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Primavera Sound Barcelona: que tens tu?
· 17 Mai 2012 · 01:56 ·
O tic-tac para a felicidade já começou. O Primavera Sound chega este ano ao Porto mas o Bodyspace percorre uns quantos punhados de “extra miles” para encostar o ouvido ao solo e ouvir os gritos de guerra no quartel-general dessa Meca da música ao vivo na Europa: Barcelona. Entre 30 de Maio e 3 de Junho, vamos arriscar um enfarte do miocárdio e tentar ver com estes que a terra há-de grelhar o maior número de bandas. Vamos molhar os pezinhos no Mediterrâneo. Vamos engolir uns hectolitros de San Miguel e tentar esquecer que a cerveja portuguesa é mil vezes melhor.
Mas deixemo-nos de regionalismos e de medir pilas com mais ou menos fermentação. Bem vertidas as coisas, tudo não passa de uns hectares de cereais que acabam repartidos entre as nossas ibéricas urinas e as pegadas alcoólicas no nosso maldito fígado – que Deus terá em eterno descanso quando nos finarmos. Um dia seremos todos estupidamente mais velhos e abanaremos a cabeça em reprovação ao relermos estas linhas. Mas até esse dia chegar há muita música para retinar com os olhos mais ou menos húmidos de emoção adolescente e os braços erguidos ao firmamento catalão.
Se o Primavera Sound só nos banqueteasse com a sacrossanta Cuba – naquilo-que-a-nação-de-Castro-pode-ter-de-sacrossanto, pressupuesto! – perdida de amores pelas Áfricas (Afrocubism, 01 de Junho), a guitarra que continua a sacar acordes apesar do divórcio mais temido mas consumado entre a comunidade indie (Lee Ranaldo, 31/05), o cheiro a napalm logo pela manhã – vamos arriscar: pela noite, pronto! – (Napalm Death, 01/06), o regresso do amante irregular de Anne Frank, quase uma década e meia depois da edição do segundo e derradeiro disco dos Neutral Milk Hotel (Jeff Mangum, 01 e 02/06), e do rock matemático e dengosamente angular dos Chavez (01/06), já devíamos dar o nosso dinheiro por bem gasto.
Acontece que o festival ainda atenta contra o nosso descompassado ritmo cardíaco com argumentos imbecilmente bons como o Pai, o Filho e o Espírito Santo dos Girls (já os vimos em Madrid e em Lisboa e voltaremos a sacar miúdas à conta deles a 01/06), a pop fantasmagórica – e gélida a espaços –, testemunho actual da vitalidade da 4AD (Grimes, 31/05), o mestre do corta-e-cola da escola dubstep (AraabMUZIK, 01/06) ou os retornados Melvins e The Cure (ambos a 01/06) e Mazzy Star, Mudhoney, Spiritualized e The Afghan Whigs (todos no último dia deste maduro Maio).
No entanto, as contas deste rosário indie não se ficam por aqui e aqui ficam algumas outras, respeitando a ordem alfabética: Atlas Sound, Black Lips, Chairlift, Chromatics, El-P, Hanni El Khatib, Hype Williams, Japandroids, Josh T. Pearson, Marianne Faithfull, Michael Gira, Neon Indian, Real Estate, SBTRKT, Shellac e Sleigh Bells. E ainda: The Drums, The Olivia Tremor Control, The Rapture, The War On Drugs, Thee Oh Sees, Washed Out e Wavves. São tudo capelinhas que gostaríamos de visitar nesta peregrinação que nos vai esfolar os joelhos mas alimentar a alma às colheradas.
Esperamos sobreviver para contar e, já agora, não poderíamos fechar este texto sem deixar aqui um vigoroso “thumbs down” para um dos nomes que mais nos deixou a salivar por uma passagem para a Catalunha. Os Death Grips cancelaram todas as datas (incluindo a presença no Primavera Sound) para se concentrarem nos acabamentos do novo disco, que deverá sair no Outono. Isto é o que não veremos em Barcelona:
Por estes dias, Björk também cancelou a presença em Barcelona e no Porto mas por razões de saúde. Aqui fica o desejo de rápidas melhoras para a nossa islandesa preferida.
Toda a informação aqui: sanmiguelprimaverasound.es.
hefgomes@gmail.com