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10: |
Loosers Otha Goat Head |
Ruby Red |
Os Loosers podem muito bem ser a banda mais importante a surgir nesta d�cada em Portugal. Inspiraram uma comunidade de bandas com uma atitude alinh�vel em esp�rito ao que se passa a um n�vel subterr�neo noutros pa�ses, com destaque para os Estados Unidos; passaram de uma mera banda porreira, no dealbar do neo-p�s-punk, para autores de uma das mais interessantes e impar�veis discografias feitas por c� (s� este ano h� quatro discos, todos valorosos). Otha Goat Head, duplo CD-R lan�ado no selo do grupo, � o documento maior desse percurso e sintetiza v�rios aspectos que j� conhec�amos deles: jams semi-improvisadas, abertas ao ru�do, aos drone mon�sticos, �s m�sicas dos cinco continentes. Transe, imers�o e ritmo s�o palavras de ordem no l�xico musical alargado e imprevis�vel do trio, alinh�vel em esp�rito com os No-Neck Blues Band e os Sunburned Hand of the Man. Os Loosers j� s�o grandes, mas t�m tudo para ser ainda maiores. Pedro Rios |
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9: |
Frango Aneboda |
Searching Records |
� dif�cil ser-se concreto quando respeita a um disco de Frango, tanto mais quando a camada que cobre por inteiro Aneboda evidencia uma fertilizante espessura que torna inc�gnito e quase m�stico o conjunto de instrumentos e respectivas aplica��es que adensam a massa textural do intrigante cd-r lan�ado pela Searching. Por maior que seja qualquer familiaridade desenvolvida com a �coisa�, esta escuta-se sempre como se fosse um agravamento ps�quico por sanar ap�s diagn�stico concreto (quando falta �ncora al�m do irredut�vel feedback), como um sobranceiro debate entre texturas onde uma sempre sabota a subida definitiva do todo � superf�cie. Aneboda � mais um daqueles óvnis que adoramos ver a cruzar a gal�xia Frango e toda a via gal�ctica do Barreiro. Miguel Arsénio
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8: |
Nuno Prata Todos os Dias Fossem Estes/Outros |
Turbina |
Fossem todos os dias como estes e Nuno Prata, o músico portuense outrora responsável pelo baixo dos extintos Ornatos Violeta, não teria motivos para desanimar. Pese embora todas as dificuldades que sentiu para que o seu primeiro trabalho em nome próprio visse a luz do dia, o resultado final valeu o esforço. Nuno Prata garante a visibilidade merecida às composições que foi arquitectando desde os tempos da sua antiga formação. Todos os Dias Fossem Estes/Outros deixa transparecer inspiração nas criações de Sérgio Godinho e Chico Buarque, mas revela sobretudo uma apetência para a escrita e composição passível de sobreviver à ausência de músicos de suporte. O disco inclui mesmo assim arranjos habilidosos nomeadamente percussão q.b., por um lado, e colaborações nas vozes incluindo a de Manuel Cruz, por outro. Uma estreia assinalável. Eugénia Azevedo |
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7: |
CAVEIRA Quebranto |
Rafflesia |
O termo Quebranto era de comum aplicação na prosa de Camilo Castelo Branco. Nem parte a associação do facto de se intitular “Mundo Romântico” o feroz freak out que abre desenfreadamente o disco ao vivo que recupera aos CAVEIRA uma memorável prestação no Festival Sonic Scope. Apesar do desuso a que foi sendo votada a palavra “quebranto”, esse é o termo ideal para descrever o limiar clínico em que persistem assentar os concertos do trio lisboeta. “Quebranto” para assinalar o desfalecimento a espaços que afecta sobretudo a guitarra de Pedro Gomes. “Quebranto” como ameaça do vácuo langoroso e mortiço que arriscam os CAVEIRA se não se interceptarem entre si. “Quebranto”, sobretudo, enquanto palidez que se esbate sobre um corpo sónico quando vê as suas entranhas fendidas de alto a baixo (por duas guitarras de dente afiado e uma bateria sempre decidida a retardar a cicatrização). Posto isto e porque Camilo é eterno, pode bem ser este o verdadeiro amor de perdição. Miguel Arsénio
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6: |
Sam the Kid Pratica(mente) |
Edel |
Eis a confirma��o: Sam The Kid � agora o grande senhor do hip-hop tuga. Pratica(mente) revela uma consist�ncia invulgar num g�nero que em Portugal teimava em n�o revelar todo o potencial. Consciente da sua verdade e da sua poesia, Samuel recorre ao sampler para erguer a verve mel�dica urbana contempor�nea sobre beats seguros e obstinados. Exp�e sem constrangimentos a sabedoria de quem cresceu na rua e nela aprendeu a destituir o bem do mal. Sem ambiguidades e sem receio de experimentar, o passo seguinte foi dado, elevando-se agora a fasquia da qualidade para futuros intervenientes. A brincadeira casual terminou. Agora devem entrar os profissionais e todos aqueles que n�o tenham medo de correr riscos. A produ��o nacional 2006 n�o podia ter terminado de melhor forma. Rafael Santos |
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5: |
Sérgio Godinho Ligação Directa |
EMI |
É sem dúvida redundante apelidar um disco de Sérgio Godinho de sólido, mas é exactamente isso que apetece dizer de Ligação Directa. Emergindo de um estatuto de unanimidade intergeracional, o cantautor portuense deu mais um passo na construção de canções cristalinas e que parecem cada vez melhor articular um passado de canção popular e de intervenção com uma faceta pop mais depurada e moderna. Ou talvez devêssemos esquecer isso e apenas dizer que Godinho está mais próximo da canção perfeita. Claro está que também é redundante dizer que se contam pelos dedos de uma mão os autores que escrevem em português como ele. João Pedro Barros
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4: |
Rafael Toral Space |
Staubgold / Flur |
No princípio eram os drones e a transposição para a música electrónica de um certo rock planante (My Bloody Valentine à cabeça). Space, disco integrado num ambicioso e calculado Space Program, não é nada disso: configura uma nova abordagem de Rafael Toral perante a música. É jazz e electrónica sem ser jazz ou electrónica como os conhecíamos até aqui. É, com efeito, uma obra sem paralelo nas linhagens dos dois géneros (o músico descreveu-o acertadamente como "jazz em electrónica"). Com Space, Toral sedimenta o lugar de excepção que tem na música experimental mundial da forma que se exige a quem detém tal título: desafiando os seus próprios limites e pré-conceitos e, no processo, os dos ouvintes. Pedro Rios |
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3: |
Linda Martini Olhos de Mongol |
Naked / Musicactiva |
Em 2005, foram a banda revela��o da m�sica portuguesa, dando a conhecer pelo MySpace a sua maquete (depois transformada em EP). Nada ali era novo (havia p�s-rock fac��o Mogwai, can��es que carregam a escola hardcore �s costas), mas a forma como as refer�ncias se cruzavam em algo �nico entusiasmava. A espera foi grande mas Olhos de Mongol n�o desiludiu. Tem menos impacto �s primeiras audi��es, mas revela-se mais complexo e menos denso do que o EP. Alguns exemplos: Jos� M�rio Branco a surgir num sample que leva "Partir para ficar" para outro n�vel, "D�-me a tua melhor faca", a ir do rock � melodia de um xilofone, e "Cron�fago", potente tema rock escola Sonic Youth. Confirma-se: os Linda Martini deixaram de ser uma promessa e tornaram-se uma das melhores novas bandas portuguesas. Pedro Rios
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2: |
Dead Combo Vol II: Quando a Alma Não É Pequena |
Dead & Company |
Pode parecer tarefa difícil mas Pedro Gonçalves e Tó Trips conseguiram em Vol. 2: Quando A Alma Não É Pequena pelo menos um disco tão admirável e com tanta qualidade como Vol. I. E isto não é dizer pouca coisa. Os Dead Combo, na sua portugalidade ou na sua capacidade de viajar pelo mundo, são um dos projectos nacionais mais surpreendentes e essenciais deste novo milénio. Chamem-lhe Fado Western, chamem-lhe Western Spaghetti, chamem-lhe Spaghetti Accident, chamem-lhe o que quiserem. Vol. 2: Quando A Alma Não É Pequena vale a pena ser percorrido em toda a sua longitude, mas especialmente em temas como “After Peace, Swim Twice” e “O menino, o vento e o mar”, congregação perfeita do melhor que há nos Dead Combo. Venha então o terceiro volume. André Gomes |
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1: |
The Weatherman Cruisin' Alaska |
mono¨cromática / Edel |
Esteve para chegar ainda em 2005, mas n�o. Chegou no dia 13 de Fevereiro e chegou para vencer. Alexandre Monteiro � o senhor por detr�s do projecto The Weatherman e do poppy Cruisin� Alaska, revis�o da mat�ria dada pelos Beach Boys mas sobretudo pelos Beatles, o talism� da sorte do m�sico de Gaia, com m�todos de trabalho actuais. N�o � s� single �People get lazy� capaz de provocar uma certa audi��o: can��es como �One of us is the observer�, �About harmony� ou �If you only have one wish� s�o p�rolas pop em ano de colheita reduzida. Apesar de ter ra�zes nos anos 60 e 70, a pop de Weatherman resulta refrescante e positiva. Sem que estiv�ssemos � espera, chegou e entrou em cena algo como que de surpresa � uma das maiores do ano.
André Gomes |