eles assinou. Uma mulher de discos conceptuais se calhar em demasia, por onde já tinha reinventado canções infantis, Tin Pan Alley com ukelele, música alemã do séc. XIX. Uma mulher com forte influência pessoal de Patti Smith, Joan Baez, Grace Slick e Paula Frazer dos Tarnation, uma Mulher que arrasou finalmente. A produção de Andrija Tokic dos Alabama Shakes encaixou que nem uma luva nas deambulações folk psicadélicas que preenchem o disco e nos preenchem a alma a cada audição. Em All The Leaves Are Gone já lá tinha andado perto, mas eis que chegou na perfeição à quase quase perfeição. Nuno Leal
28
Capicua
Capicua
Optimus Discos
Há já muito tempo que a música portuguesa precisava de alguém como Capicua. Estão lá os instrumentais certos – Sam The Kid com a bravura que se lhe conhece, D-One a afirmar-se como um dos mais interessantes produtores nacionais. Está lá o flow – combativo quando é preciso, suave e terno quando as rimas o pedem. E estão tão lá as palavras. Nisso não há como não se render, Capicua escreve como poucos e encontrou no rap a forma ideal para se exprimir. Isto é um disco de coração aberto – as rimas, com ressonância em sentimentos colectivos, mas também o corpo das canções, formatadas com a empatia de quem quer ser ouvida. Seja com armadura de guerrilheira ou a expor as feridas, as palavras são cuspidas sem papas na língua, por vezes com nós na garganta. “Maria Capaz” é uma malha, “Medo do Medo” é um manifesto, “1.º Dia” é um hino, “Casa no Campo” é um sonho desmaiado nas nuvens. É música dona do seu nariz, do Porto de corpo inteiro, para quem já teve o coração pisado e para quem já sentiu a sodomia de forças políticas e laborais – mas ainda com esperança de construir um futuro (numa casa que cheire a flores e frutos / gomas e sugus / doces e sumos ♥). Ana Patrícia Silva
27
Purity Ring
Shrines
4AD / Popstock Portugal
A sensação de ouvir o disco de estreia da dupla canadiana Purity Ring é mais ou menos a de uma experiência intravenosa. Shrines é uma seta e o alvo são aqueles que se deixam seduzir por canções levemente lascivas, electronicamente formosas, hedonistas, entregues ao prazer carnal. Megan James e Corin Roddick são dois românticos: uma voz, baixos pesados, sintetizadores no ponto, batidas maravilhosamente entrecortadas e seleccionadas, mil e um efeitos. Resultado final: perto de duas mãos cheias de canções certeiras, cortadas e polidas como o melhor dos diamantes. Onze canções, onze pequenos hinos à pop de sintetizadores numa altura em que a maior parte dos exercícios deste género parecem vazios de qualquer emoção e propósito. Um disco puro e a fazer justiça ao nome dos seus criadores. André Gomes
26
Gala Drop
Broda
Gala Drop Records
Na verdade, não é caso estranho discos de colaboração acabarem por ser bastante mais fracos do que a soma das suas partes faria supor. Seja pela fuga apressada para fora da zona de conforto ou pela comunhão estrita de adaptação às suas particularidades, parece haver sempre um terreno demasiado frágil para que todas as suas parte se façam sentir de igual modo. No caso de uma banda como os Gala Drop, mestiça por natureza, e da capacidade infinita de bem Chasny se inflitrar pelos mais variadas linguagens, essa proposição não fazia grande sentido a priori. E felizmente, em Broda não existiram quaisquer concessões de parte a parte: tanto o quarteto lisboeta como o mago das seis cordas se enredaram numa mesma narrativa mutante, com aquela saudável noção de risco para que tudo isto faça sentido. Andamentos dub, percussões macumbeiras, sintetizadores espectrais e guitarras em espirais de eco e distorção, todos a caminho de terreno não calcorreado com a segurança dos grandes. Broda é daqueles poucos discos que ainda me fazem acreditar que a ideia de uma jam band não tem necessariamente de ser perniciosa. Bruno Silva
25
Lindstrøm
Smalhans
Feedelity / Smalltown Sound
Depois de Six Cups of Rebel, um disco denso e de difícil absorção, Lindstrøm volta ao que conhecemos dele: o bom velho novo disco. Tal como o gajo que dá uma escapadinha por fora com uma tipa esquisita e distante e depois regressa ao conforto da namorada de sempre para descobrir que nunca de lá devia ter saído, Lindstrøm está de volta ao bem bom. E por bem bom quero dizer todos aqueles ganchos melódicos incríveis, todos os sintetizadores de sonho, todo aquele gingar de anca capaz de convencer aquele gajo a dançar naquela festa para impressionar aquela miúda. Esta história termina num motel. A história de Lindstrøm é bom que não termine tão cedo. Porque esta viagem está a saber lindamente e cheira-me que ele ainda tem alguns trunfos na manga. Vai, acredita Lindstrøm, tu sabes. André Gomes
24
Grizzly Bear
Shields
Warp
Brooklyn festeja sempre o Natal em grande estilo. E dá-nos razões para festejar também. Sobretudo se tivermos no sapatinho este Shields,um sublime presente dos filhos da terra. Desembrulha-se o pacote e o conteúdo é de luxo: grandiloquência sinfónica, vozes que se encontram no céu e arrojo q.b.. Ao quarto álbum, os Grizzly Bear mostram o brio de se aperfeiçoarem continuamente e produzirem um relicário de composições que exigem várias audições para uma fruição perfeita. Não se reconhecem aqui transformações radicais, nem quebra cosmetéticas anteriores, mas vislumbra-se uma evolução na escrita de canções que se tornou mais poderosa e, ao mesmo tempo, refinada.Com este punhado de elegantes criações, olhamos para o futuro ansiosos e optimistas. Menos imediato, mas mais atento a pormenores, este álbum eleva a folk a mil e uma possibilidades de reinvenção e descoberta. Eugénia Azevedo
23
LA Vampires & Maria Minerva
The Integration LP
Not Not Fun
Ainda estamos por decidir se o feminino de bromance é sismance, mas, seja qual for o epíteto a utilizar de forma a melhor descrever esta colaboração entre LA Vampires e Maria Minerva, fiquemos com a ideia principal - a de que Integration, disco criado a pensar na cena house que nunca se viveu por se ser demasiado novo, com o estalo da droga a percorrer-nos a alma tal qual os sintetizadores percorrem boa parte das canções deste disco a quatro mãos, constitui alguma da pop de cariz electrónico mais apetecível do ano que findou. Porque não procura inventar a roda e se entrega à maioria dos bons clichés, seja aos do mainstream seja àqueles mais hipster; porque não é mais do que um objecto que muito provavelmente se irá perder no tempo de meses, mal a retromania (que também está da génese da sua criação) assim o queira; porque mais do que disco é compilação de canções pastilha-elástica para se saborear na hora, deitar ao chão depois. E não, não há mal nenhum nisso: há tanta gente a tentar fazer história que se esquecem de a viver. Paulo Cecílio
22
Actress
R.I.P.
Honest Jon's Records
Parece fútil dizer isto, mas se R.I.P. fosse um loop de 50 minutos da incrível “Shadow of Tartarus” este seria ainda assim um dos melhores discos de 2012. Cinco minutos e vinte e seis segundos de alguém a foder-te com o cérebro e mesmo assim a única coisa que apetece fazer é clicar em Play mal esta termina. Mas R.I.P. está longe de ser um loop seja do que for até porque “Shadow of Tartarus” nem representa propriamente o restante recheio do terceiro disco de Darren J. Cunningham; é apenas o seu momento mais alto. Para além disso há, imagine-se, alguma da música electrónica mais desafiante e fresca que 2012 produziu. A bipolaridade fica-lhe bem: parece que Darren J. Cunningham está sempre a tentar convidar-nos para a pista de dança mas na verdade está a foder-nos a cabeça toda. E nós deixamos.
21
THEESatisfaction
awE naturalE
Sub Pop Records
A dupla THEESatisfaction não precisou de muito mais do que trinta minutos para assinar um dos melhores discos de 2012. Nem de muitos adereços. Visceral, primitivo, sem grandes artefactos ou manias de produção. Rudimentar, directo ao assunto, frontal, sem merdices ou bling-bling. Na maior parte do tempo, awE naturalE é um disco despido até ao mínimo indispensável. O que não quer dizer em momento algum que seja um disco vazio de ideias – antes pelo contrário. À frente de tudo estão as vozes – e as palavras – de Catherine Harris-White e Stasia Irons, perfeitas no encontro com as batidas habilmente lançadas na direcção de ambas. Entre o jazz, a soul e o rap, awE naturalE recorre ao passado para construir novo e o resultado final é surpreendentemente fresco e actual. Um disco que prova que a subtileza não tem de ser sinónimo de falta de argumentos. André Gomes

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