DISCOS
Pinhead Society
Kings of our size
· 13 Fev 2005 · 08:00 ·
Pinhead Society
Kings of our size
1998
Candy Factory/Música Alternativa
Kings of our size
1998
Candy Factory/Música Alternativa
Pinhead Society
Kings of our size
1998
Candy Factory/Música Alternativa
Kings of our size
1998
Candy Factory/Música Alternativa
Caem como peças de dominó os projectos que, à nascença, dão por si agrilhoados a um termo de comparação pegajoso. Quantos mais “novos Radiohead” terão direito a uma longevidade meteórica? Quem acredita – sem deixar escapar um sorriso malandro – que os Elbow seriam mesmo capazes de rivalizar com a banda de Kid A? Provavelmente só mesmo os ingénuos que pedem a Mike Patton velhas glórias de Faith No More num concerto de Fantômas ou Tomahawk. O que foi não volta a ser, e apenas com destemido arrojo (e pontuais momentos de Washing Machine em mente) se arriscava a inclusão dos Pinhead Society e Sonic Youth num emaranhado de comparações equívocas. Infelizmente, foi esse o desconfortável estigma que os perseguiu. Tivessem lançado Kings of our Size por altura da livre circulação de MP3 e a banda de Mariana Ricardo teria sido gigantesca. Juntem-se-lhe umas sobras de estúdio e raridades avulsas, e pode até ser que uma edição comemorativa do seu 10º aniversário faça justiça a um disco que, apesar de aclamado, apagou-se rapidamente da memória colectiva.
Decorria o ano de 1996 e as esperanças lusitanas eram basicamente duas: contemplar a ascensão dos Pinhead Society e assistir ao triunfo da Selecção no Europeu de Inglaterra (ninguém esperava, contudo, aquele “chapéu” do Poborsky e muito menos a convocação de Porfírio). A considerável projecção hertziana do hino “Go Oh!” e o CD-S incluído na saudosa caixa Tripop faziam a juventude de então (aquela de que fiz parte) acreditar que a adesão a esta sociedade equivaleria a gozar de boa companhia durante os anos que restassem ao domínio do acne. Partilhar da nacionalidade dos Pinhead Society garantia aos seus devotos algum orgulho patriótico (em ascendente, por aquelas alturas) e a sensação de pioneirismo, caso a banda alcançasse projecção internacional.
As condições propícias reuniam-se da mesma forma que os sinais verdes e aprovações necessárias à descolagem de um hipotético foguetão, pronto a partir de uma plataforma situada no universo infantil invocado em Kings of our Size. “Portugal, we have a problem”. Algo falhou (o excesso de expectativas ou o moroso período de gestação, quem sabe) quando o projéctil já ia alto, entre as flores e as estrelinhas, tal como Mariana e a restante tripulação idealizara a viagem. Fica um curto mas rico legado que, por força de ter sido concebido por quem compõe música com a mesma naturalidade com que sonha, nem sequer conhece o peso do tempo que a ninguém costuma perdoar.
Por ocasião do feudo que opunha Billy Corgan a Stephen Malkmus, servia de pretexto à troca de galhardetes confrontar o opositor com a autoria da mais perfeita melodia a ser cantarolada por um jovem ao acordar. “Today” era argumento de peso por parte do megalómano Corgan. Ainda assim, e conhecesse o duelo justo arbítrio, a vencedora por empate técnico seria Mariana Ricardo (a principal compositora do colectivo lisboeta). Kings of our Size é um daqueles discos que grita “carpe diem” a cada acorde, transborda vitalidade e frescura capazes de satisfazer uma geração inteira, é remédio santo para toda a doença (não há cismar que resista a “We Feel Top” ou nostalgia que não se sinta aconchegada por “A Cockle in the Shell”). O único álbum dos Pinhead Society é perfeito na sua dimensão (arquitectada pelo multi-colorido que se espalha pelas suas dez faixas), compacto na sua conceptualidade subtil, adequado a quantas ocasiões os verdes anos reservam. Escuta-se e volta-se a ele como a uma bicicleta BMX.
A condição de debutantes e a postura low-profile leva a crer que os próprios Pinhead Society não fizessem ideia da importância que Kings of our Size viria a ter como radiografia emocional de uma geração à porta da idade adulta. Apetecia prolongar indeterminadamente a juventude ao som de “Story Game” e “Hi, Mrs. Sparks” e recorrer a “The Booze” como escape à ameaça das Provas Globais. Fosse necessário condensar em poucos minutos toda a inquietude e ansiedade de quem viu demasiados episódios de V – Batalha Final e, para tal efeito, bastaria “Heaven must be Boring” – espécie de representação musical do cruzamento entre a psique do jovem comum da segunda metade da década de 90 e os moldes alegóricos usados por David Lynch em Eraserhead – No Céu tudo é Perfeito, com direito a interferência de telemóvel e tudo. Kings of our Size roça a perfeição que se espera de um objecto desta (pequena) envergadura. Mas, às vezes, nem o melhor é suficiente.
Fosse eu capaz de fazer chegar uma encomenda à morada celestial de John Peel e este seria o disco que lhe enviaria.
Miguel ArsénioDecorria o ano de 1996 e as esperanças lusitanas eram basicamente duas: contemplar a ascensão dos Pinhead Society e assistir ao triunfo da Selecção no Europeu de Inglaterra (ninguém esperava, contudo, aquele “chapéu” do Poborsky e muito menos a convocação de Porfírio). A considerável projecção hertziana do hino “Go Oh!” e o CD-S incluído na saudosa caixa Tripop faziam a juventude de então (aquela de que fiz parte) acreditar que a adesão a esta sociedade equivaleria a gozar de boa companhia durante os anos que restassem ao domínio do acne. Partilhar da nacionalidade dos Pinhead Society garantia aos seus devotos algum orgulho patriótico (em ascendente, por aquelas alturas) e a sensação de pioneirismo, caso a banda alcançasse projecção internacional.
As condições propícias reuniam-se da mesma forma que os sinais verdes e aprovações necessárias à descolagem de um hipotético foguetão, pronto a partir de uma plataforma situada no universo infantil invocado em Kings of our Size. “Portugal, we have a problem”. Algo falhou (o excesso de expectativas ou o moroso período de gestação, quem sabe) quando o projéctil já ia alto, entre as flores e as estrelinhas, tal como Mariana e a restante tripulação idealizara a viagem. Fica um curto mas rico legado que, por força de ter sido concebido por quem compõe música com a mesma naturalidade com que sonha, nem sequer conhece o peso do tempo que a ninguém costuma perdoar.
Por ocasião do feudo que opunha Billy Corgan a Stephen Malkmus, servia de pretexto à troca de galhardetes confrontar o opositor com a autoria da mais perfeita melodia a ser cantarolada por um jovem ao acordar. “Today” era argumento de peso por parte do megalómano Corgan. Ainda assim, e conhecesse o duelo justo arbítrio, a vencedora por empate técnico seria Mariana Ricardo (a principal compositora do colectivo lisboeta). Kings of our Size é um daqueles discos que grita “carpe diem” a cada acorde, transborda vitalidade e frescura capazes de satisfazer uma geração inteira, é remédio santo para toda a doença (não há cismar que resista a “We Feel Top” ou nostalgia que não se sinta aconchegada por “A Cockle in the Shell”). O único álbum dos Pinhead Society é perfeito na sua dimensão (arquitectada pelo multi-colorido que se espalha pelas suas dez faixas), compacto na sua conceptualidade subtil, adequado a quantas ocasiões os verdes anos reservam. Escuta-se e volta-se a ele como a uma bicicleta BMX.
A condição de debutantes e a postura low-profile leva a crer que os próprios Pinhead Society não fizessem ideia da importância que Kings of our Size viria a ter como radiografia emocional de uma geração à porta da idade adulta. Apetecia prolongar indeterminadamente a juventude ao som de “Story Game” e “Hi, Mrs. Sparks” e recorrer a “The Booze” como escape à ameaça das Provas Globais. Fosse necessário condensar em poucos minutos toda a inquietude e ansiedade de quem viu demasiados episódios de V – Batalha Final e, para tal efeito, bastaria “Heaven must be Boring” – espécie de representação musical do cruzamento entre a psique do jovem comum da segunda metade da década de 90 e os moldes alegóricos usados por David Lynch em Eraserhead – No Céu tudo é Perfeito, com direito a interferência de telemóvel e tudo. Kings of our Size roça a perfeição que se espera de um objecto desta (pequena) envergadura. Mas, às vezes, nem o melhor é suficiente.
Fosse eu capaz de fazer chegar uma encomenda à morada celestial de John Peel e este seria o disco que lhe enviaria.
migarsenio@yahoo.com
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