© Pedro Gonçalves |
“Suzanne” é a primeira faixa nesta estreia discográfica de Leonard Cohen, aquele a que tanto chamam poeta como compositor, com igual probabilidade e displicência. Aquela displicência rara, de boa, porque sendo uma coisa ou outra ele é artífice entre os melhores, e não vale muito a pena tentar acolher preferencialmente uma das qualificações. Mas “Suzanne”, ó, “Suzanne”. Os melhores artífices ensinavam os alunos, e eram apelidados de mestres. Leonard Cohen foi mestre com propriedade, sobre mulheres, isto é, a nossa relação com elas, ou a relação delas connosco – o que para ele são coisas diferentes e uma delas tangível – e tanto que aprendemos com ele. Tal como foi mestre sobre religião. “Suzanne” toca nessas duas temáticas. Mas Leonard Cohen não foi sempre poeta e compositor, foi só poeta adolescente antes de ser poeta e compositor trintão. Se não fosse assim, seria possível existir esta “Suzanne”? Seria, seria, mas cremos isso muito improvável, porque a tentar subir essa montanha, muitos morreram pelo caminho. Suzanne, não a música, mas a mulher, a rapariga que lhe serve de musa, tem o intricado e o misterioso que faz parte um pouco de toda a carreira de Cohen. Em 1968 “Suzanne” foi uma composição que ficou como primeira faxa do primeiro álbum de Leonard Cohen. Se só aqui há referência a “Suzanne” quando todas as restantes músicas estão quase ao mesmo nível? Hoje, sim. Para que quem leia este texto tenha tanta compaixão pelas restantes, que as vá ouvir imediatamente.
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