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O X marca o caminho
· 10 Mai 2011 · 21:02 ·


Ray Cappo passou por Lisboa na 6ª-Feira, dia 6. O palco do Santiago Alquimista, em Lisboa, foi partilhado pelo público de duas bandas fundamentais no movimento Straight-Edge: os X-Acto estiveram bem presentes, num tributo intenso à formação que marcou os anos 90 portugueses, e os míticos Youth Of Today provaram que os bons velhos tempos são agora. Após um longo interregno – depois de abraçar o Movimento Hare Krishna, Cappo fundou bandas como os Shelter e Better Than a Thousand –, o ícone do Hardcore positivo nova-iorquino fez-se novamente à estrada com os YOT. Na curta conversa que se segue mostra que os valores que o guiaram desde o início da caminhada continuam bem vivos.

Durante o concerto disseste que estiveste em Lisboa há cerca de dez anos (com Shelter, no Paradise Garage, em 2001), mas sentiste que apenas se tinha passado um dia. Quando estás ligado às pessoas não importa quanto tempo passou desde a última vez, é isso?

Nem mais. Eu e o Purcell (guitarrista de YOT) somos amigos há muitos anos, e em todos os sítios a que regressamos encontramos pessoas que não vemos há que tempos. Mesmo em Nova Iorque, quando encontramos malta que já não víamos há séculos, é como se estalasse os dedos e não tivesse havido esse hiato. Como se tivéssemos estado juntos na véspera. Isso mostra quão forte e profunda é a ligação que se estabeleceu. É agradável que isso se verifique. E acontece-nos um pouco por todo o mundo.

Foi isso que se passou com a reunião dos Youth Of Today?

Youth Of Today é uma extensão e semente do que sou hoje. As letras fizeram de mim o que sou actualmente. Canto estas canções e, embora elas não sejam 100% representativas da minha vida actual, continuo a ser straight-edge, vegetariano e a ter uma atitude positiva. E estou cada vez mais imbuído desses valores do que nunca.

A propósito desse estilo de vida positivo e saudável, continuas a fazer surf?

Não tanto nos últimos anos. Havia um sítio na Costa Rica em que estava sempre a surfar. Mas desde que voltei a viver em Nova Iorque, há cerca de quatro anos, que os meus dias de surf têm sido muito limitados (risos). A última vez que fui para dentro de água foi com uma paddle board.

Hoje também disseste que não sabes cantar lá muito bem. O Hardcore também passa por mostrar que qualquer um pode fazer música, não é?

Sim, foi isso mesmo que me inspirou a fazer música. Não foi atingir a perfeição em termos musicais, mas tocar com o coração. E consegues perceber quando isso acontece. Eu sei quais são as pessoas que sabem cantar, e eu não sou uma delas. As pessoas que sabem cantar adoram ir para estúdio gravar. Eu odeio. Fico sem voz, mesmo nas tournées. É por isso que estou aqui a chupar estes Halls (risos).

As letras do Hardcore remetem muitas vezes para valores como a Justiça. Como concilias isso com a tua evolução ao nível espiritual?

Acredito que a Justiça acaba sempre por ser feita. Há sempre um equilíbrio de poderes. Quando há ganhos também existe sofrimento. Quando alguém ataca provoca uma reacção. Pode não parecer, no curto prazo, mas o Universo encontra-se sempre num equilíbrio perfeito. Sempre.

Hugo Rocha Pereira
hrochapereira@bodyspace.net

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