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Topes Ilustres - César Lacerda
· 19 Dez 2014 · 15:07 ·

 
2014 pareceu-me um ano energeticamente conturbado e demasiadamente rápido. Sinto que de certo modo isso vazou para dentro de tudo e ocupou os poros da pele do ano.
 
Mas em suma...
Ouvi muito e com muito carinho o disco "This is all yours" do Alt-J. Sua dimensão espiritual e sua relevância como obra me captaram profundamente. 
 
Numa outra ponta da escuta, "Tomorrow's Modern Boxes" do Thom Yorke ocupou meus ouvidos nos períodos de caminhada para a natação.
 
"You're Dead!" do Flying Lotus me impressiona pela qualidade soberba com que se trata a produção musical. Sinto-me a estudar música.
 
Por fim, "Built on Glass" do Chet Faker é um disco iluminado. A riqueza simples das canções, a voz sensível e sensual do Nicholas, o jeito novo e cuidadoso de tratar as programações eletrônicas. Gosto muito!
 
No Brasil, estive conectado emocionalmente a dois discos de São Paulo. De um lado o rapper Criolo e o seu "Convoque o seu Buda", disco rico musicalmente e forte pelo arcabouço de duras e reais imagens mostradas pelo paulista. Ficamos todos muito perplexos quando expostos à verdade muito viva das coisas, mostradas de forma tão sensível. Estamos todos convidados...
 
De outro lado, "Policromo" do 5 a Seco. Primeiramente, por Vinicius Calderoni, um dos maiores pensadores e artistas da nossa época. Em segundo lugar, por Tó Brandileone, que em tudo que toca torna música. Por fim, pelo coletivo: emocionado, amoroso, jovial, sem fronteiras, crente dos riscos, os assume.
 
Sobre shows, dois momentos.
 
No primeiro semestre, Gilberto Gil lançando o seu "Gilbertos Samba". Quando estamos diante de um mestre, sentimos com muita força a energia que emana a sua aura e somos levados a apenas fruir tudo, embebedar-se daquele mel. Gil, ao cantar sambas muito íntimos de nossa tradição, eternizados pela voz do grão-mestre João Gilberto, conseguiu, ainda mais uma vez, revolucionar tudo (e ainda, a si próprio). Tudo novo de novo. Com a destreza silenciosa de um samurai, fez um corte justo no seio da tradição e conseguiu extrair leite puro, rico, substancial.
 
No segundo semestre, "Cavalo" de Rodrigo Amarante.
O artista vive a plenitude. Está o tempo inteiro negociando com as mais altas forças do presente para vivê-lo com riqueza. Arrisco dizer que Rodrigo Amarante pretende reiniciar o percurso de Carmen Miranda, ou de Tom Jobim. Deseja carregar o Brasil em sua génese desconhecida, em sua potência nova. Um errante. Cavaleiro sublime dos nossos valores mais desconhecidos.
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