No próximo dia 17 deAabril será publicado um novo livro de Rui Eduardo Paes. Chama-se Bestiário ilustríssimo e terá apresenta apresentação pública inserida no Festival Rescaldo e que incluirá uma actuação musical com Maria radich, João Camões e Carlos Santos em que será dito e cantado um texto do autor. O livro tem edição da Chili com carne e conta com ilustrações de Joana Pires. Quisemos saber mais acerca do livro que aí vem e lançamos a pergunta a Rui Eduardo Paes. E tivemos muito mais do que uma resposta. De tal forma que publicamos o texto na íntegra:

“O livro funciona para mim como o fechar de uma elipse. Fui buscar o mesmo título de uma série de textos que publiquei no então jornal Blitz, se não erro entre finais da década de 1980 e inícios da de 90, e que tinham um pendor enciclopédico. Se são outros agora os conteúdos, o espírito é o mesmo: trata-se de prosas sobre músicos que considero importantes. Deste modo, como que dou ao meu percurso de quase 30 anos de escrita sobre música um sentido de work-in-progress. O que tenho feito está sempre em continuidade.

Trata-se de adaptações de 50 textos que escrevi na última dúzia de anos, talvez mais num ou noutro caso, para várias finalidades, entre folhas de sala de concertos e festivais, liner notes de discos, guiões de conferências, artigos de revista e até uma ou outra recuperação de prosas por mim publicadas anteriormente em livro – isso porque, no seguimento da falência da minha antiga editora, a Hugin, os livros que tinha em circulação desapareceram das lojas, hoje só sendo encontráveis em feiras do livro e leilões da Internet.

Há dois deles, como descobri recentemente, que foram digitalizados na íntegra e colocados na Rede. Os meus parabéns pela paciência de quem o fez, scaneando-os página a página... Ganharam uma nova vida quando os julgava mortos, o que me parece positivo apesar da “piratagem�. Peço é que não façam isso com este novo livro, para a editora poder recuperar o seu investimento. Afinal, estive nove anos sem ter um novo título publicado, pois nenhuma editora quis arriscar...

No Bestiário Ilustríssimo, há partes desses textos que foram profundamente alteradas e até alguns títulos são diferentes. O livro não é dividido em capítulos, e isso porque há nexos temáticos entre todos eles, à volta de questões como o nomadismo dos músicos e das músicas, o cosmopolitismo cultural, os usos da tecnologia, os paradoxos da improvisação.

O Bestiário Ilustríssimo é enriquecido pelas ilustrações de Joana Pires e pelo grafismo de João Cunha, numa edição da Chili Com Carne, designadamente na colecção THISCovery CCChannel, fruto de uma parceria desta editora com a associação de músicos Thisco.

Se o mundo não acabar em 2012, e tudo indica que sim, ou pelo menos que Portugal vai pelo cano, talvez daqui a dois ou três anos haja um segundo volume do Bestiário Ilustríssimo. Se afundarmos, verei se a minha terra, Moçambique, ainda existe e irei para lá, largando a escrita e a música. Tenho um amigo no Maputo que vende retretes. Merda por merda, optarei pela propriamente dita, ajudando-o nesse trabalho�.