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Tyler, the Creator lança-se no mundo das editoras com single arrepiante
· 24 Fev 2011 · 18:09 ·


O fascínio imediato para com os putos do Odd Future Wolf Gang Kill Them All, prende-se inicialmente com a bizarria que deriva dos seus propósitos. Um manifesto de intenções tão vazio de um conceito per se (o que constitui uma vantagem) quanto impenetrável na sua essência depravada. Deixando no ar uma desconfiança subliminar quanto ao facto de tudo isto se tratar de um embuste. De qualquer das formas, os miúdos ganham no final. A piada estava em nós, e na persistência para conjecturar o que não existe. Claro que tudo isto nunca teria originado tanto falatório, não fossem essas intenções apresentadas de um modo tão genuinamente ousado e criativo, em sentido contrário ao racionalismo absurdo/onanista de grande parte do hip-hop mais aventureiro. Ou algo tendencialmente repulsivo a funcionar enquanto alavanca para que se regresse a um estado de fascínio quase primitivo. Sustentada por uma estratégia de marketing convenientemente adaptada à Web 2.0., a ascensão do colectivo de LA tem vindo a ser meteórica, alimentada por um tumblr em actualização constante, sem medos de expor todas as suas características de um modo quase caricatural na sua aparente ingenuidade (pense-se num paralelo com o Lil B), que (dependendo do ponto de vista) pode ser tão ridículo quanto brilhante. Até agora, a coisa tem corrido bem.

A opção pela oferta de mixtapes como Radical, Earl ou BASTARD, constituiu um meio de promoção tão óbvio quanto eficaz para que a imagem passasse de modo adequado sem a intrusão de filtros, mas estava já latente um potencial comercial claro para o Odd Future, que levaria ao (tão desejado, supõe-se) contrato discográfico. A passagem do "líder" Tyler, the Creator para a XL Recordings é, contas feitas, uma transição perfeitamente óbvia e natural. Sem se desviar da sua imagem de marca: "Yes, I Did A One Album Thing With XL. Thats Family. Don't Trip, Still Have %100 Creative Control Over Raps, Beats, Videos, Covers. Fuck You.", pode-se ler no seu Twitter. "Yonkers" segue a mesma via.

Primeiro single de avanço para Goblin (a editar em Abril), "Yonkers" cristaliza as suas melhores produções mantendo-se fiel às distintas matrizes sonoras que caracterizam grande parte do processo de opressão que leva a cabo. Numa linhagem com toda a placidez tensa de The Infamous ou da produção do DJ Premier para The Sun Rises in the East do Jeru the Damaja, amplificando o horror latente sem o forçar de modo tão agreste como acontecia em "French". Liricamente, assenta nestes arraiais de desespero, manipulando a voz com recurso a um pitch mais grave, como que a enfatizar toda a profundidade. Numa performance arrepiante, cuja consequência directa tem lugar na simplicidade do vídeo, onde os adereços se assumem como um capricho superficial perante toda a loucura que emana da prestação do rapper. O final é aquele choque gratuito, só para deixar vincada a ideia de que algo não está bem na cabeça deste rapaz. O que podendo não ser verdade, não deixa de trespassar de um modo demasiado convincente.
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com

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