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Topes Ilustres 2018 - Luiza Brina | Graveola
· 20 Fev 2019 · 11:41 ·
© Clarice Lacerda

O Brasil está dividido em duas distintas narrativas que se tornaram muito claras nas eleições do ano passado: há aqueles que, como eu, estão apavorados com o novo governo de ultra direita; e há aqueles que vêem nesse novo governo uma possível salvação -  estes, na minha opinião, imersos em uma hipnose gerada por fake news, pelo cansaço de viver num país extremamente desigual, pela dificuldade de lidar com seu preconceito e pelo ódio ao antigo governo. 
 
O clima no país está tenso e não parece ser possível estabelecer diálogos racionais: esse embate de narrativas é muito rígido.
 
Diante desse contexto, tenho sentido que comunicações mais subjetivas são de extrema importância. Talvez a canção seja uma experiência que permita uma empatia geral, penso que ela é uma espécie de convite a um resgate de humanidade, um pacto de paz, que permite a qualquer um ter acesso direto a seus sentimentos mais particulares de amor, alegria, esperança e também à dança e, assim ao próprio corpo.
 
Sendo assim, o que me fortaleceu em 2018 foi:
 
Gilberto Gil com Ok Ok Ok e Gal Costa com A Pele do Futuro.
Esses dois gigantes artistas consagrados lançaram seus mais recentes trabalhos em 2018. É preciso destacar a canção Viagem Passageira, composta por Gil, e cantada por Gal: é maravilhosa. É preciso destacar também a presença de compositores mais jovens cantados por Gal: César Lacerda, Silva, Tim Bernardes, Dani Black. 
 
Thiago Amud com O Cinema que o Sol não Apaga e Ilessi com Mundo Afora: Meada.
São discos imensos e intensos, canções ora muito complexas, ora doces, paisagens densas. Ambos os discos tem os arranjos ousados e virtuosos do Thiago Amud. Ilessi é das maiores cantoras da minha geração. Tive a alegria e a honra de tocar baixo e algumas percussões nesse disco dela.
 
Fiz arranjos e gravei violões, baixos, pianos, percussões, baterias, junto do Chico Neves no disco de Julia Branco, Soltar os Cavalos. Me alegro muito por ter feito parte dessa estréia da Julia, fiz com muito carinho. O disco retrata o feminismo de maneira poética, uma linda leitura da Julia sobre esse tema tão importante. 
 
No ano passado conheci Marina Sena. Sua voz é muito bonita e precisa, sua atitude é firme. Ela é de Taiobeiras, norte de Minas Gerais, mora atualmente em Montes Claros. Suas raízes estão muito presentes na sua personalidade e na sua música. Isso é muito lindo, ela carrega um outro Brasil (que não este que citei acima) dentro dela. Foi uma descoberta de 2018 pra mim. Ela integra os grupos A Outra Banda da Lua e Rosa Neon.
 
Luiza Lian lançou, no ano passado, um disco muito importante: "Azul Moderno". Com a produção dividida entre o Charles Tixier e o Tim Bernardes, o disco tem uma sonoridade meio eletrônica meio acústica, com timbres excepcionais, uma produção primorosa. Enquanto isso, as canções tem melodias que me lembram cantigas das culturas populares do Brasil. As letras são muito fortes, como "essa rua tem o nome de um rio que a cidade sufocou".
Luiza Brina

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