RETRO MANÍA
O lar, prolífico lar, de Dwight Sykes
· 09 Jan 2014 · 23:25 ·
Entre num mundo maravilhoso de DIY-VHS soul.

Hoje em dia há uma certa moda em torno da recuperação dos anos oitenta, dos jogos Spectrum aos relógios Casio, das VHS às audiocassetes para ouvir no Walkman (xi saudade das minhas TDK que não se estragavam!). Foram realmente anos de enorme inovação tecnológica que pavimentou o mundo em que vivemos hoje e ao mesmo tempo, dado o obsolutismo da maior parte dos seus ícones, acrescentando o facto da minha infância ter sido nessa década, torna-a em duas mãos cheias de anos imbatíveis no que toca a revivalismo sentimental.
Mas adiante. Musicalmente foram também anos de DIY, fruto da ressaca do minimalismo punk e das japonesices nos teclados, com Casio e Yamaha em fartura em vez de Moogs e Fender Rhodes. Começou-se a gravar muito mais em casa, o comum dos mortais-músico surgiu em força. Mas não com tanta força como nos dias de hoje, pela simples razão que as editoras mandavam muito na altura. Não havia internet, nem mp3 para divulgar trabalho, nem youtube para os vídeos se espalharem.
Por isso génios perdidos como R. Stevie Moore produziram tanta coisa sem darem nas vistas, esperando décadas para ver isso acontecer, advento desta sociedade da informação em que vivemos.
Daí um músico como Dwight Sykes ter passado ao lado numa época em que os Ariel Pinks, Frank Oceans e Blood Oranges da vida nunca entravam nos topes de fim de ano. Para ajudar à festa, Dwight, além de música electro-soul “tão dois mil e qualquer coisa”, começou nos anos 90 e continuou por meados de 2000 a fazer vídeos caseiros para estas suas músicas, onde mostra a sua realidade familiar e dos afro-americanos no seu estado de Michigan de onde é nativo. Entretanto, de há uns anos para cá, anda a colocá-los no youtube com o nickname “227sportycat”. Uma pilha de sonhos VHS, com efeitos básicos em fartura; mais retro é impossível, ainda para mais ao som de temas fantásticos como o hipnagógico-funky “The Good Times”, ou “In The Life Zone” aqui com vocais do seu amigo Bobby Lewis, “That’s the Way Love Is” com voz de uma tal de Paula Smith, ou instrumentais ao nível da melhor banda sonora de Jan Hammer, como “After Midnight”, “Where Ever You Are”, entre tantos clássicos perdidos, alguns, todos entre 1980 e 90, recuperados numa colectânea saída no ano recentemente passado pela Peoples Potencial Unlimited. Uma pequena percentagem da enorme quantidade de faixas e vídeos caseiros que encontrarão só no youtube. Como R. Stevie Moore, este rei da Lo-fi-soul era prolífico como qualquer génio com um Tascam-464 de quarto pistas no conforto do lar costuma ser.
nunleal@gmail.com
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