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Que TRAMA é este que assalta a cidade do Porto com música e outras artes?
· 13 Out 2011 · 16:39 ·


Na sua 6ª edição, o Trama - Festival de Artes Performativas, programado em parceria com a Fundação de Serralves, a Matéria Prima, o brrr _ Festival de Live Art, apresenta um mundo de propostas em estreia nas áreas da da dança, da performance, do teatro, do cinema e, e é aí que nós entramos, da música. Os espaços são muitos – de Serralves ao Museu Militar passando pelo Hotel Dom Henrique, o Estúdio Zero, o Silo-Auto, o Centro Português de Fotografia, a Livraria CE Latina, a Loja do nº 90 da Rua Cândido dos Reis, o Coreto da Cordoaria e o Passos Manuel – e as propostas são ainda mais. Para conhecer melhor a trama deste TRAMA, fomos falar com Pedro Rocha, um dos programadores do TRAMA. A entrevista diz tudo. Agora façam as vossas escolhas.



Mudou muito na cidade do Porto desde que o Trama começou. Sentes que o festival mudou também com a cidade?

A primeira edição do Trama foi em 2005. Estruturas culturais e urbanas que hoje consideramos parte nuclear da vida da cidade como a Casa da Música ou Metro acabavam de iniciar actividade. Dinâmicas como a noite na zona dos Clérigos e de Cedofeita não existiam, nem várias estruturas recentes e a diversidade da oferta que hoje observamos. O Trama nasceu de um conjunto de vontades de mudar a vida cultural, qualitativa e quantitativamente, no centro da cidade marcado por uma forte desertificação. A proposta era então a activação concentrada no tempo de possíveis redes, percursos e sinergias em potência assim como da capacidade de os públicos se cruzarem e se disponibilizarem a se envolverem num projecto de cariz experimental que arrisca novas formas de criação artística e uma imersão cuidada na cidade. Hoje o centro da cidade tem uma vivência bem diferente. Mas, mascarado por baixo de uma vivência bastante lúdica e um crescimento do turismo, continua a subsistir uma tecido cultural e de criação artístico muito fragilizado que precisa urgentemente de ser reforçado e revitalizado. A centralização de diferentes ofertas em diferentes zonas da cidade e as dificuldades na mobilidade para algumas zonas também têm criado alguns fossos que dificultam uma maior integração de projectos mais periféricos mas igualmente essenciais. O Trama tenta assim observar a cidade e mudar com ela, por forma a responder a este tipo de problemáticas. È algo que é feito de forma bastante espontânea e que resulta da discussão e experiência da vivência corrente da cidade das partes envolvidas na organização do festival.

Sentes que a cidade sente o Trama como um dos grandes momentos artísticos anuais?

Acreditamos que sim. O sucesso das edições anteriores e a verificação de uma grande curiosidade e expectativa sobre a nova edição do festival ajudam-nos a acreditar que sim. O Trama é já reconhecido como algo de estrutural na oferta cultural da cidade, quer por parte de quem o organiza quer pelas instituições da cidade, pelos parceiros e pelos públicos.

Que linhas norteiam o Trama 2011? Continua a ter aquele cunho de desafio, de dar às pessoas aquilo que elas, de uma forma geral, não consumem diariamente?

As linhas que norteiam o Trama têm-se mantido ao longo de todas as edições. Para além de aspectos já mencionados anteriormente, mantém-se a carácter performativo, o perfil experimental, a organização de percursos na cidade, o cruzamento de públicos e de agentes culturais, a realização com base em parcerias, a programação nacional e internacional, a dimensão ‘site-specific’ e uma grande dose de risco. Na edição de 2011 reforçamos o envolvimento com a comunidade artística local, quer convocando as escolas especializadas para parceiros de vários eventos (chamando inclusivamente os alunos a integrarem algumas das propostas, ou também pela colaboração na criação de blogs de crítica, entre outras iniciativas), quer com a realização de projectos que implicam a participação de artistas do Porto.

O festival lança a si mesmo todos os anos novos objectivos, de números ou de impacto? Quais são os grandes objectivos para este ano?

Não estabelecemos objectivos quantitativos para o festival, e acreditamos que as repercussões não estão linearmente ligadas a números ou ao carácter imediato de um impacto. A consolidação de um património cultural faz-se segundo muitos eixos, alguns bastante invisíveis mas bem mais consequentes. A estruturação da “musculatura†da cultura e da criação artística de uma cidade não deve ser perspectivada ou observada simplesmente num plano de impacto imediato. Tal como no nosso corpo, é preferível estruturar músculos com fibras mais consolidadas, que apesar de não serem tão exuberantes no volume, possam resistir mais, ser mais ágeis e responder melhor aos desafios futuros. Os objectivos do Trama passam por este trabalho de continuidade, sempre iluminado por uma observação atenta da cidade.

Que grandes destaques musicais farias desta edição?

As características das propostas musicais são tão diversas que será sempre ingrato destacar umas em relação a outras. Chamo também a atenção para o facto de muitas das propostas habitarem o limbo menos fácil de definir em termos disciplinares que é o da arte sonora (uma linha de programação que vem de encontro ao perfil experimental do festival). Assim sendo, em termos de música tanto temos a exuberância das canções excêntricas de Ergo Phizmiz como as frágeis composições electroacústicas de Cathy van Eck, ou a geometria electrónica de Robin Fox visualizada de forma espectacular pela convergência sinestésica dos raios laser. A participação de um nome histórico como Sven-Ake Johansson que nos honrará com as suas performances onde explora de forma exímia as qualidades sonoras e cénicas de objectos tão mundanos como caixas de cartão e extintores de incêndio é motivo para grande orgulho nosso. E também as explorações da gestualidade instrumental nos projectos de Andrea Neumann (com convidados do porto) e de Chikashi Miyama poderão constituir momentos surpreendentes na programação do festival. Destaca-se, obviamente, a instalação participativa de grande escala de Lucas Abela “Vinyl Rally†onde teremos a oportunidade de conduzir carros telecomandados equipados com agulhas de gira-discos sobre uma pista construída com discos de vinil.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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