Philip Jeck + Fennesz - Festival Hi-Teca
Teatro Carlos Alberto, Porto
18 Set 2004
Philip Jeck e o turntablism são indissociáveis, e a habitual parafernália de máquinas montada no palco mostrava-o de forma veemente. Cedo surgiram estranhas ambiências, ruídos vários e uma teia electrónica onde se coziam os sons de velhas Grafonolas, violinos dolentes que irrompiam directamente da dor, duas vozes quase cândidas semelhantes àquelas das CocoRosie se apenas tivessem surgido nos anos 60, sinos de igreja e o prenúncio de uma catástrofe natural. A música de Philip Jeck é portadora de uma tragicidade quase comovente – por vezes, as paisagens quase gélidas, paralisadas, pareciam anunciar a destruição, o apocalipse. De quando em vez, surgia de rompante um riff manhoso, devedor aos ensinamentos de uns Europe ou de qualquer uma das bandas que constam nas compilações dos anos 80 de gosto eminentemente duvidoso que pululam nos anúncios das televendas – e o resultado mostrou ser tão estranho quanto surpreendente. A manipulação de vários discos resultava na criação de diferentes atmosferas, em cascata, que se seguiam umas às outras criando uma sensação de evolução de cenários, de etapas.
A Philip Jeck seguiu-se o austríaco Christian Fennesz, autor do recentemente editado Venice. Depois de disparar a base electrónica, Fennesz foi adicionando com a sua guitarra pequenas partículas de orvalho, minúsculas gotículas, arrastadas concepções de uma manhã de nevoeiro. Atrás de si exibiam-se as imagens projectadas por Jon Wozencroft que mostravam uma casa amarela, paisagens mais ou menos abstractas mas acima de tudo cenários pintados por água e outros elementos da natureza – a música de Fennesz nasce da natureza e ganha, por si mesma, formas próprias capazes de projectar deslumbrantes panoramas. Há aqui pureza suficiente para se esculpir a mais bela das esculturas, para travar a mais dura das batalhas. Não há dor, mágoa nem tão pouco nostalgia. Há, sim, a sensação de uma evolução que não pode ser travada; a natureza tratará de fazer o resto.
A Philip Jeck seguiu-se o austríaco Christian Fennesz, autor do recentemente editado Venice. Depois de disparar a base electrónica, Fennesz foi adicionando com a sua guitarra pequenas partículas de orvalho, minúsculas gotículas, arrastadas concepções de uma manhã de nevoeiro. Atrás de si exibiam-se as imagens projectadas por Jon Wozencroft que mostravam uma casa amarela, paisagens mais ou menos abstractas mas acima de tudo cenários pintados por água e outros elementos da natureza – a música de Fennesz nasce da natureza e ganha, por si mesma, formas próprias capazes de projectar deslumbrantes panoramas. Há aqui pureza suficiente para se esculpir a mais bela das esculturas, para travar a mais dura das batalhas. Não há dor, mágoa nem tão pouco nostalgia. Há, sim, a sensação de uma evolução que não pode ser travada; a natureza tratará de fazer o resto.
· 18 Set 2004 · 08:00 ·
André Gomesandregomes@bodyspace.net
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