DISCOS
Daedelus
Exquisite Corpse
· 08 Nov 2005 · 08:00 ·
Daedelus
Exquisite Corpse
2005
Mush
Sítios oficiais:
- Daedelus
- Mush
Exquisite Corpse
2005
Mush
Sítios oficiais:
- Daedelus
- Mush
Daedelus
Exquisite Corpse
2005
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Exquisite Corpse
2005
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- Daedelus
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Tempo de levar a castanha ao braseiro que o Outono já vai alto. Por cá, está encontrado o disco bricolage do ano. De martelo impressionista em punho, Daedelus, natural de Santa Monica (EUA), parte pedra ao quarto álbum e faz-se acompanhar de uma equipa de emcees que puxam o lustro a um hip-hop que nasceu torto e não é certamente desta que se endireita. Exquisite Corpse é um esqueleto no armário que, apesar da aparência baça e fétida, conserva os olhos esbugalhados da carne que um dia lhe deu vida. Ou seja: é hip-hop de divã, em permanente tentativa de descoberta das linhas com que se cosem as entranhas.
A colaboração com MF Doom, o Homem da Máscara de Ferro, – o tema “Impending Doom” – parece um comercial ou uma sitcom fatela dos anos 20 ou 30 do audiovisual norte-americano e acaba a renegar a tradição mastigada do transformismo desenxabido em que o hip-hop se perdeu quando foi às putas do mercantilismo e se deixou ficar no bordel. Num trabalho em que só um terço das canções não tem convidado, a celebração acontece naturalmente num rés-do-chão esquerdo de um prédio dos subúrbios, quando as rádios especializadas só dão importância ao grime que vem de Londres.
“Just Briefly” não podia ser mais desconstrucionista no seu intento de andar às fisgadas aos pardalecos parolos e parvos (olhem a métrica, miúdos!) que andam a enganar os outros com deboches sensaborões. Nesse sentido, o número soa a DJ Shadow e coloca-se ao lado dos servidores da causa romântica do traquejo rap que anda para a frente, rap de rapina e não de rapsódia manhosa que mete gajas seminuas e álcool mais do que a conta.
“The Crippled Hand” parece assombração que só um copy/paste permissivo deixa nascer: carregadinha de swing (“lots, lots of swing”, para a comunidade jazz), esta faixa é o abraço da paz. Ou não tivesse já Mike Ladd, que assina um dos dois “Welcome Home” do disco, provado que isso era possível (e recomendável) no Negrophilia deste ano. As primeiras boas-vindas a casa são dadas por Scott Herren sob o cognome Prefuse 73 Danse Macabre, produção anti-lounge, nublada, difícil, bonita, que só funciona na região demarcada onde coabitam ele mais uma meia dúzia de iluminados, como Luke Vibert ou mesmo Boards of Canada.
Depois do reencontro com velhos amigos dos headphones, acontece o vislumbre do pânico. Enfim, no melhor pano cai a nódoa. Os TTC são franceses e fazem de “Cadavre Exquis” uma latinada que provoca indigestão. Só a piada de ouvir rappar na língua de Edith Piaf salva a coisa. A fechar, “Thanatopsis” entra em fulgurante contra-ciclo, baralhando a lógica dos temas anteriores e inscrevendo os que chegaram até aqui num tribalismo emancipado e emancipador.
Exquisite Corpse é uma Pompeia prestes a sucumbir à força dos vulcões da crítica mais conservadora. Pode até ser olhado como o pior pesadelo do escriba acometido pela preguiça mais castradora mas, para os admiradores, será sempre um soufflé de uma natureza rítmica diversa e desafiante. O mundo está a precisar de discos assim.
Hélder GomesA colaboração com MF Doom, o Homem da Máscara de Ferro, – o tema “Impending Doom” – parece um comercial ou uma sitcom fatela dos anos 20 ou 30 do audiovisual norte-americano e acaba a renegar a tradição mastigada do transformismo desenxabido em que o hip-hop se perdeu quando foi às putas do mercantilismo e se deixou ficar no bordel. Num trabalho em que só um terço das canções não tem convidado, a celebração acontece naturalmente num rés-do-chão esquerdo de um prédio dos subúrbios, quando as rádios especializadas só dão importância ao grime que vem de Londres.
“Just Briefly” não podia ser mais desconstrucionista no seu intento de andar às fisgadas aos pardalecos parolos e parvos (olhem a métrica, miúdos!) que andam a enganar os outros com deboches sensaborões. Nesse sentido, o número soa a DJ Shadow e coloca-se ao lado dos servidores da causa romântica do traquejo rap que anda para a frente, rap de rapina e não de rapsódia manhosa que mete gajas seminuas e álcool mais do que a conta.
“The Crippled Hand” parece assombração que só um copy/paste permissivo deixa nascer: carregadinha de swing (“lots, lots of swing”, para a comunidade jazz), esta faixa é o abraço da paz. Ou não tivesse já Mike Ladd, que assina um dos dois “Welcome Home” do disco, provado que isso era possível (e recomendável) no Negrophilia deste ano. As primeiras boas-vindas a casa são dadas por Scott Herren sob o cognome Prefuse 73 Danse Macabre, produção anti-lounge, nublada, difícil, bonita, que só funciona na região demarcada onde coabitam ele mais uma meia dúzia de iluminados, como Luke Vibert ou mesmo Boards of Canada.
Depois do reencontro com velhos amigos dos headphones, acontece o vislumbre do pânico. Enfim, no melhor pano cai a nódoa. Os TTC são franceses e fazem de “Cadavre Exquis” uma latinada que provoca indigestão. Só a piada de ouvir rappar na língua de Edith Piaf salva a coisa. A fechar, “Thanatopsis” entra em fulgurante contra-ciclo, baralhando a lógica dos temas anteriores e inscrevendo os que chegaram até aqui num tribalismo emancipado e emancipador.
Exquisite Corpse é uma Pompeia prestes a sucumbir à força dos vulcões da crítica mais conservadora. Pode até ser olhado como o pior pesadelo do escriba acometido pela preguiça mais castradora mas, para os admiradores, será sempre um soufflé de uma natureza rítmica diversa e desafiante. O mundo está a precisar de discos assim.
hefgomes@gmail.com
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