DISCOS
Shed
The Traveller
· 21 Set 2010 · 09:47 ·
Shed
The Traveller
2010
Ostgut Tonträger


Sítios oficiais:
- Shed
- Ostgut Tonträger
Shed
The Traveller
2010
Ostgut Tonträger


Sítios oficiais:
- Shed
- Ostgut Tonträger
Artifícios mínimos na composição. Exercício máximo de depuração do techno de 90.
Sucinto. É este o adjectivo que ocorre no fim da primeira audição deste segundo disco de originais do alemão Shed. E ocorre por dois motivos: primeiro,The Traveller é um resumo delicado e dedicado dos fundamentos que ergueram alguma da melhor produção techno da primeira metade dos anos de 1990; segundo, consegue fazê-lo sem se desdobrar inutilmente no tempo. Ao contrario do que fizera com o debutante Shedding the Past de 2008 em que se alongava no exercício de especulação - onde o minimal e o dubstep eram discretamente somados à equação - Shed vai agora directo à matéria-prima predisposto a depura-la, recusando-se no fim a adornar o material em mãos com qualquer tipo de artifícios fúteis.

Dois anos passados de um álbum estreia mais voltado para as pistas de dança, a noção de produção-absolutamente-indispensável parece ter tomado em definitivo os desígnios de um Shed cada vez menos dançável. Rene Pawlowitz (o nome deste produtor alemão) subjuga de forma pragmática o IDM de 90 extraindo das bases o essencial que a série Artificial Intelligence da Warp (de Aphex Twin a Black Dog), a Rising High (essencialmente com os The Irresistible Force) e a segunda fase do techno de Detroit (Carl Craig) legaram para o futuro. Mas fá-lo sem reduzir tudo a um maçudo denominador comum. Cada tema tem a sua personalidade, uma identidade própria onde se reconhecem as características do breakbeat que alimentou a robustez do hardcore ou do jungle, ou os corais melódicos que decoraram o ambient-techno ou o hipnotismo ácido que desencadeou a primeira vaga trance ou até mesmo o minimalismo arcaico promovido pela Basic Channel ou Plastikman. Ouve se de tudo um pouco de tema para tema.

A coerência estética de The Traveller, essa, manifesta-se noutro plano: num espaço virtual exíguo onde ecoa a memória de um tempo distante onde a vontade de correr riscos era um elemento fugaz que permitia uma constante abertura de fendas para novas dimensões sonoras. Um espírito – muito mais que o próprio tempo – que muitos tentam neste momento urgentemente recuperar como necessidade de afirmação positiva numa época – de ilimitado acesso tecnológico – cada vez mais parasitada pelo vácuo criativo de um do it your self sem alma. E não sendo este disco um exemplo de pura inventividade, reconheça-se nele algum do espírito indomável típico do viajante convicto de encontrar o novo eldorado.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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