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Stephan Mathieu reescreverá os Mão Morta em Braga
· 25 Mar 2015 · 15:03 ·


O alemão passará pelo bonito Mosteiro de Tibães para reinterpretar a música dos Mão Morta, que assinalam trinta anos de existência e fizeram deste mundo um lugar melhor. Mathieu, sound artist que conta no seu currículo com colaborações com gente como David Sylvian, Hans-Joachim Roedelius e Jozef van Wissem, bem como uma longa discografia a solo, actua no próximo dia 27 de Março, sexta-feira, com os bilhetes a valer 7€. Numa altura em que já está a passear-se por Braga, perguntamos-lhe o que há a esperar deste espectáculo.

Que o fez escolher a música dos Mão Morta? Sendo-se português, é fácil perceber o seu apelo, mas como é que este se traduz para alguém que não é um falante nativo da língua? Quais são os seus discos ou canções dos Mão Morta predilectos?

Na verdade, foi o Luís Fernandes, do GNRation, quem me propôs trabalhar com a música dos Mão Morta. Apesar de estar familiarizado com o nome, não tinha ouvido ainda a sua música. O conteúdo lírico permanece para mim um mistério. Lendo acerca da história da banda, das suas motivações, e tendo ouvido realmente a música, deixa-me com uma impressão forte - algo que, para mim, serve de base ao meu trabalho. Não ouvi ainda as canções [contudo], mas tenho, desde o início do ano, passado um tempo intenso a escutar as pistas individuais dos seus três últimos discos. Tinha todos os ficheiros originais das suas sessões de gravação, das guitarras, dos teclados, do baixo e dos vocais, e fiz uma selecção a partir daí. Esta tornou-se o material com o qual estou a trabalhar.

Deveremos encarar este espectáculo como um retrabalhar de algo já existente, enquanto uma remistura da música dos Mão Morta, ou enquanto algo inteiramente diferente e/ou novo?

Não esperem, por favor, uma remistura clássica. Tenho-me dedicado a retrabalhar a música de vários artistas desde finais dos anos noventa, e o meu método é sempre criar um trabalho acerca destes artistas, uma espécie de meta-música, ou aquilo que encaro como um retrato sónico. Basicamente, procuro uma essência da sua sonoridade, aquilo que recebo como sendo a sua essência. Daí que o meu trabalho para os Mão Morta seja muito mais uma peça sobre a sua sonoridade mais do que sobre a sua música ou as suas canções; é mais um reflexo do que uma interpretação.

Que podemos esperar deste concerto, sonora e visualmente? Funciona como que numa peça de teatro, na qual é um actor vestindo a pele de outrém?

É uma ideia interessante. Contudo, não sinto vontade de vestir a pele dos Mão Morta; usarei, isso sim, as suas palavras para falar a minha própria língua. Para o concerto usarei igualmente os amplificadores de guitarra e baixo da banda, algo com o qual estou bastante satisfeito. Tocarei numa sala maravilhosa no Mosteiro de Tibães, sendo que o espaço em si é tão importante quanto o som - torna-se parte do meu instrumento e, juntamente com a sonoridade dos Mão Morta, será a estrela do serão.

Como têm decorrido os ensaios? Os Mão Morta são uma banda que é tão importante musicalmente como liricamente. Sendo que a sua música se baseia em paisagens electrónicas, como traduzirá a parte lírica?

À data de hoje ainda não tenho 100% de certezas de que incorporarei a voz do Adolfo de uma forma que se torne claramente perceptível. É quarta-feira, e a peça é um trabalho em curso que só terminarei ao vivo, na sexta.

Não é a primeira vez que toca em Braga. Que pensa da cidade?

Amo a vossa cidade, muito bonita, e carregada de história. Estou satisfeito por poder passar aqui algum tempo.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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