Pluto + Terrakota
Universidade Nova, Lisboa
07 Out 2004
As tunas... ah... as tunas... uma das piores pragas do nosso país. Pronto, está dito. É claro que num arraial duma universidade, sempre que há um ou outro concerto de jeito, temos de aturar com as tunas. É um ritual a que não podemos fugir, mas costuma ser só uma ou duas tunas, a tocar muito pouco.
A Recepção ao Caloiro da Universidade Nova de Lisboa era muita coisa ao mesmo tempo: uma angariação de fundos para a Associação Gil, uma recepção ao caloiro e a apresentação do disco Bom Dia, dos portuenses Pluto, em Lisboa. É claro que, para um evento que começava às 9 da noite, os Pluto só vieram à meia-noite e pouco, depois de horas de tunas. Não sei quem são os programadores que acham que três horas de tunas são uma coisa de que muita gente gosta, mas vou arriscar-me a dizer a verdade: não são. É uma chatice, ninguém gosta daquilo, tirando os tipos que estão bêbedos em cima do palco a cantar e dizer baboseiras. É o espírito académico, é uma festa, é giro, mas porque é que nós temos de aturar aquilo?
Posto isto, os Pluto não são os Ornatos Violeta. Impunha-se a comparação. Manel Cruz e Peixe, ex-membros dessa mesma banda, passaram os últimos dois anos a ouvir Radiohead. O primeiro, idolatrado por um imenso culto, é um dos melhores escritores de canções e letristas portugueses. Não há volta a dar. O segundo é alguém que quis tornar-se um guitar god, depois de ter percebido que até tocava umas coisas. Falta-lhe a presença em palco, mas é um bom guitarrista. Para além destes dois, os Pluto são acompanhados por Eduardo, no baixo, e Ruka, na bateria. Ruka é um colosso da bateria, Eduardo safa-se bem, mas mais valia ficar calado a maior parte do tempo. Não precisamos de outra pessoa a cantar com Manel Cruz.
O que é curioso é a quantidade de pessoas que os Pluto movem. O culto dos Ornatos Violeta não é brincadeira, e, mesmo estando o campus de Campolide um pouco vazio, os gritos dos fãs por "MANEEEEEL!" ou "PEEEEEEEIXEEEE!" mostram isso mesmo.
Bom Dia, o disco de estreia dos Pluto, sai dia 18 de Outubro. A julgar por este concerto, neste disco a voz de Manel Cruz é tratada como só mais um instrumento, dando-se destaque à guitarra de Peixe. Daí este fazer um solo em quase todas as canções, algo que se torna um pouco cansativo. Mas as letras, as letras de Manel Cruz continuam lá. A língua portuguesa não é a língua mais usada por bandas de rock em Portugal: as bandas parecem ter medo de soar foleiras se cantarem em português. Manel Cruz não tem medo, mete o seu coração nas letras e o resultado anda à volta do muito bom e do satisfatório.
As canções são boas, mas estão sempre furos abaixo das canções dos Ornatos Violeta. "Só Mais um Começo", o single, e "Lição de Adição" destacam-se claramente. Como nos Ornatos, Manel Cruz gosta de praticar aquilo a que gosto de chamar "O rap Manel Cruz". Demonstra que, não sendo um grande cantor, é um óptimo vocalista. As canções dão quase sempre trechos instrumentais - umas vezes perfeitamente dispensáveis - onde o rock impera, parecendo por vezes que estamos a ouvir os Radiohead. E a qualidade dos músicos não é inferior, que fique bem claro.
Depois dos Pluto, subiram ao palco os Terrakota. Praticam uma fusão de reggae, ritmos africanos, latinos, asiáticos e muitas outras coisas. São bons músicos, sabem dar um bom espectáculo e pôr toda a gente (menos os miúdos indie, é claro, que preferem ficar a discutir o quão deprimentes são as suas vidas) a dançar. É um feito louvável, mas quase sempre as canções acabam por soar forçadas. Têm energia e divertem, mas nada de mais.
Um concerto inteiro a pôr tudo a dançar, e depois despedem-se com a apresentação dos músicos e solos de cada um. Francesco Valenti, também membro da Tora Tora Big Band, no baixo, é a estrela da banda em termos musicais, sendo quase a espinha dorsal da banda. O problema de uma banda como os Terrakota é que quem vê um concerto deles não precisa de ver mais. São todos muito parecidos, e mesmo que divirta bastante, não vale muito a pena rever.
Camané, Gomo e Miguel Ângelo, dos Delfins, entre outros, foram avistados antes do concerto de Pluto. Gosto de pensar que Camané, que no seu espectáculo Outras Canções cantava o tema "Ouvi Dizer" dos Ornatos Violeta, passou o concerto a fazer mosh e outras coisas, enquanto que Gomo e Miguel Ângelo olharam um para o outro no fim do concerto e disseram: "Foda-se! Então é isto que é o rock português!" Mas isso não deve ter acontecido. O que é garantido que aconteceu é um muito bom espectáculo rock duma banda que o que faz faz bem e "sabe que faz bem, bem, bem, bem, bem, bem, bem, meu bem" ("Lição de Adição").
A Recepção ao Caloiro da Universidade Nova de Lisboa era muita coisa ao mesmo tempo: uma angariação de fundos para a Associação Gil, uma recepção ao caloiro e a apresentação do disco Bom Dia, dos portuenses Pluto, em Lisboa. É claro que, para um evento que começava às 9 da noite, os Pluto só vieram à meia-noite e pouco, depois de horas de tunas. Não sei quem são os programadores que acham que três horas de tunas são uma coisa de que muita gente gosta, mas vou arriscar-me a dizer a verdade: não são. É uma chatice, ninguém gosta daquilo, tirando os tipos que estão bêbedos em cima do palco a cantar e dizer baboseiras. É o espírito académico, é uma festa, é giro, mas porque é que nós temos de aturar aquilo?
Posto isto, os Pluto não são os Ornatos Violeta. Impunha-se a comparação. Manel Cruz e Peixe, ex-membros dessa mesma banda, passaram os últimos dois anos a ouvir Radiohead. O primeiro, idolatrado por um imenso culto, é um dos melhores escritores de canções e letristas portugueses. Não há volta a dar. O segundo é alguém que quis tornar-se um guitar god, depois de ter percebido que até tocava umas coisas. Falta-lhe a presença em palco, mas é um bom guitarrista. Para além destes dois, os Pluto são acompanhados por Eduardo, no baixo, e Ruka, na bateria. Ruka é um colosso da bateria, Eduardo safa-se bem, mas mais valia ficar calado a maior parte do tempo. Não precisamos de outra pessoa a cantar com Manel Cruz.
O que é curioso é a quantidade de pessoas que os Pluto movem. O culto dos Ornatos Violeta não é brincadeira, e, mesmo estando o campus de Campolide um pouco vazio, os gritos dos fãs por "MANEEEEEL!" ou "PEEEEEEEIXEEEE!" mostram isso mesmo.
Bom Dia, o disco de estreia dos Pluto, sai dia 18 de Outubro. A julgar por este concerto, neste disco a voz de Manel Cruz é tratada como só mais um instrumento, dando-se destaque à guitarra de Peixe. Daí este fazer um solo em quase todas as canções, algo que se torna um pouco cansativo. Mas as letras, as letras de Manel Cruz continuam lá. A língua portuguesa não é a língua mais usada por bandas de rock em Portugal: as bandas parecem ter medo de soar foleiras se cantarem em português. Manel Cruz não tem medo, mete o seu coração nas letras e o resultado anda à volta do muito bom e do satisfatório.
As canções são boas, mas estão sempre furos abaixo das canções dos Ornatos Violeta. "Só Mais um Começo", o single, e "Lição de Adição" destacam-se claramente. Como nos Ornatos, Manel Cruz gosta de praticar aquilo a que gosto de chamar "O rap Manel Cruz". Demonstra que, não sendo um grande cantor, é um óptimo vocalista. As canções dão quase sempre trechos instrumentais - umas vezes perfeitamente dispensáveis - onde o rock impera, parecendo por vezes que estamos a ouvir os Radiohead. E a qualidade dos músicos não é inferior, que fique bem claro.
Depois dos Pluto, subiram ao palco os Terrakota. Praticam uma fusão de reggae, ritmos africanos, latinos, asiáticos e muitas outras coisas. São bons músicos, sabem dar um bom espectáculo e pôr toda a gente (menos os miúdos indie, é claro, que preferem ficar a discutir o quão deprimentes são as suas vidas) a dançar. É um feito louvável, mas quase sempre as canções acabam por soar forçadas. Têm energia e divertem, mas nada de mais.
Um concerto inteiro a pôr tudo a dançar, e depois despedem-se com a apresentação dos músicos e solos de cada um. Francesco Valenti, também membro da Tora Tora Big Band, no baixo, é a estrela da banda em termos musicais, sendo quase a espinha dorsal da banda. O problema de uma banda como os Terrakota é que quem vê um concerto deles não precisa de ver mais. São todos muito parecidos, e mesmo que divirta bastante, não vale muito a pena rever.
Camané, Gomo e Miguel Ângelo, dos Delfins, entre outros, foram avistados antes do concerto de Pluto. Gosto de pensar que Camané, que no seu espectáculo Outras Canções cantava o tema "Ouvi Dizer" dos Ornatos Violeta, passou o concerto a fazer mosh e outras coisas, enquanto que Gomo e Miguel Ângelo olharam um para o outro no fim do concerto e disseram: "Foda-se! Então é isto que é o rock português!" Mas isso não deve ter acontecido. O que é garantido que aconteceu é um muito bom espectáculo rock duma banda que o que faz faz bem e "sabe que faz bem, bem, bem, bem, bem, bem, bem, meu bem" ("Lição de Adição").
· 07 Out 2004 · 08:00 ·
Rodrigo Nogueirarodrigo.nogueira@bodyspace.net
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