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António Contador fala de “Dropâ€, o novo vÃdeo de Gala Drop, e do sentimento “no punch†na sua música
· 24 Nov 2010 · 14:53 ·
Sem deixar arrefecer o ferro, que está quente desde o lançamento de Overcoat Heat, os Gala Drop revelaram o primeiro vÃdeo associado ao seu novo EP. A escolha recaiu sobre “Drop†e o vÃdeo é da responsabilidade de António Contador, artista português de clubismo complexo, que tem documentado os gestos utilizados para todo o tipo de assobios possÃveis, entre outras mil coisas, no seu próprio site. Em “Dropâ€, António Contador ajeita as ondas da Praia da Rocha aos loops e ritmos dos Gala Drop, num romance de verão bonito de se ver. Lá fora as palmeiras continuam a florescer, mas, por cá, este é o ano do mar que bate na rocha. António Contador falou-nos do vÃdeo de “Drop†e dos seus discos “roubadosâ€, numa breve conversa, que surge aqui na Ãntegra.
Uma das coisas que mais gostei no vÃdeo é o facto de não ter um tempo certo, apesar especificares muitas vezes a data dos teus trabalhos. Aparecem por lá umas pessoas, mas acho que não arriscaria um ano. Eras capaz de me contar um pouco mais sobre a origem daquelas imagens e dos aspectos técnicos? Como enquadrarias o vÃdeo no que andas a fazer ultimamente?
Pois é, fica-se na dúvida. Confesso que quis que o vÃdeo fosse só paisagem marÃtima eloquente, como aquela da costa algarvia. Os planos com as pessoas, que, apesar de tudo, mal se distinguem (não tendo assim tanta implicação no desenrolar do vÃdeo - na sua narrativa), eram importantes pelo resto da imagem, pelo que a imagem mostra apesar das pessoas estarem presentes.
O vÃdeo é todo feito com material do meu arquivo de filmes em super 8. Esse arquivo é composto por filmes amadores que compro na net e nas feiras de antiguidades e velharias aqui em Paris. Os 'filmadores' como eu os chamo, os que filmaram as imagens desses filmes, são alemães, franceses, belgas,... alguns portugueses. Tenho portanto acumulado muitos metros de fita em formato Super 8 que não gravei mas que acabei por adquirir e que irei utilizar num contexto de performance e talvez de instalação brevemente, onde apresentarei cada filmador e a sua obra destruindo-a no final. As imagens do vÃdeo de “Drop†vêm desse arquivo que digitalizei. Não digitalizo tudo, mas estas imagens por acaso foram-no. Estas que deram origem ao vÃdeo foram filmadas em 1967 por um casal alemão castiço num cenário que me é particularmente querido : Alvor/Praia da Rocha.
Nestes dias parece que são os poucos os vÃdeos sem praia e mar. Brincaste um pouco com essa tendência? Não sentiste qualquer preocupação em relação a isso?
Não vejo assim tantos vÃdeos. Não fazia ideia dessa tendência.
Em que altura foste convidado para fazer o vÃdeo? Além da banda e do pessoal da Golf Channel, terás sido das primeiras pessoas a escutar a “Drop†na sua mistura final, não? Conhecer a música desde cedo ajuda na edição?
Não fui convidado e não ouvi antes! A imagem usada no disco fez-me lembrar aquelas imagens algarvias. O disco e essa música em particular embalaram-me muito. Fiz o vÃdeo quase num só lance. Mostrei-o ao Nelson. Ele curtiu, o resto da banda também. E pronto. Ouvi pela primeira vez o tema no concerto que eles deram cá em Paris há uns tempos e gostei muito. Na sua versão final está ainda mais potente. Sinto-me muito ligado a essa música e ao imaginário dos Gala Drop: uma portugalidade mestiça, bem consigo, urbana com os pés assentes na areia.
Fala-me um pouco do disco que tens pronto. Esperas lançá-lo de alguma forma?
Antes desse vou lançar outro que será na verdade uma reedição. A Flur associou-se à ideia de ir lançando discos meus com regularidade. Estou contente por isso. Com regularidade, porque continuei a fazer música mesmo que não a editasse com regularidade e porque compro muita música nas feiras de velharias e nas vendas de caridade nas paróquias e igrejas parisienses. Compro 7 polegadas sobretudo que me inspiram muito e que roubo integralmente nalguns casos. Aliás, a ideia para as minhas composições é em parte a de fazer sampling integral das músicas e de as usar assim na Ãntegra em meu nome: em vez de só sacar alguns trechos, extraio toda a música e recontextualizo-a ao lado de outras que compus mesmo ou em parte. Sendo que o fio condutor para a escolha das músicas integralmente sampladas e para a criação das minhas é um sentimento de "no punch" (em português dir-se-ia: não ata nem desata!) que elas têm. A minha música é assim: não ata nem desata. Percebi que a sua força era isso mesmo! Uma força tão taciturna como aquela que usas para pôr um pé à frente do outro para poderes andar.
Miguel ArsénioUma das coisas que mais gostei no vÃdeo é o facto de não ter um tempo certo, apesar especificares muitas vezes a data dos teus trabalhos. Aparecem por lá umas pessoas, mas acho que não arriscaria um ano. Eras capaz de me contar um pouco mais sobre a origem daquelas imagens e dos aspectos técnicos? Como enquadrarias o vÃdeo no que andas a fazer ultimamente?
Pois é, fica-se na dúvida. Confesso que quis que o vÃdeo fosse só paisagem marÃtima eloquente, como aquela da costa algarvia. Os planos com as pessoas, que, apesar de tudo, mal se distinguem (não tendo assim tanta implicação no desenrolar do vÃdeo - na sua narrativa), eram importantes pelo resto da imagem, pelo que a imagem mostra apesar das pessoas estarem presentes.
O vÃdeo é todo feito com material do meu arquivo de filmes em super 8. Esse arquivo é composto por filmes amadores que compro na net e nas feiras de antiguidades e velharias aqui em Paris. Os 'filmadores' como eu os chamo, os que filmaram as imagens desses filmes, são alemães, franceses, belgas,... alguns portugueses. Tenho portanto acumulado muitos metros de fita em formato Super 8 que não gravei mas que acabei por adquirir e que irei utilizar num contexto de performance e talvez de instalação brevemente, onde apresentarei cada filmador e a sua obra destruindo-a no final. As imagens do vÃdeo de “Drop†vêm desse arquivo que digitalizei. Não digitalizo tudo, mas estas imagens por acaso foram-no. Estas que deram origem ao vÃdeo foram filmadas em 1967 por um casal alemão castiço num cenário que me é particularmente querido : Alvor/Praia da Rocha.
Nestes dias parece que são os poucos os vÃdeos sem praia e mar. Brincaste um pouco com essa tendência? Não sentiste qualquer preocupação em relação a isso?
Não vejo assim tantos vÃdeos. Não fazia ideia dessa tendência.
Em que altura foste convidado para fazer o vÃdeo? Além da banda e do pessoal da Golf Channel, terás sido das primeiras pessoas a escutar a “Drop†na sua mistura final, não? Conhecer a música desde cedo ajuda na edição?
Não fui convidado e não ouvi antes! A imagem usada no disco fez-me lembrar aquelas imagens algarvias. O disco e essa música em particular embalaram-me muito. Fiz o vÃdeo quase num só lance. Mostrei-o ao Nelson. Ele curtiu, o resto da banda também. E pronto. Ouvi pela primeira vez o tema no concerto que eles deram cá em Paris há uns tempos e gostei muito. Na sua versão final está ainda mais potente. Sinto-me muito ligado a essa música e ao imaginário dos Gala Drop: uma portugalidade mestiça, bem consigo, urbana com os pés assentes na areia.
Fala-me um pouco do disco que tens pronto. Esperas lançá-lo de alguma forma?
Antes desse vou lançar outro que será na verdade uma reedição. A Flur associou-se à ideia de ir lançando discos meus com regularidade. Estou contente por isso. Com regularidade, porque continuei a fazer música mesmo que não a editasse com regularidade e porque compro muita música nas feiras de velharias e nas vendas de caridade nas paróquias e igrejas parisienses. Compro 7 polegadas sobretudo que me inspiram muito e que roubo integralmente nalguns casos. Aliás, a ideia para as minhas composições é em parte a de fazer sampling integral das músicas e de as usar assim na Ãntegra em meu nome: em vez de só sacar alguns trechos, extraio toda a música e recontextualizo-a ao lado de outras que compus mesmo ou em parte. Sendo que o fio condutor para a escolha das músicas integralmente sampladas e para a criação das minhas é um sentimento de "no punch" (em português dir-se-ia: não ata nem desata!) que elas têm. A minha música é assim: não ata nem desata. Percebi que a sua força era isso mesmo! Uma força tão taciturna como aquela que usas para pôr um pé à frente do outro para poderes andar.
migarsenio@yahoo.com