O festival Rescaldo realiza-se entre os dias 17 e 21 de Abril e promete apresentar ao vivo, na Culturgest e na Trem Azul, um conjunto de propostas entusiasmantes vindas de diferentes geografias estilísticas. Fomos falar com o programador Travassos, que nos apresentou o festival, na primeira pessoa.

Podes fazer uma apresentação do Rescaldo, para quem ainda não o conhece?

O Rescaldo aterrou na capital em 2007, um ano depois de eu ter chegado a Lisboa, vindo de Barcelona. Estando longe existe sempre uma vontade diferente de estar atento ao que se vai passando no nosso país e a particularidade é que observas as movimentações de cima como um todo, analisando obviamente as suas diversas vertentes. Quando cheguei fui procurar essas referências que me entusiasmavam, e o que encontrei foi uma série de grupos e tribos, cada uma encerrada na sua redoma com aversão ou fobia pelo seu diferente. Pensei que isto não fazia sentido, pois estas pessoas tinham tantos pontos em comum que deviam cruzar e partilhar os seus conhecimentos e as suas vontades. Como já tinha alguma experiência em direcção artística e produção decidi criar um festival onde conseguisse apresentar projectos de áreas diferentes em confronto para o mesmo público - ou seja misturar o público da electroacústica com o indie ou o jazz com a electrónica, quase que obrigando-os a assistir a um concerto diferente que, noutras condições, não optariam por ver. E foi isso que aconteceu desde as primeiras edições tendo como conceito ou motivo de fundo de fazer um rescaldo (ainda que superficial e tendo em conta a visão do programador) do que se tinha passado de mais relevante, nessas diferentes correntes, no decorrer do ano anterior.

Que balanço tens feito das últimas edições?

As últimas edições têm sido uma surpresa absoluta. Desde o momento em que optámos pelo espaço da Barraca para acolher a maior parte do evento, as condições começaram a melhorar aos poucos e conseguimos alguns simbólicos apoios que ajudaram o festival a crescer e a solidificar-se. Nomeadamente as duas últimas edições tiveram um especial encorajamento por parte do público e da imprensa, que começou a reconhecer o festival como algo com pertinência e valor. Na última edição a coisa rebentou: salas cheias, concertos memoráveis, alto ambiente e muita partilha. Os objectivos estavam cumpridos.

Quais são as novidades desta edição 2012?

A grande novidade desta edição é a chegada do festival à Culturgest, é o maior passo que alguma vez podiamos ter dado. As condições melhoram exponencialmente em todos os aspectos. Principalmente para os artistas, a produção e a promoção. E isso é extraordinário. A outra boa novidade é que vamos aventurar-nos numa nova editora, que tem como objectivo registar este fervilhar de boa música que brota por todas as partes deste pequeno país. E, mais uma vez, ajudar os músicos a mostrar o seu trabalho de uma forma coordenada e expansiva. É um projecto que está sob a alçada da Clean Feed. Vamos aproveitar o "know-how" que acumulámos no trabalho desta grande editora para o aplicar a este novo modelo com uma grande finalidade: internacionalizar estes artistas.

Quais são os destaques da programação deste ano?

Os destaques da programação recaem para dois inéditos encontros que nos deixam com água na boca: o dueto de dois grandes da nossa música, Norberto Lobo e Carlos Bica, e o confronto benigno de 2/3 dos Sunflare com o duo Gabriel Ferrandini / Pedro Sousa. Não menos importante: o primeiro grande concerto do João Alegria Pécurto, que nos presenteou recentemente a sua belíssima música; os Cangarra em grande período criativo; os Olive Troops SOS, pela sua originalidade; os Calhau, que são sempre uma caixinha de surpresas; ou o nosso ilustre André Gonçalves, detentor de muitos e surpreendentes talentos.
Motivos não faltam para assistir aos concertos – ainda por cima os bilhetes são muito acessíveis.

Há planos continuar o festival em 2013 e nos próximos anos?

A Culturgest já mostrou interesse em dar continuidade ao festival (aos quais deixo aqui um enorme agradecimento). Contudo o futuro anda movediço e imprevisível. Mas nós continuaremos por cá preparados para contornar todas as adversidades e fazer o Rescaldo acontecer.