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O Rescaldo pela voz do programador
· 04 Fev 2013 · 18:07 ·
Travassos (c) Vera Marmelo

O Festival Rescaldo está quase a chegar, para dois fins-de-semana com muita música, entre a Culturgest e a Trem Azul. Falámos com Travassos, programador e impulsionador do festival desde a primeira hora, que nos fez um balanço da história do festival e abordou a edição deste ano.

Como tem sido a evolução do Rescaldo, desde as primeiras edições na Barraca até à presente edição?

O festival Rescaldo começou por ser um capricho meu e agora é algo de muito sério. Eu era o programador, o técnico de som, o roadie de serviço, o promotor, fazia o design, imprimia (a preto e branco claro) e colava cartazes e basicamente era pau para toda a obra – tudo isto com um orçamento mínimo a sair totalmente do meu bolso. Agora estou acompanhado por excelentes técnicos, pelos melhores promotores, e por toda uma equipa que garante que todos os problemas ou adversidades sejam resolvidos de forma célere. Por isso a evolução tem sido absolutamente galopante. Proporcionalmente aumentou também a responsabilidade, o que me obriga a fazer um trabalho de pesquisa e análise quase diária para me manter atento a todos os projectos musicais que eventualmente me possam interessar para fazer parte do programa do Rescaldo. Confesso aqui que o Bodyspace continua a ser uma referência obrigatória de consulta. Apesar de tudo o fundamento e o conceito continuam firmes e muito próximos da ideia original. Talvez se tenha perdido um certo espírito underground associado ao Rescaldo mas muitas causas favoráveis se conquistaram – e isso é um grande orgulho.

A parceria com a Culturgest é importante para o crescimento do festival?

A parceria com a Culturgest é absolutamente determinante para o crescimento deste festival, e creio que de qualquer projecto que se associe à a esta casa. Estamos perante uma estrutura altamente profissional com uma poderosa capacidade de promoção e de resolução de todo e qualquer problema técnico por mais inviável que ele possa parecer. Outro aspecto fundamental é a imagem de credibilidade que esta associada a esta estrutura o que me possibilita continuar a aventurar na programação sem que isso constitua um risco. Consequentemente conseguimos, cada vez mais, chegar a um número mais diversificado de pessoas.

Uma das novidades do Rescaldo do ano passado foi o lançamento da label Shhpuma. A Shhpuma continuará ligada ao Rescaldo, a editar nomes que já passaram e vão passar pelo festival?

O Rescaldo e a Shhpuma têm uma ligação amorosa por afinidade. A Shhpuma era uma ideia de longa data que estava nos planos da Clean Feed / Trem Azul, pois enquanto editores sempre tivemos vontade de prestar o nosso Know-How para apoiar a crescente ebulição de bandas e projectos nacionais de qualidade superior – Coisas a crescer e a gravitar à nossa volta – principalmente porque o local da Trem Azul assumiu-se como um ponto de encontro de inúmeros músicos que sentiram um acolhimento e um apoio seguro – no fundo acho que se trata de mais um reflexo do genérico crescimento da musica feita em território nacional. O prosperar do Rescaldo e a sua afirmação pareceu-nos a oportunidade ideal para lançar o projecto tendo em conta que muitas das bandas que passam pelo festival podem ser potenciais edições da Shhpuma, em conjunto pode ser considerado quase como um projecto integrado que vai mais para além dos concertos.

Sentes que o Rescaldo e a Shhpuma já conseguiram deixar uma marca no panorama da música nacional?

Sem qualquer dúvida que sinto isso. O Rescaldo de uma forma muito notória, a Shhpuma é um rebento pequenino que se esta a tentar afirmar a pouco e pouco numa altura em que o mercado discográfico está em queda livre com assombros de extinção nos moldes que o conhecemos. Basicamente uma altura difícil para levar a bom porto um projecto desta natureza. Por outro lado um dos principais objectivos da editora é a internacionalização destes projectos que consideramos que têm muito valor e merecem ser conhecidos para além deste pequeno rectângulo com um mercado e uma massa critica diminuta. É uma arena com muitos vícios e ciclos muito pequenos absolutamente interdependentes, que se autodefendem com unhas e dentes, e sem qualquer escrúpulo - não é valorizado o que estás a fazer, mas sim se és um concorrente ao estatuto de outros. Esta tacanhez é quase uma imagem de marca do país, sendo por isso mais difícil deixar um rasto que seja considerada importante no panorama da musica nacional. Contudo considero que o resultado superou as expectativas tanto ao nível da crítica intrenacional como da nacional. Sinto com realismo que estamos só agora a formar catálogo e temos ainda muitas provas para dar. Agora é continuar o trabalho na mesma direcção e ir corrigindo todos os erros detectados e melhor todas as estratégias.

Quais são os destaques da programação de 2013?

Os destaques da programação são relativos, têm a ver com os interesses de cada um e da forma como os projectos são mais populares ou não. Claramente que à percepção desarmada os projectos que mais se realçam são os Black Bombaim o Filho da Mãe e os Pop Dell Arte porque são aqueles que as pessoas mais conhecem, todavia um dos objectivos do Rescaldo sempre foi revelar ou dar oportunidade a alguns projectos menos célebres ou entendidos de terem a projecção que merecem. Por isso os meus destaques caem, sem grandes dúvidas, para o Almost a Song da Joana Sá e do Luís José Martins, génio e sensibilidade são a palavra deste duo que é um verdadeiro diamante da nossa música. Estou também com grandes expectativas relativamente ao concerto do Bruno Béu, um músico praticamente desconhecido que tem dedicado o seu tempo a escrever música para teatro e à filosofia. Esta neste momento a compor especificamente para o festival umas peças electroacústicas para electrónica e piano que creio que iram surpreender muita gente. Estou também seguro que os Tropa Macaca vão dar um concerto de arromba, pois vão chegar de uma longa digressão europeia com uma rodagem altíssima e este será o seu primeiro em concerto em solo luso após a digressão. Outro dos projectos muito frescos do panorama e com um incrível potencial é o Rodrigo Amado Hurricane que junta os incríveis Gabriel Ferrandini e DJ Ride - acho que este concerto vai deixar muitas marcas.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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