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Topes Ilustres 2018 - Leandro César
· 23 Jan 2019 · 11:10 ·
7 Discos e um vídeo de 2018
Essa não é uma lista de melhores, é uma lista das coisas que mais ouvi dentre os lançamentos do ano de 2018, das coisas que mais me chamaram a atenção.
O disco Canto Guerreiro - Levantados do Chão do cantor Renato Braz é um disco de 2018 mas soa 1968, necessário nesse momento do Brasil. O discurso poético-político e os arranjos nos transportam para o passado mas aponta uma direção do futuro sonhado num pesadelo presente. Pra mim, da clássica MPB, Renato Braz é dos artistas que sabem como seguir essa tradição com respeito e competência. O álbum é lindíssimo e conta com ótimas surpresas ao longo dos seus 68 minutos como a participação de Milton, Chico e Gil.
Um mundo imaginal muito real. De cenas fortes, líricas, oníricas e satíricas Thiago Amud fez O cinema que o sol não apaga. Um longa metragem da música brasileira. Original ele leva o tropicalismo a novos lugares. O disco conta com 108 músicos e ousa de instrumentações inesperadas e instigantes. Um melodista tortuoso e certeiro, um arranjador sem medos e um letrista virtuoso.
De Pernambuco gostaria de destacar dois discos: Racif de Amaro Freitas e Maga Bo apresenta Coco Raízes de Arco Verde do grupo Coco Raízes de Arco Verde. Caminhos complementares da música brasileira. De um lado Amaro numa formação tradicional de piano, baixo e bateria apresenta um tempero novo ao que se chama de jazz, mas que no Brasil tem outros nomes: baião, xaxado, cavalo marinho, frevo ou maracatu. Do outro lado um grupo tradicional do agreste pernambucano apresenta seu primor de sapateados, batuques originais com uma sutil e respeitosa intervenção eletrônica.
Com todas letras assinadas pelo artista Nuno Ramos, Romulo Froes fez meio dia ter 13 horas. O Disco das Horas, foi arranjado e dirigido por Thiago França do trio Metá Metá. A mimese entre letras e arrajos não é obvia, pelo contrário, a cada nova audição se descobre algo novo nesse emaranhado de ponteiros.
Aqui não falo exatamente do disco, pois a audição me cansou um pouco, mas é inegável que tem uma produção impecável. Há peças preciosíssimas no Bluesman de Baco Exu do Blues. Destaco a canção “Bluesman”, “Queima minha pele” e “Preto e Prata”. Já o que mais impacta é o vídeo clipe que une várias músicas do disco em uma obra incrível, um esfregão na cara dos racistas. O primoroso trabalho da Stink Films e do diretor Douglas Ratzlaff Bernardt escancara o que é obvio no Brasil: mesmo sufocada e com poucos recursos, a qualidade artística de um povo que cria pra sobreviver, e sobrevive pra criar.
O trio Aca Seca lançou Trino, onde reafirmam delicadeza e apuração técnica após nove anos sem gravar. Os arranjos vocais são sempre surpreendentes deixando o tradicionalismo das terças de lado e investindo num polifonismo mais ousado e lírico. A canção “Ir Yendo” de Edgardo Cardozo e “A mi patrón” de Frederico Parra são duas pérolas dentre pedras preciosas. Esse disco mostra o quanto a música argentina está num ótimo momento.
Rafael Macedo é sem dúvida dos compositores mais interessantes do Brasil atual. Após alguns anos sem gravar apresentou em 2018 seu Microarquiteturas. O disco é o uma ópera moderna, uma peça de teatro musicalizada em alto nível. Ousadia nos arranjos, instrumentação, letras e interpretação faz dele meu preferido, o destaque do ano. Um disco que está no subterrâneo, e que escavações no futuro darão o real valor a essa obra. A arqueologia da arte não falha. Já a velocidade dos bites não permite a muitos o gozo da real escuta.