RETRO MANÍA
Sandy Bull
· 30 Jun 2014 · 19:21 ·
Glorioso Sandy Bull, um xamã imenso.


Com nome de furacão e apelido taurino, Sandy Bull é um dos nomes fortes da Vanguard, um guitarrista norte-americano virtuoso e catedrático da folk que, para nossa felicidade, viveu intensamente os anos da experimentação hippie. Este E Pluribus Unum de 1969 tem a magia do Benfica dessa época. Ele demonstra tecnicamente - como em vários discos antes – que era um Eusébio da guitarra, tal como Robbie Basho, John Fahey e Leo Kottke serão George Best, Garrincha e Pelé respectivamente. Perdoem-me estas comparações atacadas pelo bichinho do Mundial, mas quiçá poderá ser uma forma mais leiga-friendly de explicar o tamanho da imortalidade destes homens no contexto da história da música.

Regressando ao disco em si, esta é a obra mais adjectivável, no bom sentido, de Sandy. A mais experimental, mais narcótica, mais “fora”, mais contemporânea, mais estranha. A que mais oiço. Duas faixas longas, entre ritmos quase não percussivos, que oscilam entre folk, blues e música do norte de África, sem virtuosismo a rodos, tudo mais pacífico, relax, criando ambiente, transe, com a paleta de cores acústicas, entre violas e oud, a entranharem-se devagarinho com guitarras eléctricas e baixo, tudo acompanhado sempre por uma maravilhosa “haze” de “overdubs” e “delay”. Como fumo de uma “shisha” ou “hookah”, como preferirem. Este é um disco que Jerry Garcia deve ter ouvido no “after”, para relaxar. Que Michael Karoli dos CAN ouviu de certeza, tanto que foi buscar este mesmo efeito que acompanha o disco do princípio ao fim, para a base do clássico tema “Future Days” do álbum homónimo.

Ou seja, poucos anos mais tarde, de 69 a 73 são 4 precisamente 4, os alemães + o japonês maluco soaram a Sandy Bull abduzido por humanóides vindos do futuro. No lado B, apropriadamente “Electric Blend” porque as coisas electrizam um pouquinho na verdade, é quando a ideia de esta ser uma peça chave para a posterior inspiração “krautrock” surge com mais fumarada. E é irónico E Pluribus Unum soar a CAN, porque ambos mais do que do futuro naquela época, são de hoje mesmo, sem soar a antigo, por outras palavras, “malta que estava décadas à frente do seu tempo.”



Nuno Leal
nunleal@gmail.com

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