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Estratégias para uma estreia
· 16 Jul 2010 · 19:18 ·
Dada a escassez de registos perenes na Uk Funky, a ansiedade em torno do álbum da Katy B começa já a ganhar contornos épicos para uma estreia. Justificada, entenda-se. Num género em sentido contrário à postura diva do R'n'B ou da House norte americana, a Katy B será, a par da Princess Nyah, a vocalista mais emblemática num género pouco dado a acrobacias vocais. Tratar-se-á também do primeiro álbum vocal do género, depois de discos de produtor como Volumes 1 do Geeneus ou Rinse presents : Roska, por uma persona até agora irrepreensível em tudo aquilo que tocou. “As I” ou “Tell me What it is” são já clássicos absolutos. Dado o seu papel fulcral na identidade vocal do género e as notícias que davam o Geeneus e o Zinc como produtores principais do álbum, não deixa de ser intrigante a escolha de “Katy On a Mission” para primeiro single. Poderá até cumprir a função de manifesto de intenções, mas não deixa de soar desajustado com tudo aquilo que está para trás.

Uma outra explicação poderá residir numa tentativa de crossover entre diferentes públicos, com a produção do sobrevalorizado Benga (Afro Warrior era, acima de tudo, aborrecido) a servir de chamariz para malta do dubstep, regra geral, indiferente a movimentações mais hedonistas e/ou calorosas. Tendo em conta que a possibilidade deste plano singrar está longe de se confirmar, teria sido preferível aproveitar o reconhecimento de “Wile Out” e recorrer a “Lights On” com a Ms. Dynamite para primeiro single.

Apesar de se tratar de dubstep mid-tempo genérico, o tema não deixa de revelar algumas virtudes. Os sintetizadores são os mais interessantes vindos do Benga em muito tempo, mesmo que enredados em torno de uma batida já demasiado batida (só para o jogo de palavras foleiro), na linha dos padrões de algo como “Pleasure” ou “Go Tell Them”, mas ainda assim com alguma capacidade galvanizadora. É também revelador da versatilidade da voz da Katy B, afastando-se do gozo plácido da refix de “Goodlife”, sem com isso revelar alguma quebra de confiança, e sem encetar uma prestação épica em nada coadunante com aquilo que se lhe reconhece. Bom senso.

Bom senso esse que permeia também o vídeo. Eficiente nessa mesma procura de um efeito de chamada-resposta para a dança e cheio de cameos de thugs do grime como o Jammer. E com os necessários valores de produção para passar a mensagem. Katy está, certamente, numa missão. O meio é que desilude. Não só pela mediania do tema, como por deixar latente a ideia de que o álbum poderá recorrer a soluções dubstep de carácter formulaico, quando seria previsível algo bem mais relevante. A resposta para estas questões terá o selo da Rinse (naturalmente) e espera-se pacientemente. Por vezes, não existe mal nenhum em refrear os ânimos.

Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com

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