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Gajo dos Titus Andronicus obriga-te a olhar para dentro e reflectir sobre a tua vida
· 03 Nov 2009 · 11:07 ·
O que é que tu fizeste no Halloween? Vá, pronto, no Dia das Bruxas, que isto é em português. Embebedaste-te como noutro sábado qualquer e, consequentemente, disseste ou fizeste algo de que te arrependes agora. Isto, claro, se te lembrares do que foi. Provavelmente nem sequer te mascaraste porque isso não é bem tradição por cá. Mas há quem tenha feito muito mais. Muito mais. A Vice – que tem uma congénere portuguesa que ainda não faz estas coisas –, por exemplo, deu uma festa em Brooklyn. Onde tocaram os Bad Brains, os Jesus Lizard e os Titus Andronicus. E era uma festa temática. O tema? 1994. Como era uma festa temática, os Titus Andronicus decidiram fazer um concerto em que só tocaram versões dos Weezer. O que, diga-se de passagem, é o melhor conceito de todo o sempre. Brilhante. Estamos a falar de 1994, e pensar em 1994 e não ver azul é basicamente ser daltónico.

Mas aconteceu algo não muito bonito nessa festa. Patrick Stickles, guitarrista e vocalista dos Titus Andronicus, não gostou nada do ambiente. Saiu para acompanhar o seu engate à saída – diz que não a trataram nada bem – e depois tentou voltar e foi barrado à porta por ter uma bandeira dos Estados Unidos a fazer parte da máscara dele. Isso e estar a usar collants. Um idiota qualquer de um segurança deu-lhe porrada. Tal e qual os gajos que lhe batiam no liceu porque ele era "diferente". Lembras-te dos teus anos de liceu? Também apanhavas porrada? Agora és rei? Será que isso mudou assim tanto? Teve de entrar pela porta de trás ou algo parecido. Estar a resumir isto é aborrecido. É provável que nem queiras saber dos Titus Andronicus (poucos de nós querem). São só mais uns tipos, putos, jovens, etc., que tocam canções rápidas e barulhentas e não se percebe nada do que estão a dizer. Uns punks modernos, pronto. O que interessa mesmo é que o tipo escreveu no blog deles um óptimo texto sobre a noite. Disse mal dos Bad Brains e como deram um concerto aborrecido sem sequer se esforçarem porque se drogam imenso, entre outras coisas. Falou sobre como, por dinheiro, aguentou a festa toda. Sobre como os tipos que lhe bateram são como os tipos que lhe batiam no liceu. Isto num sítio em que é suposto ele, como hipster ou o caraças, ser rei. Reflectiu sobre a vida hedonista desta juventude, das drogas, da música alta, das fotografias para pôr no Flickr e no Facebook, das drogas, da bebida, das saídas nocturnas e do caraças. O que é que isto tudo quer dizer? Será que vale tudo a pena? Que exemplo estás a dar à próxima geração? Aos putos que andam a crescer com o Twilight e a exaltação da abstinência e da beleza extrema (e o facto de o filme ser para adolescentes mas não ter piadas nenhumas, foda-se, a vida é uma merda e o caraças, mas porque é que não podemos rir-nos disso, que é isso que é preciso e que forma o carácter?). Essa geração de putos que não sabem rir também vai estar perdida e a culpa é tua.

Pensa bem nisso. Não são os Black Lips (e que se deixe isto bem claro: Black Lips > outras bandas destas) que vêm cá para a semana (dia 11 na Caixa Económica Operária)? Já deves estar a sujar ainda mais os teus ténis, a pôr as tuas skinny jeans a cheirar mal e talvez a deixar crescer um bigode ou algo do género e, se for essa a tua chávena de chá, a ligar ao teu dealer para teres todas as tuas drogas favoritas nessa noite. Vais embebedar-te? Fixe, provavelmente eu também. Mas pensa um bocado. Dá graças (a Deus ou à dupla Gomes) por Lisboa, pelo menos, raramente ter porteiros assim nos concertos que curtes. E será que o gajo dos Titus Andronicus vai continuar a fazer textos destes? Qualquer dia é o novo Carles.
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net

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