RETRO MANÍA
Emmène moi très très loin
· 06 Fev 2013 · 21:05 ·
A história dos Air France foi demasiado curta, mas tal não significa que não mereça ser contada; eis uma das melhores bandas de sempre a nunca ter editado um disco.

Treze canções. Pensem bem nisto: treze escassas canções (omita-se "Introduction", faixa que abre On Trade Winds e que não é exactamente uma canção per se), entre dois EPs e menos de uma mão cheia de singles que, tudo somado, não chegam sequer a uma hora de música. Normalmente, uma banda com um corpus desta dimensão não poderia aspirar sequer a ser uma nota de rodapé na história da música pop, mas os Air France, duo sueco que viveu entre 2006 e 2012, foram especiais. Não só porque ajudam a compreender um pouco melhor aquilo que foram as novas tendências da electrónica nos últimos anos (está aqui tudo aquilo que fez da chillwave a chillwave: sons nostálgicos, imagética coada por um filtro oitentas/noventas, a memória difusa da infância, música para dançar e relaxar em quantidades exactas), mas porque cada qual dessas canções, todas elas mostrando uma produção excepcionalmente rica e um gosto descarado por aquilo que torna a pop um complemento mais do que necessário para que tenhamos uma vida plena de felicidade, entra directamente para a categoria das melhores canções criadas na era da globalização e comunicação; seja o tom higher than life de "June Evenings", a experiência rave da magnífica "Karibien", ou o dub extrovertido de "Afraid You Told Someone About Us". Aos Air France não faltou absolutamente nada para serem considerados um caso sério de genialidade - excepto, talvez, um LP, de entre os sete que eles dizem, na sua nota final, ter deitado fora por não estarem "suficientemente bons". E, vendo bem as coisas, foi esse o seu único erro, o de ter prestado tanta atenção ao detalhe e à pura perfeição pop que foram vítimas dessa mesma ambição criativa. Não mais ouviremos os Air France - nem se uma hipotética reunião de repente surgir: nessa situação não seriam já os Air France que conhecemos e amamos, a banda que em seis anos encheu a pop electrónica de sol, algo que só os Saint Etienne (uma influência chave) haviam conseguido no clássico Foxbase Alpha e em muito do output que se lhe seguiu. Treze canções. Treze, esse número temido. Chamou-se a esta secção Retromania, e é irónico que eu esteja neste momento a abordar uma das bandas, senão A banda, que mais simbolizou esse gosto de transformar o passado, através dos ritmos, dos teclados, dos samples dos Happy Mondays ou de Lisa Stansfield. Podem ter terminado mas continuarão a levar-nos para onde quisermos.
pauloandrececilio@gmail.com
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