RETRO MANÍA
Há absinto no Bar Mitzvah: The Churchills
· 09 Set 2013 · 11:00 ·
Israel psicadélico pré-pré-pré-Infected Mushroom.


Ironicamente, um esquecido das listagens-bíblias do psicadelismo veio diretamente de terras bíblicas: The Churchills. Resquícios de Beatlemania, jams e Zombies yiddish, que muito fez abanar o quipá no ano em que saiu: 1969. A relativamente vizinha Turquia já nos tinha dado exemplos de como o Médio Oriente curtiu bem os sessentas, por isso até nem é assim tão surpreendente que o ocidentalizado Israel, ainda por cima, hoje uma nação de fãs do trance, tenha curtido as delícias da música tóxica. E este disco era para ser um clássico mundial, tinha tudo para o ser. Trocava o hebreu pelo inglês, e contou com o guitarrista dos The Tornados (!) de 1966 a 67: Robb Huxley. Convidado pelo outro estrangeiro da banda, o vocalista canadiano Craig Solomon, que chamou Robb quando dois outros membros da banda foram para a tropa. 
 
De certa forma ficou esquecido nos confins do Médio Oriente, apesar de cheio de ecos de gente sua contemporânea, longínqua e com relativo sucesso, como Pink Floyd, Love, Doors, Zombies. Ter um discípulo de Joe Meek na guitarra explica muita coisa. The Churchill’s, esse homónimo fruto é um fiel seguidor dos Dez Mandamentos do rock psicadélico, assim de cabeça — fuzz, reverb, eco, delay, theremin, jam, groove, wah-wah, tribalismo e letras lisérgicas (podem ser outros, aceitam-se críticas) — por vezes com um toque judaico explosivo. Serem de Israel confere um certo mau gosto ao adjetivo da analogia, mas quando ouvirem o disco, vão entender e perdoar-me certamente.
 
Esse toque é que lhe dá um extra-Nuggets "feel" incomparável. “Subsequent Finale”, por exemplo, é mesmo explosiva, bombástica, com arraiais assentes numa melodia tradicional com arranjo pop, que vai crescendo numa groove monstruosa, até se tornar uma jam “kosher” de propulsão imparável, uma espécie de Hebron Duul II. Em “When You’re Gone” e “Debka” temos a mesma veia etnodélica embora mais temperada, já “Pictures In My Mind” sabe a pita shoarma com uma intro entre os 13th Floor Elevators e os primeiros Hawkwind a aterrar nos Love em Jerusalém, ámen. Peace and love, que bem precisa aquela zona do mundo. “So Alone Today” surge carregado de efeitos de estúdio, oscilador, theremin, melodia do avesso, tudo nos conformes, pérola máxima. “Comics/It´s So Hard”, é uma espécie de irmandade dos Spirit californianos, com hard rock capaz de acordar o Mar Morto, ainda mais pesado em “Strangulation”. Se o deserto na Califórnia inspirou tanta gente, o que poderão dizer os israelitas, que crescem rodeados de ares do deserto? 
 










Nuno Leal
nunleal@gmail.com

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