A idade adulta que vive um das mais intensas tochas do electro sofisticado leva a que esta coloque a si mesma as questões próprias da chegada aos 10 anos de activo: porquê invocar de novo a instabilidade da Detroit fora-de-lei que manchou os nossos pulmões musicais? Vale a pena abdicar da gestão da label Ersatz Audio em prol de plena concentração no plano criativo? Não acordarei um dia destes no lugar de uns Les Georges Leningrad com o corpo revestido de balas? Que hipóteses tem um disco de emular o impacto carnal e choque de uma performance dos Fura Del Baus? A mais recente rodela infernal atribuída à dupla ADULT. apresenta respostas para todas essas e revela-as numa justificada maratona de catorze faixas.

O termo folclore erróneo, mencionado no press release, serve até como nome de código para o electro associado à pose My Space (aquele que escolhe primeiro a maquilhagem), mas tal classificação assenta também a um género que raramente se acobarda na hora em que já parece inevitável o afundamento decadente (e é por isso que as Chicks on Speed continuam a sua demanda quixotesca). Why bother? está repleto daquele tipo de carnificina digital que contempla directamente os contornos do desastre. Despertam apetite mórbido as suas piras que, por combustão de riffs venenosos e de sintetizadores ilimitadamente elásticos, fazem arder o ríspido cantar amazónico da felina Nicola Kuperus. Se todos os desastres assumirem a mecânica viciosa da multi-rítmica locomotiva “I Feel Worse When I’m With You�, unamos as nossas às orações da turba electro para que a cada novo ano surja uma calamidade do calibre de Why Bother?.

Quando pejado de hormonas e brio distinto, o electro puro deixa de ser apenas um concurso disputado entre pernas longas – até porque é injusto conceder automaticamente o titulo desse campeonato à intocável Els Pynoo dos Vive Lâ Fete. Além de que é noção quase incontestável aquela que define o riff de "Deceptacon", das Le Tigre, como crucial ao dourar de uma época pré-milenar em que o electro podia ser militantemente feminino, inteligentemente arty e merecedor do seu próprio veículo mediático (as fanzines especializadas).

Não existe por aqui nada que indicie a vontade de arrebatar o lugar de alguém - Why Bother? limita-se a sinalizar pico de forma atingido por um nome que não se deixa desleixar só por ter assegurado o seu lugar de destaque na movida cena de Detroit. O benefício primário dos ADULT. actuais deve-se, na verdade, a uma noção que o género vezes demasiadas relega a um plano amnésico: todo o tempo que o electro perde na clonização da vizinhança conheceria mais proveitosa aplicação na exploração de ambientes à partida perigosos, movediços e arriscadamente proféticos. Why Bother? conduz o electro por toda a porção imaginativa do fio da navalha. Quando assim é, todo o esforço é válido.