Topes 2010
· 14 Dez 2010 · 00:48 ·

Top 2010 · Top Portugueses 2010 · Topes Individuais · Momentos 2010 · Topes Ilustres

© Teresa Ribeiro



 

10

Prins Thomas
Prins Thomas
Full Pupp

Demorou mas chegou. E não passou despercebido. Normalmente acompanhado pelo compatriota Lindstrom (num projecto sempre sequioso para atirar o disco-sound para o extremo mais progressivo), Prins Thomas estreou-se finalmente com um disco escrito na primeira pessoa onde se percebe bem as motivações que o movem a solo. A segregar sabedoria por todos os poros, Prins Thomas é o culminar de sucessivas e vigorosas contorções do rock com paladar kraut (que tem nos Neu! ou nos Can as principais referências), do space-disco, do dub, da pop e da melhor electrónica da escola alemã de 70. É dessa eloquente torcedura, a sonhar com o cosmos mais distante, que nasce esta coerente expressão autoral de irrepreensível qualidade que ganhou – neste ano que agora termina – um lugar seguro nos nossos corações sempre ávidos de escapes virtuais pelo espaço mais profundo. Eis a prova que faltava. A prova que confirma, indubitavelmente, que o homem sabe bem o que faz quando olha inspirado para o passado para desenhar maviosamente o futuro. RS

Bodyspace MySpace


 

9

Gil Scott-Heron
I'm New Here
XL Recordings

"There is a proper procedure for taking advantage of any investment. Music, for example. Buying a CD is an investment. To get the maximum you must LISTEN TO IT FOR THE FIRST TIME UNDER OPTIMUM CONDITIONS. Not in your car or on a portable player through a headset. Take it home. Get rid of all distractions (even her or him). Turn off your cell phone. Turn off everything that rings or beeps or rattles or whistles. Make yourself comfortable. Play your CD- LISTEN all the way through. Think about what you got. Think about who would appreciate this investment. Decide if there is someone to share this with. Turn it on again. Enjoy yourself". As instruções escritas por GSH no booklet de I'm New Here são o manual definitivo para quem ama a música que ouve. E a faixa escondida num cd de redenção pós-decadência dum mito, classicismo e inovação ("Me and the Devil", de Robert Johnson, podia ser Massive Attack de antologia), spoken word e honestidade poética. Tudo em menos de meia hora para ouvir em repeat. HRP

Bodyspace MySpace


 

8

Aloe Blacc
Good Things
Stones Throw

Reaprendemos a amar a música soul de recorte clássico em anos recentes com Maxwell (um dos fundadores da neo-soul, juntamente com D'Angelo, Jill Scott e, mais discutivelmente, Erykah Badu, a qual começou pelo acid jazz, abordou o hip hop e não se sabe bem como catalogar), Jamie Lidell, Mayer Hawthorne e, entretanto, Aloe Blacc, nascido Egbert Nathaniel Dawkins III, filho de pais panamianos na fervilhante Los Angeles de 1979. Debutou com "Shine Through" (2006), pela Stones Throw de Madlib & companhia, mas é com este segundo disco que nos arrebata por completo a alma melómana rumo à prateleira das grandes mitologias dos géneros soul, funk, r&b, entre Marvin Gaye, Otis Redding e Curtis Mayfield. Respeito! Porque ele também vai ser muito grande, esperem para ouvir. GS

Bodyspace MySpace


 

7

LCD Soundsystem
This is Happening
DFA

Desilusão para uns, devoção para outros, o certo é que os LCD Soundsystem decidiram recuar ainda mais no tempo e resgatar para o novo milénio sonoridades que fizeram escola a partir dos anos 70. Vestiram-se de branco, mudaram-se de malas e bagagens para LA e construíram This Is Happening numa mansão ao serviço da tropa mais old school da DFA – sim, já podemos dizer isso. O resultado é um disco muito mais maduro, pensado e trabalhado, onde os sintetizadores analógicos são reis e a genialidade de James Murphy, responsável pela maior parte da gravação do disco, ganha maior notoriedade. Apesar de nos terem deixado de calças na mão com a típica conversa do "último disco", o marketing ficou à porta, enquanto as malhas rave, disco e dance punk tomaram conta do acontecimento – "Dance Yourself Clean", "I Can Change" e "Home" são algumas das faixas que tornaram 2010 um ano bem mais fixe. E retro, que isso é que anda a dar. SM

Bodyspace MySpace


 

6

B Fachada
Há Festa Na Moradia
Mbari Música

Além de disco artilhado com sete magníficas canções, Há Festa na Moradia é um manifesto de ocupação, uma bem pensada artimanha colonial nos temas e nas referências musicais. É económico: bastam-lhe 23 minutos para consumar uma estrondosa empreitada de ritmos africanos, repetições viciantes e versos venenosos para entreter os teóricos e os inimigos de B Fachada. E é assim que Lisboa enche a barriga, porque a cidade, durante este ano, teria sido um lugar mais cinzento sem estas canções com o rastilho de fora. B Fachada é o incendiário certo e ameaçava varrer Lisboa, quando, no Lux, em Maio, terminou o concerto com os versos Eu vou ser o puto Abrantes / Eu vou ser o Panda Bear / Entrar onde eu quiser / Entrar onde eu quiser. Já entrou. Na colheita de 2010, Há Festa na Moradia é a melhor garrafa de vinho tinto entornada sobre um pano de mesa muito limpinho. MA

Bodyspace MySpace


 

5

Beach House
Teen Dream
Bella Union / Nuevos Medios

O que seria do mundo sem dream pop? E neste século XXI, quando os gigantes Cocteau Twins parecem ter acalmado de vez, com a chillwave a tocar a espaços nos estados de alma e arrepiar de pêlos e espinha que os mágicos escoceses dominavam à sua maneira, felizmente surgem estes Beach House em força na busca do mais belo paralelo. O éter está vivo e recomenda-se! Victoria Legrand não canta como Liz mas não importa, desde que cante como Victoria. Um Vozeirão com V grande à medida analógica das suas teclas, das guitarras e ritmos da banda que produz cada vez melhores canções, "Zebra", "Norway", "Used to Be", "10 Mile Stereo", "Take Care", enfim, todas. Porque não era fácil superar Devotion , este sonho adolescente de novos hinos geracionais ganha ainda maior dimensão. E como surgiu logo no início do ano (a ouvir-se na net logo em finais de 2009), é sem dúvida, O Mais Belo Disco de 2010 para muitos de nós, que o ouviram de Janeiro a Dezembro e vão ouvir até Dezembro de 2077 (haja saúde! Take care). NL

Bodyspace MySpace


 

4

Vampire Weekend
Contra
XL Recordings

Há quem tenha acompanhado a carreira dos Vampire Weekend desde que o álbum homónimo de estreia circulou pela net no inverno de 2007. Já na altura se previa um futuro risonho como as suas canções – restava apenas saber quão risonho. Três anos depois o resultado não poderia ser melhor para os rapazes de NY; primeiro lugar no top da Billboard, reconhecimento por parte da crítica e de outras figuras seminais, e uma aparição no Colbert Report. Isto, claro está, sem contar com os dois excelentes discos que constituem para já o seu legado musical. Contra mantém o charme africano que apaixonou milhares e, acima de tudo, é uma bofetada nos profetas da desgraça do segundo disco. "Diplomat's Son", para além de ser a mais longa, é também a melhor canção que o grupo já escreveu, e uma homenagem mais que merecida e tardia ao enorme Joe Strummer numa altura em que ainda não se parou de falar em Ian Curtis. É um disco de verão? É, mas o verão é quando um homem quiser. PC

Bodyspace MySpace


 

3

Kanye West
My Beautiful Dark Twisted Fantasy
Roc-A-Fella / Def Jam

As únicas duas pessoas no mundo inteiro que não gostaram deste disco tiveram de se esforçar para caraças para encontrar razões artificiais para odiar algo que é, do princípio ao fim, incrível. Tudo porque uma certa webzine americana lhe deu nota máxima e antes morrer que partilhar gostos com a "corja indie". My Beautiful Dark Twisted Fantasy é praticamente perfeito: beats, rimas e canções, tudo a conjugar-se da melhor maneira, sem desperdiçar um único segundo dos seus 70 minutos. É preciso tomates para, numa era em que os discos de rap têm cada vez mais faixas para encher chouriços, ser auto-indulgente no melhor sentido possível e tudo ser bom. Kanye West parece estar a gozar com toda a gente a provar que, enquanto vê fotografias de mamas na internet, grava obras-primas. A perda, ao fingirem que não se estavam a divertir, é toda daqueles dois que não gostaram. É que Kanye West é, de facto, o novo Michael Jackson, a canção que toda a gente pode ouvir e adorar, algo que aquece qualquer coração, menos os deles. O que é uma pena, tendo em conta que são gente inteligente e que muito prezo. RN

MySpace


 

2

Caribou
Swim
City Slang

Daniel Victor Snaith está claramente em plena posse de todas as suas capacidades criativas. E Swim, mais do que qualquer um dos seus trabalhos anteriores, é a prova disso. Soube perceber quais eram as pontas soltas de todos os seus discos, tirou partido do melhor de cada uma delas, virou-se para as pistas de dança, e não voltou a olhar para trás. Talvez se tenha virado para trás só para acenar e certificar-se que a concorrência ia bem lá atrás antes de passar a meta final da prova. Nessa prova, vitoriosa, "Sun" passa o testemunho a "Kaili", que por sua vez o faz a "Odessa" que deixa "Jamelia" fazer as honras de encerramento. E estes são apenas quatro pontos obrigatórios de um disco belissimamente criado à mão até mais ínfimo pormenor, dono e senhor de uma palete sonora riquíssima, com canções que se aguentam durante horas, semanas, meses e, adivinhamos, anos. Mal podemos esperar que chegue o seu próximo disco. AG

Bodyspace MySpace


 

1

Ariel Pink's Haunted Graffiti
Before Today
4AD

A sua discografia é extensa e obscura e a maior parte dos ouvintes chegou ao nome de Ariel Pink com The Doldrums - estávamos em 2004 e os Animal Collective apadrinhavam aquela estranha revelação. Aí Ariel mostrava já um interessante conjunto de canções lo-fi, esquizóides, psych fora de época, nostalgia assumida, coisa doida mas quase sempre com um afinado sentido pop. Este ano fomos surpreendidos: a edição é 4AD, mantém-se tudo de bom que havia dantes mas agora temos canções com pés e cabeça, arranjos reluzentes, perfeição do princípio ao fim. As melodias evocam as voltas psicadélicas dos 60s tardios, há passagens pelos 80s, há saxofones e trompetes (até tem o grande Dennis González), mas esta música, imensa amálgama multi-referencial, só podia ser feita em 2010. Este é um daqueles discos onde não se encontra "filler", cada música é melhor que a anterior, ouve-se de uma ponta à outra, é um álbum completo onde ninguém faz "skip". Ariel Pink faz batota - mete uma versão ("Bright Lit Blue Skies", tão refundida que quase passava por original) e inclui temas seus antigos, aqui ressuscitados - mas o resultado é tão bom que tudo se lhe perdoa. Está encontrado o disco mais consensual do ano, pop excitante, tusa que dura o ano todo.NC

Bodyspace MySpace


30-21 | 20-11 | 10-1

 

Parceiros