ÚLTIMAS
Topes Ilustres 2015 - Luiz Gabriel Lopes | LG Lopes / Graveola e o Lixo Polifônico / TiãoDuá
· 18 Jan 2016 · 21:53 ·
© Maria Vaz

2016 começou e eu já na estrada, explorando cores e sabores numa viagem de pesquisa e retiro pelos Brasis do norte. No momento estou em Belém do Pará, a "cidade-luz da Amazônia", após passar por Macapá e pela ilha de Marajó em situações com internet precária e muitos estímulos offline. Respondo, portanto, com atraso, o pedido do meu camarada André Gomes, para listar alguns dos meus álbuns favoritos do ano que passou, para o site da Videoteca Bodyspace. Mas vamos a isso.

Pensei um bocado sobre que direção tomar nessa lista. Afinal há um oceano de possibilidades, música de todos os tipos & por todos os lados. A produção brasileira, da qual estou mais próximo por geografia e afeto, é gigantesca. Definitivamente não farei aqui o papel de alguém que acompanhou verdadeiramente a enxurrada de álbuns lançados. Sou antes um compositor-ouvinte, um ouvinte-autor, interessado na diversidade de sons e sotaques, imagens e ritmos que nos atravessam por este país de cá. Não tanto um pesquisador dedicado, mas um escutante apaixonado pela lei natural dos encontros.

É nessa vibração que procurei listar, portanto, uma dezena de álbuns que me atravessaram o percurso do ano por vários motivos, proximidade, envolvimento e afeto, sempre com intensidade transformadora. Não em nenhuma ordem de preferência: tenho grande apreço por cada um deles. Com pequenos comentários.

Virgínia Rodrigues (BA) - Mama Kalunga

A voz da baiana Virgínia Rodrigues é um tesouro secreto. Pedra densa e de brilho ímpar, reluz numa velocidade lenta e mágica ao longo do álbum. A acertadíssima produção de Tiganá Santana encerra a atmosfera das canções numa névoa que convida a uma escuta ritual. Lindíssimo disco.



Pietá (RJ) - Leve o que quiser

Fui ao show de lançamento deste álbum no Rio de Janeiro, em outubro do ano passado. Saí de lá maravilhado com a força e a potência da música deste grupo, que mistura a inspiração lírica e melódica de raiz nordestina com informações da contemporaneidade urbana, na concepção de harmonias e arranjos. A cantora Juliana Linhares me impressionou muito pela vitalidade de sua performance. Escrevi um texto apaixonado sobre o show, aqui.



Xangai (BA) - Xangai

Xangai é um dos grandes mestres cantadores da música brasileira. Guardião de uma sabedoria popular já quase extinta, em seus trejeitos e linguajares muito próprios, lança este álbum de voz e violão após largos anos sem um disco inédito. É um dos principais intérpretes de grande parte do cancioneiro brasileiro folk de raiz nordestina, e sua obra como autor se mistura à de seus muitos parceiros. Nos anos 80, participou do lendário projeto Cantoria, que percorreu o Brasil numa caravana de cantadores ao lado de Elomar, Vital Farias e Geraldo Azevedo, resultando em dois grandiosos álbuns ao vivo.

Infelizmente não encontrei seu disco disponível online.

Gustavito (MG) - Quilombo Oriental

Gustavito é um dos grandes faróis da nova geração da música produzida em Minas Gerais. Acompanho suas peripécias como compositor desde antes de seu primeiro disco, o obscuro "Dezessete Faces", quando ainda assinava por Gustavo Amaral. Sua grande estréia com o novo codinome acontece com o maravilhoso álbum "Só O Amor Constrói", já refletindo cores astrais do carnaval de rua de Belo Horizonte, no ensolarado verão de 2012. Em "Quilombo Oriental", Gustavito aprofunda sua pesquisa solar, fortalecendo a persona festiva e colorida de suas inspiradíssimas composições, já decantadas pelo calor dos anos e vestidas por arranjos de uma fabulosa banda. Tenho a sorte de tê-lo como amigo e parceiro!



Iconili (MG) - Piacó

Conheço o Iconili desde quando eram um quinteto, mais ligado a experimentações na linguagem do post-rock, com riffs hipnóticos e uma musicalidade fortemente influenciada pelas trilhas sonoras de road-movies. Após mudanças na formação, a banda cresceu e se tornou um grupo de 13 (!!), ampliando sua pesquisa na direção do afro-beat e da música orquestral brasileira filiada à escola de Moacir Santos. Suas apresentações ao vivo são sempre incendiárias. "Piacó" é pra mim um dos grandes lançamentos de 2015.



Tiganá Santana (BA) - Tempo e Magma

Das grandes descobertas musicais dos últimos anos, a música de Tiganá Santana ocupa hoje um espaço privilegiado na minha prateleira espiritual e afetiva. Estudioso das matrizes culturais afro-brasileiras, Tiganá utiliza línguas africanas em suas canções, e também escreve em português, inglês e francês. Sua música reflete talvez o sentido original do termo world-music, resultando numa mistura singular e própria, em que se ouve a voz de um autor maduro e de larga envergadura musical e poética. O som de sua voz e seu violão-tambor revelam pra mim algo próximo do sagrado.



Pedro Carneiro (RJ) - Vovô Bebê

Pedro Carneiro é um extraterrestre. Sua música vem de um planeta muito especial, estranho e maravilhoso. Integrante do grupo "Dos Cafundós", Pedro estréia como solista em "Vovô Bebê". O álbum é um mergulho pelas águas densas e imprevisíveis de um compositor tão original quanto indescritível. As letras transbordam uma poesia coloquial altamente, sempre com traços de um humor sarcástico. A valiosa assinatura do mestre Chico Neves na produção do disco torna o resultado ainda mais saboroso. Não indicado para os ouvintes preguiçosos, fundamental para os curiosos.



Di Souza (MG) - Não Devo Nada pra Ninguém

Di Souza é um acontecimento. Como diz uma amiga, "ele nasceu para o showbusiness": sua desenvoltura como band-leader é a de um comediante em plena forma, seguindo os trilhos esquizofrênicos e geniais de Tom Zé. Após longos anos trabalhando como músico e arranjador em diversos projetos da cena mineira, Di Souza vem a público com seu primeiro álbum solista em grande estilo. "Não Devo Nada pra Ninguém" é uma viagem insana pelos mil planetas do universo de um artista tão complexo quanto popular. A ironia fina das canções se revela nas múltiplas camadas dos engenhosos arranjos. Perdi o show de lançamento, em dezembro de 2015, em Belo Horizonte, mas soube que foi histórico.



Zé Manoel (PE) - Canção e Silêncio

Em junho deste ano, fui ao show de lançamento do álbum Canção e Silêncio, do compositor pernambucano Zé Manoel. Sempre tive boas referências dele, mas ainda não conhecia seu trabalho a fundo. Neste concerto me felicitei por conhecer mais de perto amúsica de um cantautor cardíaco e classudo. Cantando os temas ao piano, Zé Manoel trilhava o caminho do concerto com segurança e humildade. Os pés fincados na tradição lírica e melódica do nordeste, com a sutileza de uma abordagem contemporânea nos arranjos. O álbum é um abraço para os ouvidos.



LG Lopes (MG) - O Fazedor de Rios

Em 2015 lancei este que é meu segundo disco solo. Fruto de um lento processo, disperso em três anos produzindo nas brechas do cotidiano, é um álbum que fotografa uma parte significativa da minha produção como compositor, que ainda não tinha sido registrada nos grupos que faço parte. Além dos "Escafandristas", a banda base deste projeto, tive a alegria de contar com participações muito especiais, dentre as quais o meu camarada e professor Chico César.

Luiz Gabriel Lopes

Parceiros