Ouvem-se as canções das Pega Monstro e é impossível ficar indiferente: ora são objecto da mais pura dedicação, ou alvo de um ódio irracional e abjecto. A bem da verdade, as únicas pessoas que se mantêm indiferentes às Pega Monstro são as próprias, porque o que fazem é apenas seu e de ninguém mais. Mentalidade de gangue, uma postura que a cultura da Internet ensinou, ou apenas antiga, saudável atitude punk, transportada para a década onde o lo-fi controla os nossos ouvidos. As Pega e a Cafetra são tudo aquilo que eles próprios quiserem ser. Escolheram ser grandes.



Posto isto, o próximo fim-de-semana será de celebração; o duo prepara-se para lançar o disco homónimo de estreia, que já pode ser escutado no Bandcamp. Nas últimas semanas canções como "Carocho" ou "Dom Docas" - onde há gajas que gostam de levar na boca - têm feito os sorrisos de quem já era devoto e simultaneamente agregado novos fiéis. Na sexta-feira estarão pelo Plano B, no Porto, a tocar para gajas mais bonitas do que elas (ou não) juntamente com os compatriotas Kimo Ameba, que também editaram disco recentemente. No dia seguinte voltarão à cidade-natal para, no Kolovrat, destilarem feedback, melodias com sabor a um verão narcotizado e cânticos instantâneos ao lado de Putas Bêbedas. Tanto um como outro concerto são, naturalmente, imperdíveis; não só porque estamos a falar de uma banda que conquistou no último ano um lugar cativo na cena indie nacional, mas também de um pedaço de história da música feita por cá. Nós somos fiéis e por isso suspeitos: mas acreditamos, com toda a honestidade possível, que as crianças do futuro quererão ouvir estes discos. Daí que tenhamos ido falar, novamente, com as menin- perdão: elas não querem ser chamadas assim. Já têm vinte anos. E se não gostam, vão levar no a-

Quando e onde foi gravado o disco? O estado de espírito durante as gravações foi necessariamente diferente daquele do disco de Passos em Volta?

Maria: O disco de Passos foi gravado nos estúdios da Interpress, ali no Bairro Alto, e o horário normal de gravação era das 23h até às 5h, com direito a paragens para algumas jolas. Nesse sentido era mais tipo uma festa fixe mas conseguia ser mais esgotante e cansativo. O disco de Pega, pelo contrário, foi gravado em casa do B, num ambiente 5 mil vezes mais calmo e 7 mil vezes mais bonito que o Bairro e com um horário bem mais normal que o de Passos. Foram duas experiências de gravação diferentes mas ambas das melhores cenas que já fizemos.

O B Fachada teve algum input a nível de produção, ou agiu somente como engenheiro de som tipo Steve Albini?

Júlia: Sem dúvida que, de certa forma, participou activamente nas nossas músicas. Se tivesse sido outra pessoa não teria ficado o mesmo álbum.

A “Fetra” é para ser entendida como uma continuação da música com o mesmo nome do álbum de Passos? É para que os haters se calem de vez?

Ambas: Não, todas as bandas da Cafetra, até agora, têm uma música intitulada "Fetra" e nenhuma pretende ser uma continuação de outra. Estão só relacionadas pelo nome e pela editora. É como nos gangs, todos os membros têm uma tatuagem igual para se identificar.

Pode dizer-se que, muito por culpa da “Paredes de Coura”, vocês são a atracção principal da Cafetra. Não direi que sofrem qualquer pressão, mas este entusiasmo das pessoas reflecte-se depois, criativamente, na forma como pensam as canções?

Maria: Não. Não vemos as cenas dessa forma. Fazemos as músicas para nós e depois se o pessoal curtir ainda melhor. Não mudamos nem tentamos mudar a maneira de como pensamos nas canções por causa doutra cena sem ser nós mesmas.

Vão dar agora dois concertos, no Porto e em Lisboa. É a falta de tempo que vos impede de fazer uma tour mais alargada pelo país? Numa altura em que o tenham, é algo que estejam a planear fazer?

Júlia: Não é tanto por falta de tempo, é por falta de oportunidade. Não é algo fácil de planear; não é costume os sítios pagarem despesas tão elevadas como viagens de 100 a 300 Km. Portanto, respondendo à segunda, estamos sempre à espera de fazer uma mais alargada, seja com Os Passos em Volta, Pega Monstro ou outra banda da Cafetra.

Se o Jay Reatard voltasse ao mundo dos vivos e quisesse fazer uma cover de uma canção vossa, qual é que acham que ele escolhia?

Amas: Se ele fizesse da "Dom Docas" era brutal, por estar vivo e por curtir Pega!

Entre 2 Stupid Dogs e Cow & Chicken, que série completa em DVD levavam para uma ilha deserta?

Maria: Cow & Chicken, só pela música do genérico.



Pega Monstro no Plano B, dia 9, c/ Kimo Ameba, pelas 23h, entrada 5€. Dia 10 no Kolovrat 79, c/ Putas Bêbedas, às 22h, mesmo preço.